Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


terça-feira, 28 de maio de 2019

O vento se ausentou do quintal. A lua andou inquieta e invisível em seu espaço lunar...
havia qualquer coisa de azul na flor que o tempo desbotou.
Era oblíqua em seu estado letárgico de ser.
O ruído da palavra era quase encontro com meu silêncio e o canto da ave em seu sistema de asa e o medo do chão.
A monotonia das tardes de domingo contrastando com o verbo voar e o astro celeste a vingar do sol, com sua presença singular.
A garoa veio e o tempo mudou. O frio entra pelas frestas das janelas, da porta e o dia se encarrega de procurar momentos mágicos na vida.
Mariana Gouveia

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Mãe - Filha

Um filho, afinal, é quem dá à luz a mãe. Pois cada criança nascida faz nascer uma mãe.
-Mia Couto  18 anos de mãe e de filha, e ensinamentos para ambas, que para ser mãe também se tem que nascer e crescer desde esse primeiro encontro mãe - filho. Mãe, é quem tem o privilégio de criar uma criança que está à nossa guarda durante um certo tempo, que passa muito rápido, sem espaço para digerir no meio de erros, alegrias e tropelias. E só muito mais tarde sentimos se o nosso trabalho foi bem feito.
Recordo um dos aniversários…seria o dos 11 anos talvez…apanhei no grupo de amigos que deveria ser a turma inteira e levo tudo ao cinema. Erro crasso, não vi antes o trailer do filme. Obrigatório ver sempre o trailer. Escolhi para verem uma comédia francesa, retrato dos anos 70, na descoberta dos primeiros amores, escolhas e o despertar sexual.
Quem foi ficando enterrada na cadeira sem conseguir olhar para os miúdos era eu, a imaginar a cara dos pais a ouvirem o relato do filme pelos filhos. Ainda hoje falam disso, foi um filme elucidativo para todos 🙂
A comédia que eu achava que era sobre um foguetão e tal que iria cair na Bretanha,... era afinal mesmo na Bretanha, a celebrar o aniversário da avó, onde todos acreditariam que o SkyLab, um pedaço do foguetão da NASA, iria cair sobre as suas cabeças nesse verão. Caiu afinal sobre as nossas próprias descobertas, paixões, desejos, ódios e omissões. A vida real. O fim da inocência.
Os 18 anos hoje que já começaram faz tanto. O que foi, o que agora é, e o que poderá ser. Uma descoberta Madalena (
Coração saído do meu).

segunda-feira, 13 de maio de 2019

sábado, 11 de maio de 2019

Quanto Tempo para o Intervalo

Quanto tempo para o intervalo, perguntas.
Nenhum. Tempo nenhum.
O corpo é um corvo suspenso, uma aflição,
um corvo aos solavancos, abatido às vezes,
um pontapé, um reflexo de tule e rosmaninho.
O corpo deve ser de noite, sempre de noite,
enrolando os pés, enrolando tabaco na cama.
Que susto. Que medo do corpo que eles dobram
assim, cheio de nódoas que eu não sei limpar.
Que estranha a forma como saem de dentro
de água infinitamente secos e lúcidos.
Eu não sabia que dançar era por dentro.
Eu não sabia que dançar era até ao fim.
A vida, meu amor, é sem intervalo.
Filipa Leal, in 'Fósforos e Metal sobre Imitação de Ser Humano'

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém.
Compor o corpo, os objectos em sua função, sejam eles
A boca, os olhos, ou os lábios. Treinar-se a respirar
Florescentemente. Sorrir pelo ângulo da malícia.
Aspergir de solução libidinal os corredores e a porta.
Velar as janelas com um suspiro próprio. Conceder
Às cortinas o dom de sombrear. Pegar então num
Objecto contundente e amaciá-lo com a cor. Rasgar
Num livro uma página estrategicamente aberta.
Entregar-se a espaços vacilantes. Ficar na dureza
Firme. Conter. Arrancar ao meu sexo de ler a palavra
Que te quer. Soprá-la para dentro de ti -------------------
----------------------------- até que a dor alegre recomece.

maria gabriela llansol
o começo de um livro é precioso