quarta-feira, 6 de novembro de 2024
terça-feira, 5 de novembro de 2024
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
domingo, 3 de novembro de 2024
OH AS CASAS AS CASAS AS CASAS
Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas
País possível, 1973
Ruy Belo
MATISSE, NUMA ENTREVISTA
sexta-feira, 1 de novembro de 2024
quinta-feira, 31 de outubro de 2024
O AMOR
“Já te disse que uma mulher deve ser conquistada permanentemente (...) Não te podes convencer que ela ficou conquistada no momento em que te aceitou, isso era só o prelúdio. O concerto vem depois e é aí que se vê a raça, o talento, do maestro. O amor é uma dialéctica cerrada de aproximação e repúdio, de ternura e imposição. Senão cai-se na rotina, na mornez das relações e, portanto, na mediocridade. Detesto a mediocridade! Não há nada pior no homem que a falta de imaginação. É o mesmo no casal, é o mesmo na política. A vida é criação constante, morte e recriação, a rotina é exactamente o contrário da vida, é a hibernação. Por vezes, o homem é como o réptil, precisa de hibernar para mudar de pele. Mas nesse caso a hibernação é uma fase intensa de autoescalpelização, é pois dinâmica, é criadora. Não a rotina. Evita a rotina no amor, as discussões mesquinhas sobre os problemas do dia-a-dia, procura o fundamental da coisa.” — PEPETELA