Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


sábado, 31 de dezembro de 2016

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

domingo, 25 de dezembro de 2016

“Everything comes to us that belongs to us if we create the capacity to receive it.”
~Rabindranath Tagore
Foto de Ico Bossa.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

uma vez caça, outra caçador

Para entender uma mulher
é preciso mais que deitar-se com ela…
Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa
que se possa prever nossa vã pretensão…

Para possuir uma mulher
é preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase
numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade… Há de se conseguir
fazê-la sorrir antes do próximo encontro

Para conhecer uma mulher, mais que em seu orgasmo, tem de ser mais que
amante perfeito…
Há de se ter o jeito certo ao sair, e
fazer da saudade e das lembranças, todo sorriso…

- O potente, o amante, o homem viril, são homens bons… bons homens de
abraços e passos firmes…
bons homens pra se contar histórias… Há, porém, o homem certo, de todo
instante: O de depois!

Para conquistar uma mulher,
mais que ser este amante, há de se querer o amanhã,
e depois do amor um silêncio de cumplicidade…
e mostrar que o que se quis é menor do que o que não se deve perder

Para amar uma mulher, mais que entendê-la,
mais que conhecê-la, mais que possuí-la,
é preciso honrar a obra de Deus, e merecer um sorriso escondido, e também
ser possuído e, ainda assim, também ser viril…

Para amar uma mulher, mais que tentar conquistá-la,
há de ser conquistado… todo tomado e, com um pouco de sorte, também ser
amado!

Carlos Drumond de Andrade

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Não olhaste para trás quando te despediste. Disse-te: Não és tu, sou eu. Eu sou o problema por resolver. Acho que também te disse: Conheci uma pessoa e mais dois animais. E podia ter dito outra coisa qualquer que te fizesse não querer voltar atrás. Preciso da solidão e a solidão procura-me. É só minha, só a mim pertence, mais do que tudo o resto que vem e vai, sempre de passagem. É a minha fortaleza que me vai defendendo com os seus altos muros dos afiados golpes do destino.

Acendo um cigarro que me sabe mal. Disse-te: Não és tu, sou eu. Sou sempre eu e não tenho escolha para além de mim. Nem os pés contra o chão de madeira disso me demovem. Contudo no meu caos interior vivem pessoas que poderiam vir a ser amigas, compatíveis e reconciliáveis. Por outro lado existem produtos defeituosos e almas frágeis com excesso de coração e pensamentos delirantes. Sim, tive-te demasiado em mim para  ter horas para mais alguém. Sinto mais conforto numa vida imaginada – infectada de ilusões, sonhos recorrentes, antecipações do que poderia vir a acontecer e acaba por não acontecer – do que nesta vida real por convenção, cheia de coisas reais de arestas cortantes e peso específico variável. Mas não existem, as vidas reais.

Ninguém consegue viver neste mundo se não espreitar para fora dele. Basta ser semanalmente e apenas por minutos. Um vulto de mulher que não alcanças com os dedos, o terceiro andamento da primeira sinfonia de Mahler, a elegância de uma demonstração de álgebra, são o bastante para aliviar da asfixia. Eu já salvei a minha vida a revisitar todos os dias ao anoitecer a singela beleza de um quadro de autor desconhecido exposto na vitrine de uma modesta galeria de uma rua deserta, numa cidade deserta, com um futuro que não chegava pois nada havia que pudesse acontecer. A beleza salva vidas e eu tenho a prova.
Pedro Paixão