Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


segunda-feira, 26 de abril de 2021

domingo, 25 de abril de 2021

Feijões com Salva

Às vezes a felicidade não se aguenta, explodimos em lágrimas ou fugimos assustados.

Estamos mais confortáveis, serenos com os dias cinzentos, infinitos.

Os dias tristes dão mais matéria, são de verdade, eternos.

O cenário final feliz afinal é um prenúncio de fim.

Recordo uma vez que explodi, perdida e onde me encontrei, numa ruela ocre de Siena,

tinha almoçado os melhores feijões da minha vida, e a beleza era tanta que transbordei.

Inúmeras vezes tentei replicar os feijões. Mas o acerto é função de equilibrista, e logo eu tão descoordenada.

Todos os dias eu tento,

ser mais comedida.

Regar na quantidade certa, em atenção à água, e a quem tenho no vaso.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Há doenças piores que as doenças, Há dores que não doem, nem na alma Mas que são dolorosas mais que as outras. Há angústias sonhadas mais reais Que as que a vida nos traz, há sensações Sentidas só com imaginá-las Que são mais nossas do que a própria vida. Há tanta cousa que, sem existir, Existe, existe demoradamente, E demoradamente é nossa e nós... Por sobre o verde turvo do amplo rio Os circunflexos brancos das gaivotas... Por sobre a alma o adejar inútil Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo. Dá-me mais vinho, porque a vida é nada Fernando Pessoa

quinta-feira, 22 de abril de 2021


 

«No hay que entender. Entender es un paso posterior a sentir. Hay que sentir».

quarta-feira, 21 de abril de 2021

"Qué fácil callar, ser serena y objetiva con los seres que no me interesan verdaderamente, a cuyo amor o amistad no aspiro. Soy entonces calma, cautelosa, perfecta dueña de mí misma. Pero con los poquísimos seres que me interesan...Allí está la cuestión absurda: soy una convulsión, un grito, sangre aullando".
Alejandra Pizarnik
"A vida, como sabes, tem o tempo da areia que se escapa por entre os dedos. Areia rápida e branca. Esvoaçante." Al Berto


terça-feira, 20 de abril de 2021

Muito antes de inventarem a moda do cabelo lambido,
chegavas tu, despenteado pelo vento.
Acho que me apaixonei pelo ar que transportavas.
E nunca achei, nem acho, que te fizesse falta um pente.



domingo, 18 de abril de 2021

 


Fui só ali ver o mar em terra enlatado

Buscamos os semelhantes, também eu caminho em vagas de azul esverdeado, já fico já vou.

A mesa vazia à minha espera pedia o meu descanso, apesar do aviso "arribas instáveis". Como se algo o não fosse.

A salvo está o passado pensei. E mesmo esse respira cuidados e dificuldades no encaixe fragmentado da nossa esfumada memória.

Porque juntei eu a colcha de pano de chita do colégio gelado com as sestas ao som de Carlos Gardel no tórrido Alentejo? O gaspacho com o entardecer em Montes Claros, e a flor de laranjeira com as escadas de cal do quintal da minha avó?

De volta à realidade tento umas ostras, logo hoje que é Domingo dia de jejuar, eu com os meus apetites.

Vislumbro um branco gelado e as ostras a morrer na minha boca.

Nada. Que não se justifica devido à pouca saída. Lá se vai o Zinco!

Venham então as azeitonas, no mantiene pero entretiene. 

E a vida é isto, entretidos com o berlinde, até que venha o tempo das cerejas e das sardinhas que não são para pressas.

sábado, 17 de abril de 2021

sexta-feira, 16 de abril de 2021

 "Por entonces, ya había descubierto que todo, lo bueno y lo malo, deja un vacío cuando se interrumpe. Pero si se trata de algo malo, el vacío va llenándose por sí solo. Mientras que el vacío de algo bueno sólo puede llenarse descubriendo algo mejor".

"Paris era una fiesta", E.H.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

♡ツ sim é o teu dia, mas todos sempre foram teus

A coisa é séria quando eu já nem peço batatas

Uma pessoa bem tenta,...

hoje resolvi fazer o gosto à boca,

depois da noite passada às voltas com a memória do último frango à guia,

oferecido pelo meu colega da mesa do lado, que partilha comigo o "pague um venham dois", 

para certas coisas tenho debilidade, eu que nem queria.

Entre a sopa diminuta e a salada do dia anterior não rejeito mais meio frango,

estava divinal, 

salpicado de picante, tostado a preceito, no tamanho certo,

memorável.

De tal forma que ontem, depois da reunião de condomínio em que o tema central era o bloqueio da futura churrasqueira na loja do prédio,

que o fumo, que o cheiro, que o que há de ser,...

adormeço, 

a minha mente em pesadelo salivava por nacos do dito frango do dia anterior.

Acordo pouco depois, de barriga carente, tento encomendar fora de horas, falta adivinhar o restaurante, donde vinha a perdição, num bairro pejado de sucedâneos.

Tento respirar fundo, pensar que é só um frango,

que estamos em pandemia.

Vejo o mapa,

e as possibilidades,

e que a Nova Lisboa não é Nova Iorque.

Penso que frango não teria vindo certamente do restaurante cujo nome é a alcunha posta por mim ao meu colega muito antes disto tudo. 

No entanto, estudei estatística,

hipóteses aleatórias, 

e a fantástica Lei de Murphy.

E hoje a meio da manhã,

perguntei-lhe por graça,

o nome do restaurante,...para poder ir mais tarde pecar e o crime compensar.

Sorri, quando o ouvi dizer o nome,

só podia ser esse, a alcunha que lhe tinha colado em cima desde que o vi. 

quarta-feira, 14 de abril de 2021

"No poseemos nada con certeza, excepto nuestro pasado". Evelyn Waugh




terça-feira, 13 de abril de 2021

 Os que demos e os que ficam por dar


quarta-feira, 7 de abril de 2021

 
"¿Aún conservas tu espacio? Tu espacio único, propio y necesario donde puedan hablarte tus propias voces, sólo para ti, donde puedas soñar. Entonces, sujétate fuerte, no te sueltes". Doris Lessing

domingo, 4 de abril de 2021

 "En estos tiempos de naufragio, el único bote salvavidas válido serían los libros. Llenemos por tanto de librerías las islas desiertas, mi deseo es que cada día nazca una librería, porque fuera del conocimiento, de la cultura, todo es naufragio".

Un año sin tu latido

sábado, 3 de abril de 2021

...entre vizinhos e tónicas, mas quanto ao que eu tinha pedido nada!

Isto está tudo sincronizado, os dois filmes que comecei a ver hoje começam com passarinhos nas gaiolas. 

Tal como me sinto. E nem é dourada. 

Aqui estamos cada um na sua. Em espera.

Na gaiola debaixo a vizinha grita aos berros GOLLLLOOOOOOO!!! E defende os penaltis e o que deveria ser e não foi. Só não joga à bola, mesmo sem querer, não tenho outro remédio senão ficar a par de como rola o Benfica.

Fora das gaiolas já se ouvem alguns jovens no jardim em risotas adolescentes. Dá-me a tónica de volta à normalidade. Perdoo as parvoíces. Eu também queria ter e já não tenho.

Estou é a ver o caso mal parado com a nova cadela do vizinho que no seu roupão xadrez castanho, chinela trôpego pelo bairro a todas as horas do dia e da noite. Dá-me a tónica do meu mau feitio e instintos submersos da mulher que um dia mordeu o cão e o dono, sim fui eu. 

E quanto à tónica que preciso para o Gin de fim de tarde já era, depois de ter feito a revista completa ao frigorífico que clama ordem. A minha saudosa Cátia com a depressão nunca mais voltou. E eu é sempre para amanhã. Oh! Logo amanhã,...

Amanhã vou esticar as pernas. Ver se me dá o ar. Respirar fundo! Tentar andar direita de uma vez por todas, mesmo com a tremenda força da gravidade que com toda a naturalidade manda mais do que eu.

Nunca consegui ser a melhor aluna de Ioga, mesmo com a infinita paciência dos mestres, mas ser a pior nada custou. De qualquer modo ainda retenho ensinamentos. E as posturas são as do riso. 

Não precisamos de ser mais ninguém do que nós próprios.

Apenas os melhores a enterrar os phones nos ouvidos!

 "Un tiempo después entendí que no hacemos sino eso: irnos, y nadie ni nada regresa nunca".

"Arde, memoria", Rafael Pérez Gay



Mesa para um

 co·mu·nhão

(latim communio-oniscomunidadeparticipação mútuaassociaçãocarácter comumconformidade)

Em tempos de separação de gentes a comunhão é cada vez mais rara.
De qualquer modo, somos seres Uno, singulares e nas coisas difíceis e importantes estamos sozinhos. 
Nas decisões profundas também. 

Numa Páscoa passada faz mais de uma década, assinei a desunião sacramental de uma prometida comunhão.
Deixei de acreditar na indissolúvel união entre dois seres.

E o cálice, ficou único à mesa. O que não me impediu de ter já uma considerável coleção de rolhas.

A Páscoa deixou-me sempre um sabor de amêndoa amarga.
Mesmo antes, 
quando era os sacos de amêndoas coloridas das mãos da minha querida avó Pura, o último não consegui abrir e ainda jazem desbotadas numa caixa de recordações,
ou o encontro de almoço de família nos campos do Alentejo, Barrancos fresco branco florido e verde, um dos quais correu mal numa brusca tentativa infrutífera na separação de amor entre primos,
mais tarde, era os ovos coloridos que escondia para os sobrinhos na quinta do Norte.

Agora sem campos, quintas ou família, resta o cálice, sem par. 
Vale é que tenho uma mesa de madeira antiga no caso de.
E que mesmo sem estarem presentes, como com todos à mesa.
Tenho conversa até para quem não está.
Quem pede, já não pede pão.
Pede um borreguinho, ouvi hoje em queixume.
- Oh Senhor, tomara eu ter para os ovos!

Resumidos estamos, em redução a comunhão virtual, é a ementa.

E a caça aos ovos virou a caça à multa.
Como nos pedem a partilha?


 


 "Pero existe algo que el tiempo no puede, a pesar de su innegable capacidad destructora, anular: y son los buenos recuerdos, los rostros del pasado, las horas en que uno ha sido feliz".

"Cartas 1937-1954:, Julio Cortázar

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Don't Let Me Be Misunderstood

Vilarejo - Tribalistas Ao Vivo

Volto a adormecer com a imagem da cor carmim a escorrer da melga estripada no abajur bege.

Não resistiram os dois. A minha pontaria podia ter poupado o bege pelo menos.

Mesmo gostando de misturar pantones.

Fiquei a pensar que a matei com a almofada Picasso. Sempre certeiro por onde passa.

Quem tem um Picasso ao lado tá safo.

Acordo, Sexta-feira Santa. Todas elas deveriam de o ser, numa preparação do Sábado, dia onde todas as coisas são possíveis, que ao romper Domingo já eram.

Descalça, olho os pés à espera de praia e tomo quem sabe um dos últimos cafés caseiros desconfiada nos avanços e recuos já fecha já abre.

Venham as esplanadas que já não se aguenta o cheiro a bafio.

Foco no azul por entre a nuvem, suspiro.

Agora percebo a minha avó que tanto suspirava e me dizia que a vida é uma ilusão.

Mesmo assim sou como a Sophia e nunca as minhas mãos ficam vazias.


quinta-feira, 1 de abril de 2021