Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


segunda-feira, 30 de março de 2020

domingo, 29 de março de 2020

“Provavelmente ninguém vai lhe ensinar isto.
Dê um jeito de aprender, você vai precisar.

SAIBA DESISTIR, porque em algum momento da vida isso vai ser necessário. Focar o que é, e não o que poderia ter sido. Colocar a vida à frente do orgulho. Seus desejos à frente do que os outros desejam pra você. Uma ousadia, um disparate, uma loucura, eu sei. Provavelmente ninguém vai lhe ensinar a entender o que você realmente deseja. Mas dê um jeito de aprender. Em algum momento da vida, desistir vai exigir mais coragem que seguir em frente. Desistir será o mesmo que parar de tentar. E parar de tentar pode ser finalmente o começo.”
Cris Guerra – Publicitária, escritora e cronista de moda.

sábado, 28 de março de 2020

Future Islands - "A Dream Of You And Me"

Honeysuckle Rose - 24 Robbers Swing Band

«Nunca perguntes o caminho a alguém que o conhece, porque então não poderás perder-te.» 
Rabi Najman de Breslav
e perder-se também é caminho.
Preparem as agendas,
reservem espaço nelas que a ordem de soltura chegará e não há fome que não dê em fartura.
As filas vão deixar de ser à porta das lojas e passarão a ser as esperas de vez em agendas alheias nas marcações de cafés, almoços, jantares, cinemas, ...
para aqueles que faziam vidinha casa - trabalho, estou em crer que irão aproveitar muito mais para combinar programas, rever amigos ou irem ver coisas culturais.
Feliz por ter aproveitado cada uma delas a apreciar. Nunca sabemos quanto tempo nos resta em cada casa, em cada olhar.
Ainda na última semana antes do mundo parar fui tomar um café na Cinemateca, já depois dos 500 Desenhos de Silva Porto na Sociedade Nacional de Belas Artes.
Que algo nos salve,
não me mandem mais desgraças. É só pedidos e correntes de passa e reza.
E eles a darem com o azeite, Covid para cá e para lá.
Eu que nunca fui de seguir rebanhos.
É mais queijos e 
pena de não ter comprado mais uma colher de pau, que faz mal
mas cá as minhas mãos e panelas é o que gostam. Descobri uma maravilhosa, lá pelos Alentejos, entre Almendres. Para grandes males, grandes remédios…vou é abater as iguarias, café da cafeteira à moda da minha avó, que hoje é sexta e em casa também se dança,

https://youtu.be/TlLWFa1b1Bc
"Houve um tempo em que, nos amores e nas paixões, se falhava de forma espectacular. Com baba e ranho. Dava-se tudo. Saíamos rasgados de pele e coração. Valia sempre a pena, mesmo quando perdíamos o chão.

Os erros, as faltas, as vertigens, o pé à beira do abismo existiam para nos lembrarmos de que somos humanos. A regra era cair e levantar, prontos para outra depois de lutos intensos, sofridos, partilhados. Agora tudo isso existe sob a forma de prevenção. Para nos lembrarmos do que não devemos fazer, dos riscos que não devemos correr, contra o vírus da solidão.

Fomos ficando higienizados. Da alma à cama. Uma espécie de “se conduzir, não beba” para evitar os males do coração. Como se pudéssemos dizer “se amar, não se magoe”.

Com o passar dos anos, aprendemos a contornar os sintomas a bem da decência, da pose e da anestesia geral ou local, conforme as necessidades. O importante é não dar parte de fracos.
O ciúme é uma coisa moderna, para ser compreendida. A discussão acalorada está fora de moda.
A vingança é um prato que não se serve frio nem quente nas relações mais conceituadas. É coisa do povo, ementa de vidas de tasco, entre um tiro de caçadeira e um facalhão de meter respeito.

O civismo entrou definitivamente na nossa intimidade para amansar os corpos, os gestos, as palavras. A postura é um fato de pronto-a-vestir que usamos para entrar e sair das relações. Talvez até já nem se rasguem roupas quando chega a hora. O sentimento não ferve, a aprendizagem das loucuras que fizemos é renegada e a história do que fomos não tem disco duro porque a caixa de mensagens é mais prática e descartável. De resto, já não há cartas para guardar porque ninguém as escreve. Quem as leria, de resto, se tivessem mais de 140 caracteres?

Como num poema do Eugénio, já não há nada que nos peça água. E estamos como ela: insípidos, inodoros e incolores. Leves. Capazes de ir do tudo ou nada sem efusão de sangue. Deve andar a escapar-nos o momento em que deixamos de olhar a vida nos olhos e a desregrada infinidade de coisas que vinha junto com ela."

Miguel Carvalho
Revista Egoista

sexta-feira, 27 de março de 2020

Snow Patrol - Open Your Eyes

Creio nos anjos que andam pelo mundo



Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen
para a Natália minha prima, quase irmã

"Ama-se por memória" - Álvaro de Campos

A imagem pode conter: 1 pessoa, chapéu, texto que diz "" A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens (...) Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Bernardo Soares (Fernando Pessoa)"

quinta-feira, 26 de março de 2020

«É daquilo com que amanheço em cada dia que, de cada dia, tenho que partir.»
António Alçada Baptista, em "Peregrinação Interior vol. I"
A imagem pode conter: 1 pessoa
«As pessoas em geral, e especialmente os homens, não foram ensinadas a viver a radiosa epopeia da fragilidade. Ninguém nos disse que é nessa espécie de fragilidade que está a nossa marca e a nossa grandeza e que só ela nos desvenda o fantástico universo da ternura.».
António Alçada Baptista in "Os Nós e os Laços"

quarta-feira, 25 de março de 2020

https://soundcloud.com/24robbersswingband/please-dont-talk-about-me-24-robbers-swing-band

o Ser de Luz que conheci um dia, de alguma coisa me terá servido.

“Entre o estímulo e a resposta há um espaço. Nesse espaço está o nosso poder de escolher a nossa resposta. Na nossa resposta está o nosso crescimento e a nossa liberdade.”
Victor E. Frankl
Sair de casa, digo, ir ao teu encontro e dizer-te aquilo que
noutro tempo nunca ousei dizer-te: "O amor..."
Ou então, saberás tu que o amor nem sempre
pode ser dito como se diz que vai chover,
ou que o cansaço da vida é um sentimento incómodo,
e até frequente, nos dias que correm?
Mas os teus olhos talvez me dêem um sinal: como se para além deles se abrisse um descampado, o deserto inóspito das sensações.
"Voltarei a ver-te?".
O essencial nunca está nas respostas, que dizem a verdade ou o seu contrário. São os teus olhos que me interessam (...).
Nuno Júdice

A imagem pode conter: planta, céu, árvore, nuvem, ar livre e natureza

terça-feira, 24 de março de 2020

In Out In Out

Agora é que é hora de virem os giraços dos Salva Mundos com a solução repele Covid.
Tanta historieta de super poderes atribuído a mãos alheias e afinal todos somos tão semelhantes e frágeis.
Nunca apreciei filmes de ficção porque a realidade sempre foi para mim muito mais interessante.
Ontem começou a chover e resolvo ir à loja do bairro ver se com chuva tem menos fila à porta, no caminho não vejo chapéus de chuva mas máscaras à farta. Tudo a ver se não se conhece para evitar comprimento mesmo com o disfarce facial. E encontro gente inventiva, realmente isto das crises aguça o engenho,...uma senhora na falta da máscara todo o terreno não se atrapalhou e fez duma mica o seu escudo protetor. Colou a mica aos óculos e siga caminho e eu também de olhos nela.
Na padaria, é um ver se te avias que em casa barrigas esperam,
vale tudo, não vá o mundo acabar e nós com fome. As dietas ficam para depois e depois sabemos nós que não sabemos quando.
Um atrevido com ar de quem não precisa, só porque sim, tenta desviar para o seu bolso um saco de pano. Um saco de pano desses a 1€. Já ninguém se importa com a vergonha em caras tapadas. Andam sim de fita imaginária em punho...para distar metros, na esperança que isso nos salve a vida.
Apreciei a chuva. O Ar puro. O silêncio. Embora hoje já tenha esboçado uns berros em casa e na empresa junto aos resistentes só naquela de sentir ruido.
Em tempos de guerra é este o dia.
Nenhuma descrição de foto disponível.
"...tenho o olhar preso aos ângulos escuros da casa, tento descobrir um cruzar de linhas misteriosas, e com elas quero construir um templo em forma de ilha ou de mãos disponíveis para o amor..."
Al Berto 

segunda-feira, 23 de março de 2020

Oh as casas as casas as casas, de Ruy Belo
Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas
Ruy Belo
Todos os Poemas

domingo, 22 de março de 2020

sábado, 21 de março de 2020

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Ólafur Arnalds ‎– Living Room Songs (2011)

Hoje Primavera,

e todos os dias com cara de Domingo,
eu que sempre detestei Domingos
tento as horas, mas o relógio já não mede as de ponta
as ruas sem carros,...
mais ruas do que Almas
mais Almas em fila do que carros
detesto filas
regresso apenas com um jornal de ontem

podemos atravessar em todos os sinais de transito
respeitar apenas os 2 metros de cada um
ninguém fala com medo do comprimento
não vá escapar um covid a mais a meio da conversa

tenho livros, álcool de beber e lá me rendi a descobrir a Netflix
nesse entretanto esqueço

já fez sol e chuva
em casa conta o mesmo
uma varanda faz muita falta

o amor doseado
em teclas desinfetadas
não vá a urgência
ser uma agravante

já ninguém me chama menina,
crescemos quando os filhos e os pais nos perguntam
o que fazer
A imagem pode conter: ar livre
há dias em que acordamos e percebemos tudo
o recorte das cidades no horizonte
a distância que há nos caminhos que rasgam os corações
como se fossem searas de trigo
o nome de certas coisas que só sentimos num abraço

depois percorremos a mão pelo granito
como se fossemos o tempo
e como se a vida não fosse mais do que uma claridade
que invade pela frincha da porta o quarto escuro

é então que descobrimos
num desses rostos com que cruzamos o olhar
que a vida podia ser outra
e que seríamos felizes num outro sorriso
se lhe entregássemos inteiros os nossos lábios

há dias assim
em que acordamos e percebemos tudo
como se tudo nos estivesse imensamente próximo
como se cada dia nascesse e morresse num abraço
como se a vida coubesse num poema.

José Rui Teixeira

Fotografia- minha num dia normal de Lisboa

sexta-feira, 20 de março de 2020

quinta-feira, 19 de março de 2020

19, Março de 2020

dia do Pai, 1º dia de Estado de Emergência Nacional

mais um dia de trabalho, hoje por on line e...

mais a casa para tratar que a Maria para tudo agora sou eu, e orientar os estudos da miúda que pergunta;
- O almoço está a ser feito?

a minha resposta:
- sim, faz-se sozinho!
Acordo todos os dias com uma na cabeça,
Hoje foi com um croissant,
que no primeiro dia decretado o estado de emergência nacional, é todo uma miragem,...
resolvo arriscar, eu e as minhas ideias fixas
saio à rua,
pé ante pé ver que passa,
olho para um lado...olho para o outro
ainda se vê gente,...os sobreviventes penso.
muitos já devem ter morrido e não sabemos
faz de conta que estão em casa
e em off continuarão se não houver sinais de fumo virtuais
Anybody home???

12. Our Lady Peace - Is Anybody Home - LIVE

quarta-feira, 18 de março de 2020

King Krule - Easy Easy (Official Video)

Destroyer - The Music Lovers

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A Natureza, e as dedadas do Covid 2020

Cheirei um manjericão, confere que ainda é um manjericão
deu-me a certeza de que,
afinal nem tudo muda.
a natureza entregue a si própria até vai agradecer
e crescerá independente das nossas tosses ou vontades.
Em tempo de castigo humano
aproveitará para renascer,
os rios mais limpos
os peixes terão mais tempo de crescer
o ar mais puro
os cheiros na sua essência
o som é agora feito de silêncio na sua maioria
de vez em quando uma mota ao longe
aviões raros
carros parados
pena o Sr das tesouras a anunciar chuva, que virá sem ele em Abril
mas sobram os passarinhos que andavam escassos e era preciso ir ao Alentejo para dar com eles.

Desfoquem de engolir o supermercado adquirido de arrombo
que isto... até esse dia sabe Deus Maria com quem casará teu pai!
é apreender a gerir...é fazer as contas como diz o outro
nem que volte tudo para a carteira da escola apreender o conceito do finito
faz de conta que temos tempo para passar tanto erro a limpo.

Temo as orgias do desejo contido, quando a imposição passar
vão ser desforras em overdose
mas o mundo tarde ou cedo cobra e busca o equilíbrio
a via do meio, que pelos excessos, que pelos extremos globais demorará a alinhar a sua ordem
e agora é treinar a mente no foco positivo
ver a luz na sombra
as formas das forças complementares
o mundo dinâmico
as mudanças que ocorrem sem dó de nós
aproveitemos, que aconteça o que acontecer…como diria um certo antigo passageiro à época mas sempre aplicativo e intemporal:

Perguntado sobre qual seria o futuro de Portugal no contexto da actual crise, o Professor José Hermano Saraiva respondeu, após uma curta reflexão, de forma convicta e patrioticamente afirmativa: « Qualquer que seja o futuro, continuará a haver as noites de luar, Serra de Sintra e o Tejo a correr para o mar

A imagem pode conter: possível texto que diz "ALL YOU NEED IS LOVE AND BOOKS (MAND(ate"

terça-feira, 17 de março de 2020

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Rachmaninoff - Elegie

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Não se adia a vida

Hoje estriei uma camisola nova,
sem palmas ou dependências de apreciação alheia,
é porque gosto e sinto
cremes e perfumes mesmo que ninguém...
lá vim trabalhar de Alma cheia em ruas despedidas
maquilhada e a sorrir no caso de alguém desprevenido
o sorriso continuará a ser o melhor contágio
mais logo abro um vinho,
que não se guardem para um dia, hoje é o dia e ainda sobram copos
mesmo os de cristal se for preciso duram mais que nós
Apreciar cada momento
Suspirar menos
o meu verdadeiro caso de amor eterno começou e acabará comigo mesma.

Dieta qb, que não podemos ser tão rígidos com os nossos apetites, já comi maças, nozes, como deve, e sim...as minhas batatas fritas que o Sal também tempera a vida e se estiver junto no chocolate tem entrada garantida sem grandes remorsos.
Afinal, depois de certa idade somos um conjunto enorme para ser apreciado, muito mais que um corpo com ou sem kgs. a mais ou a menos que não interessam na verdade. A bitola é minha. Não dou poder ao espelho ou critério alheio. Os outros são outros e o infinito em nós.
A leveza de um corpo não se mede em balanças. A graça de um Ser não se mede em cms.
Começo o livro, agora que ainda posso,
O tempo, nunca me sobra para o não saber que fazer
estou de mãe, professora, e a exercer a minha profissão no local de trabalho, sendo um serviço público temos que continuar cada dia no nosso melhor, nas crise se faz a diferença
a minha Cátia também me abandonou com medo do vírus, lá terei que limpar e passar eu, servirá para gastar as batatas dentro
assim como a cabeleireira, e todos os mimos a que me sujeitava em mãos alheias
irei eu a mim,
com a coragem de dizer não, não vou ficar triste,
não vou hipotecar dias nem felicidade para os viver depois da tempestade
porque o depois é longe e o quando incógnita
quando acabar nenhum de nós será o mesmo
que as coisas não passem por nós, mas nós por elas
sempre vivi a vida intensamente e vivo o hoje e não, não tenho tempo para estar doente,
foi o que disse à médica na minha última pneumonia.

segunda-feira, 16 de março de 2020

Como
Como se estivesses dentro de mim,
como se eu estivesse dentro de ti,
passei a noite a ouvir a tua canção favorita,
com a concentração e a dedicação de um químico,
passei a noite em risco de explosão,
o coração como um avião contra as torres gémeas,
tu de chuteiras a jogar à bola com o meu coração,
e as paredes da sala inteiras,
a casa em pé,
eu no chão da sala de olhos nas gaivotas do tecto,
havia gaivotas no tecto,
como quando um barco pescador regressa à costa,
os teus pés lembram gaivotas,
voam nos meus pensamentos,
não cabem nos meus pensamentos,
não cabem na minha boca,
queria comer-te da cabeça aos pés,
dizem que o amor é sobretudo química,
não sei,
sei que há amor sem amor,
sei que há dor sem dor,
sei que a imaginação é imprudente,
é insolente,
transforma gaivotas em abutres,
estou no chão da sala, estou no deserto,
duvido se ainda estou vivo,
sei que sou ridículo,
o saber não ocupa lugar,
mas os teus pés ocupam os meus pensamentos,
a minha imaginação passou a noite a dançar a tua canção,
é uma bailarina velha, decrépita,
quer os teus pés numa bandeja como Salomé
quis a cabeça de São João Baptista.
Raquel Serejo Martins

domingo, 15 de março de 2020

Cold War - Dwa Serduszka (Official Lyric Video)

Uno sempre está solo, pero a veces está más solo.

Diário de uma quarentona em dia de quarentena

Faz um ano, de viagem marcada no dia seguinte, fui obrigada a ficar em casa.
Parti o tornozelo em 3 sítios num acidente de trabalho do qual ainda recupero.
DEZ parafusos depois conto que:
Senti-me furiosa, de castigo em casa sem saber porquê, mas as coisas não acontecem só aos outros.
A minha vida iria ficar parada durante meses, eu que sou uma irrequieta hiperativa desde que nasci. Tive que aprender a parar e a dar valor aos pequenos prazeres. Fiquei dependente de ajuda para comida, banho ou deslocações. Tive que fazer um horário com estrutura e tarefas para não desanimar mesmo sem me poder mexer pois a perna ficou de gesso esticada no sofá e dores mais que muitas, mas a forma como gerimos o que nos acontece é que nos torna mais fortes. O desanimo é berço para as doenças ficarem. 
Já sofri e venci também uma septicemia e na hora h fiz um manguito à morte.
Aprendi por isso a dar valor a tudo quando estamos bem e com saúde, respirar, poder andar, conduzir sem destino com a música que gostamos, apanhar ar com a mão de fora no vidro do carro, ouvir os sons da natureza ou da música, tomar um banho no mar, boiar, ou mesmo a água no duche a correr sobre a pele com os cheiros de um bom sabonete, poder estar na minha casa, cama, sofá ou a caminhar, a tomar o sol na pele, poder cozinhar e deliciar-me depois na companhia de um vinho, poder escrever, fazer um diário da quarentena, um dia mais tarde vamos achar graça, ler ou desenhar, meditar,...ou ver um filme com o kit sofá manta e chocolates, … ou dormir uma sesta tranquila, ou tirar cursos on line, quem está longe dos grandes centros sempre o fez, ou arrumar as gavetas e esvaziar. Libertar o que não faz falta. Fazer essa chamada a um velho amigo que nunca temos tempo, eu hoje já recebi uma :)
Daremos mais valor a estar nesse próximo jantar de grupo ou no concerto ou esplanada ou nessa molha, encharcados mas vivos. 
Estes tempos deveriam ser de entender o que é importante e não encher despensas. As crises são momentos criativos, deverão ser aproveitados para nos focarmos nas coisas essenciais e no que podemos apreender com a lição e quando não temos saúde nada disto apetece. Perceber que é uma fase, como muitas e que tudo irá um dia passar. As fases são para serem vividas em pleno. Esta é a de apreender a ficar por casa. Muitos gostariam… ;) Aceitar, é a palavra. 
A imagem pode conter: texto que diz ""ESTA ANTES DE DORMIR PIENSA EN CUANDO VOLVAMOS A LA CALLE. PIENSA EN CUANDO ABRACEMOS DE NUEVO, EN CUANDO COMPRAR TODOS JUNTOS NOS PARECERÁ UNA FIESTA. PENSEMOS CUANDO REGRESEN LOS CAFÉS AL BAR, LAS CHARLAS, LAS FOTOS APRETADAS UNO AL OTRO. PENSEMOS EN CUANDO TODO SEA UN RECUERDO PERO LA NORMALIDAD NOS PARECERÁ UN REGALO HERMOSO INESPERADO. VAMOS A AMAR TODO LO QUE HASTA HOY NOS PARECIÓ INÚTIL. CADA SEGUNDO SERÁ VALIOSO: LAS NADADAS EN EL MAR, EL SOL HASTA TARDE, LOS ATARDECERES LOS BRINDIS, LAS RISAS. VOLVEREMOS REÍRNOS JUNTOS. ¡FUERZA CORAJE!" PAPAFRANCISCO"
Ver a imagem de origem

sábado, 14 de março de 2020

Ed Patrick - Eyes On You


"...Quando duas almas que nasceram para ficar juntas se separam, um sentimento de tristeza e vazio se instala em suas vidas, os corações perdem as direções certas a seguir, o fôlego parece faltar e não se encontra mais nenhuma satisfação, conforto..."

quinta-feira, 12 de março de 2020

quarta-feira, 11 de março de 2020

terça-feira, 10 de março de 2020

Exercícios de preparação para a solidão

Perceber que já se perdeu tudo o que um dia mais se amou,
fazer ordinariamente horas extraordinárias,
ir a diário ao ginásio, esgotar o corpo,
andar frequentemente de bicicleta,
regressar a casa pelo caminho mais longo,
prestar atenção ao que acontece dentro da copa das árvores,
não ter animais de estimação, nem mesmo plantas,
ter coragem para não recolher um cão abandonado,
nas tardes de sol visitar jardins, dar milho aos pombos,
ser amante de livros, de música e de cinema,
guardar longe da vista todas as fotografias,
dançar pela casa, a vontade não precisa de par,
evitar pensar no sentido da vida,
ter um não sei quê de ave migratória,
manter a casa limpa, mudar os lençóis, fazer a cama,
ter em casa chá, chocolate e livros de poesia,
peças de fruta, álcool e cigarros nenhuns,
ter cola, tesoura, agulha, linha, pregos,
o necessário para pequenas reparações,
ter uma caixa de primeiros socorros,
cozinhar em pequenas quantidades,
investir numa chaleira,
numa botija para água quente,
num congelador,
viajar sempre para países distantes,
não ter medo da chuva nem do choro,
não ligar a televisão só para ter luz no escuro.
Raquel Serejo Martins

segunda-feira, 9 de março de 2020

domingo, 8 de março de 2020

sábado, 7 de março de 2020

sexta-feira, 6 de março de 2020

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

quinta-feira, 5 de março de 2020

Depois dos poejos...e ainda sem açorda

a minha Cátia, que cuida de todos os recantos e mais alguns do meu pequeno T2, não sendo muitos, no meu caso são muitas as esquinas, mais que não sejam de livros, serve-me para várias outras coisas...dá me motivos vários para desafogo absolutamente exasperados, urgentes, necessários, na primeira página em branco disponível que apanho para despejar as minhas vísceras já que não as devemos guardar em virtude das noites ainda serem piores.
o prato molhado de fim de dia de hoje quando chego a casa desejosa do meu desejado poiso, um terço de canto de sofá, o único que me resta, onde curto as minhas fétidas solidões, já feito a estes 20 de sobrepeso e que não troco por mais nenhum e o sinto absolutamente encharcado. Hoje, a minha Cátia deve ter de repente pensado que nada havendo por fazer…no meio de milhões de hipóteses que lhe poderiam ter ocorrido, que o melhor seria lavar o sofá.
deixou-me uma nota sobre: 
 - o sofá está molhado.
no primeiro momento, achei que teria sido um azar de um copo de água entornado….não! Está absolutamente encharcado. Impróprio para hoje e dias seguintes. A chover lá fora está um tempo decente para ficar por casa, sem sofá seco e de rabo no ar ….sem saber onde o podemos descansar até daqui por três dias. Aguento. Ela afinal é tão perfeita em tudo o resto. Respiro fundo. Aceito. O Budismo tem que me ter servido para alguma coisa.

Ainda para mais tenho as meninas transtornadas, da última da semana passada, que aqui deixo também em registo,...já sei que um dia vem que eu é que tenho mau feitio e isto aliviará a minha carga no oportuno momento explosivo. O despedimento em aproximação. Por causa mais que justa. Mas eu sei que o feitio mau é mais que meu e de mais ninguém.
A semana passada a minha Cátia tal como hoje...nada havendo por fazer, e há, juro que há...mil coisas… leva para a máquina de lavar sem dó nem piedade do resultado, (e a vida que até acaba por ser simples, é tudo ação - reação) tudo o que era boneco de pano, peluche ou peça suave ao toque. Nesse dia o amaciador fugiu, assim como a temperatura da máquina ou o programa indicado.
A nossa entrada em casa deveria ter sido filmada em reação de câmara lenta...a sala era um festival de pelúcia multi-color a secar ao sol. Foi com dor emocional e física que nós, as três mulheres da casa chorámos entristecidas as irreconhecíveis criaturas como crianças com brinquedos estragados. Mas o que importam são as pessoas. Coisas são coisas. Ajudas são preciosas e o que seria de mim sem ela! Nenhuma descrição de foto disponível.
A imagem pode conter: texto que diz ""Nunca digas que amas a alguien si nunca has visto su ira, sus malos hábitos, sus creencias absurdas y sus contradicciones. Todos pueden amar una puesta del sol y la alegría, sólo algunos son capaces de amar el caos y la decadencia" -Mario Vargas Llosa."
A imagem pode conter: texto que diz ""Aunque seas la mejor versión de ti, nunca serás suficiente para la persona equivocada. Y aunque seas la peor versión de ti, siempre valdrás la pena para la persona correcta.""

quarta-feira, 4 de março de 2020

terça-feira, 3 de março de 2020

segunda-feira, 2 de março de 2020

Já não choro,
nem medito
muito menos acredito.
Alastra
sentimento.
não procuro
não espero.
ainda assim é consolo
apesar de tudo um tormento
e incêndio
em silêncio desenvolvimento.

domingo, 1 de março de 2020