Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Bob Dylan, Hurricane, Desire recording sessions, 1975

“Quando se tem dúvidas a respeito do que se deve fazer, basta imaginar que se pode morrer no fim desse dia. Então todas as dúvidas desaparecem, e pode-se ver com clareza o que lhe diz a consciência, e qual é o seu verdadeiro desejo pessoal” Tolstoi

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

“Time moves in one direction, memory another." 

William Gibson

sábado, 26 de dezembro de 2020

Adios Nonino - Astor Piazzolla

  “Aqueles que não aprendem nada sobre os fatos desagradáveis de suas vidas, forçam a consciência cósmica que os reproduza tantas vezes quanto seja necessário, para aprender o que ensina o drama do que aconteceu. O que negas te submete. O que aceitas te transforma."

Carl Jung

 


domingo, 20 de dezembro de 2020

Bluebird by Charles Bukowski

lhasa de sela-El Pajaro

 (...) Nunca mais nos veremos? Perguntei com a estupidez de quando não há perguntas a fazer. Mas ao mesmo tempo, por baixo da minha insensatez, eu sentia o impulso absurdo de recuperar uma irrealidade perdida. Nunca mais?... E imprevistamente era aí que eu repousava, na tua face, na imagem final do meu desassossego.

Vergílio Ferreira, in Na tua Face

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

sábado, 5 de dezembro de 2020

 Ninguém está perdido enquanto não for esquecido.

 


“E, aquele

Que não morou nunca em seus próprios abismos Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas Não foi marcado. Não será exposto Às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema.” ―Manoel de Barros

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Sufjan Stevens Untitled (All Delighted People Side D)

 




Diamond Blues: Kate Moss / Bobby Gillespie

 “Na verdade, não temos saudades, é a saudade que nos tem, que faz de nós o seu objecto. Imersos nela, tornamo-nos outros. Todo o nosso ser ancorado no presente fica, de súbito, ausente.”

(Mitologia da Saudade)
Eduardo Lourenço

terça-feira, 24 de novembro de 2020

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

terça-feira, 17 de novembro de 2020

domingo, 15 de novembro de 2020

Quem não tem cão, caça com gato

A propósito do que a minha vista alcança da minha janela

Ainda que míope, 

reparo em novos passeantes 

o calçado desportivo enfiado faz décadas no fundo dos armários respira novamente

afinal o desporto é bom e só agora demos conta

vejo carrinhos de bebés vazios, terão fugido as crianças

Coleiras sem cão que passeiam os donos, terão fugido os cães

Ou foram cedidos, alugados e enquanto isso andamos todos em manobras de distração às punições

Os anúncios agora são de  "alugam-se cães para passeios higiénicos"

Cada um dá o que pode, a questão é poder estar mais metros em liberdade.

Enxotamos coleiras e alargamos medidas,

Aprendemos a nova métrica. 

E a diferença real entre Conselho e Concelho.

Mas pelo menos uma constante, o som da flauta do afiador de tesouras.

Seremos mesmo é o animal de estimação de alguém?

sábado, 14 de novembro de 2020

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

 


"Na ciência, diz-se que o ponto de emergência é aquele em que um raio luminoso sai do meio que atravessou."

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

terça-feira, 3 de novembro de 2020

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

"A única salvação do que é diferente é ser diferente até ao fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas - batalhas para os outros, não para ele, que as percebe - há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos."
- Agostinho da Silva, DIÁRIO DE ALCESTES (1945)

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

 Nunca voltemos atrás

tudo passou se passou
livres amemos o tempo
que ainda não começou.
“Só sabemos, seguramente, de uma amizade ou de um amor: o que temos pelos outros. De que os outros nos amem nunca poderemos estar certos. E é por isso talvez que a grande amizade e o grande amor são aqueles que dão sem pedir, que fazem e não esperam ser feitos; que são sempre voz activa, não passiva”
- Agostinho da Silva, Sete Cartas a um Jovem Filósofo


domingo, 25 de outubro de 2020

Keith Richards – Hate It When You Leave (2020)

A Quinta de S. João

Hoje, enquanto descascava maçãs para fazer puré não pude deixar de recordar...os meus tempos na Quinta de S. João, em Viseu, no Outono mais frio da minha vida.

Acabada de chegar do Sul, de Évora, de Biofísica e da longa folga e leve vida de estudante. 

Tudo foi um estranhar e entranhar. A paisagem, o clima, as casas, as comidas, o sotaque, as gentes do Norte. As mulheres trabalhadoras com a força de homens. 

O meu primeiro emprego, foi ir trabalhar nas estufas. Nas plantas aromáticas e medicinais. Que entretanto ficaram sem muito para tratar ou fazer. Era a apanha das maçãs na quinta por essa época. Ofereci-me prontamente para ajudar sem saber o quanto custa apanhar uma maçã, ao frio, à chuva, às 6h da manhã, nas beiras.

Mas valia o esforço de uma época, o almoço era na cozinha antiga de pedra e azulejos verdes escuros com o Tio Maia Loureiro, que me tinha de pupila. As panelas fumegavam. Cozinhava lindamente. Ali comi as melhores maçãs assadas da minha vida com a sua geleia e nozes por cima. E canela talvez. Ainda sinto o cheiro. Nunca consegui replicar.

Descobri tantas coisas,

o que é a Bucha, pequena refeição ligeira que tomávamos a meio da manhã no campo, matava a fome e o frio. Mesmo de galochas, oleado e luvas, tudo pingava.

O sabor do café quentinho que o meu recente marido me fazia chegar num termo. Que ainda fumegava e se misturava com o nevoeiro onde estávamos.

A técnica da apanha, desde retirar da árvore, a calibrar, pesar, e despachar para a cooperativa. 

Tudo com cuidado e preceito. Não deixar cair porque é frágil, para não danificar, amolgar, desaproveitar. Como a vida.

Conheci a amizade genuína da Celeste. 

As gargalhadas soltas e sonoras da Tia Lena.

Entendi a força física e mental precisa para encarar qualquer trabalho.

Percebi o quanto vale uma maçã no prato. 

O custo de tudo que a maioria não quantifica ou valoriza.

Apreendi a olhar. 

sábado, 24 de outubro de 2020

Planta-me uma árvore

 


 “Às perguntas mais importantes sempre terminamos respondendo com a nossa vida. O que dizemos nesse meio tempo não tem importância, nem os termos e e argumentos com que nos defendemos. No final de tudo, é com os factos de nossa vida que respondemos às indagações que o mundo nos faz com tanta insistência.”

SÁNDOR MÁRAI

 "Whatever you're meant to do, do it now.

The conditions are always impossible.”

Doris Lessing

Escrevo no que resta das folhas em branco de um caderno de música da Carminho.
Não deito fora folhas em branco por escrever ou viver.
A falta, nos define mais que a abundância.
Enquanto cresci, nesse Alentejo, aprendi a respeitar as árvores, o branco e o infinito.
0 relógio hoje parou pelas 5h da tarde.
Oiço os sinos a chamar mas desta vez não é para mim.
Faz 21 anos neste dia eu era a noiva. Chovia, mas nem isso nos salvou.
Ainda assim muitos anos depois do passar das chuvas festejo sempre, ainda que em mesa para um.
O céu azul ABERTO brinda comigo. A Ave capelo a entrar-me nos olhos mas sem fazer ninho.
Reencontro o Sebastião da "Viagem" que me convida para outra, sorrimos.
Num mundo em espera.
Fechado.
Ninguém.
Diluir a dor no tempo. Dos que partem, e da vida que em nada é como a conhecíamos.
Sim estou aqui. Eu e os limites. Como se só hoje.
O passo mais atento. NO CAMINHO. Não regresso.
Em linhas paralelas de um caderno de música emprestado.
Peregrina.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

 “Above all, don't lie to yourself. The man who lies to himself and listens to his own lie comes to a point that he cannot distinguish the truth within him, or around him, and so loses all respect for himself and for others. And having no respect he ceases to love.”—From THE BROTHERS KARAMAZOV

domingo, 11 de outubro de 2020

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Há! Mas são verdes!

Até que sou rapariga de gostar de comer verdes e afins... antes disto ser moda já eu andava no pólen, mesmo sendo alentejana pata negra.

Mas já não se pode com tanta comida saudável a saber ao mesmo.

Degustar sim mas que surpreenda.

Manias de tudo querer brunch e sushi. 

Suspiro por algo de verdade, que me faça salivar. Que aqueça. 

Chega de cafés à la país do norte, restaurantes em tons pastel e espaços a soar a leve e light.

É bowls, salmão e tostas de abacate em cada prato. Menú previsível. Porta sim porta sim... vira o disco e toca o mesmo em todas as ruas. Em loop.

Pura vida mas nem tanto. 

Regressem os taberneiros, 

que falta que me fazem os azulejos feios nas paredes, as cadeiras incómodas lascadas, o verdadeiro velho mosaico hidráulico, o cheiro à tasca de sempre, a conta menos que dez na toalha de papel.

Comer a gordura a escorrer a rodos, venha o pernil e a batatinha frita. 

Saudades de me sentar em frente a um copo a ouvir conversas das caras de quem vive nos lugares de sempre que foram substituídos por mais do mesmo, onde não somos um nome mas um número.

Digo que:

Tenho apetite do tacho simples. Que a barriga é velha e a fome ainda mais. 

E que antes ser do colesterol que da falta dele.



segunda-feira, 5 de outubro de 2020

 


 

Nesta encruzilhada, termino o dia a ver o protagonista do filme Viver num baloiço.

domingo, 4 de outubro de 2020

Ave madrugadora

De visita à Aldeia,

lembro - me sempre daquele poema do Manuel da Fonseca,

ALDEIA

Nove casas,
duas ruas,
ao meio das ruas
um largo,
ao meio do largo
um poço de água fria.

Tudo isto tão parado
e o céu tão baixo
que quando alguém grita para longe
um nome familiar
se assustam pombos bravos
e acordam ecos no descampado.

Manuel da Fonseca


Ainda assim não despertou a professora que o Sr. Domingos conta que para aqui veio descansar, e disse:

 - Esqueci-me de acordar.

Será porque aqui o tempo parou.

Casas de pedra, em torno de uma única rua.

O som das galinhas e do vento a roçar nas azinheiras.

Ensino a Carminho que viver também é quebrar regras e a usar o baloiço só para hospedes.

Aproveito o balanço e vou também no Baloiço e no Balancé. 

Outra vez criança.

O ar na cara, arejo, 

que gaiolas citadinas apodrecem o corpo e tolhem o espirito.

O azul do céu no verde da eira, 

Curada.



sábado, 3 de outubro de 2020

 "Yo no te quiero para ser feliz. Nadie es feliz y nosotros no lo seremos nunca, ni juntos ni separados. No se trata de eso. Ya que hay que sufrir mejor es sufrir con alguien y consolarse en compañía. Tampoco se puede ser bueno a solas".

"Los gozos y las sombras", Gonzalo Torrente Ballester

Michael Kiwanuka - Light (Live at the V&A)

 

Sim, quando só restar a essência. O que fica depois de limpa a sujidade. 

Esse o cheiro.

Peregrino, mesmo que em camas de madeira envelhecida a nossa nudez descanse, e se misture com nadas. 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020


https://youtu.be/-QG7YqEtigM

O teu nome
Flor de acaso ou ave deslumbrante, Palavra tremendo nas redes da poesia, O teu nome, como o destino, chega, O teu nome, meu amor, o teu nome nascendo De todas as cores do dia!
Alexandre O'Neil

terça-feira, 29 de setembro de 2020

domingo, 27 de setembro de 2020

sábado, 26 de setembro de 2020

 


A vida em Offline

Tem dias que em pensamento ainda estou a dançar,

de copo na mão,

na rua do Tati, depois no Tokyo, dou um alô à pujante do Viking, espreito o Jamaica e termino 

onde os navios entram nas pupilas ao amanhecer.

O outro dia no jardim,

vi que,

os jovens ainda se juntam em grupos e

que há beijos que ficam sem espera.

Mesmo que nada volte,

que o Tati mude o sitio,

e o Cais Sodré me lembre os anos desbotados antes de abrir,

continuarei de copo justo,

em calçadas vazias, ocas

de música francesa.

Sairei de casa sem marcações,

a um balcão, a um copo, a um abraço

a uma vida de improviso.

a um poster do Bob Dylan à espreita,

"Don't Look Back"






quinta-feira, 24 de setembro de 2020

She's Always a Woman

Counting Crows - Mr. Jones (Official Video)

"Tem a coragem de te não recusares ao milagre de ti próprio."
~ Agostinho da Silva

Jiri Kolar


Last Night When were Young


“Last night when were Young

Love was a star, a song unsung

Life was so new, so real so right

Ages ago Last Night

[...]”



Last Night, yesterday, you looked up!

That was what happened!


I looked ahead ..

because I had to,

because I really had to see where the sky becomes the sea,


and it happens in your eyes!

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

 O passado é um país distante. Lá, tudo é feito diferente.

L.P. Hartley, O mensageiro.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Jesus é Goês, e será de toda a parte, mas é mais da Rua de São José


Nesta rua sei que está.
Anda a pregar rua fora.
Deixou o carro engalanado que nos leva aos céus, estacionado aqui à porta até ao próximo da fila.
Enquanto isso eu é vinho e chamuças antes que.
Será que ainda tenho tempo de ler os livros?
O papel pesa, mas mais senão for lido.
E saborear leva tempo.
Nas mesas do lado mulheres isoladas em zigzag escrevem.
O cozinheiro pujante pergunta-me se estava tudo bom.
Como dizer-lhe que as malaguetas cresceram ao rubro na minha boca, desentupiram canais que nem eu sabia que existiam e agora é respirar.
Matam o bicho certamente.
Entre isso e Jesus alguém se há de salvar. Do mal ou da cura.
A empregada franzina alerta e insiste com uma cliente amiga na prova do prato goês:
- A tua vida vai mudar depois de provares. Há um antes e um depois.
Levanto o sobrolho e sinto que são palavras certas.
Depois disto é o fim da linha. Os turistas despontam timidamente das calçadas. Acéticos.
Nunca Lisboa.
Rua abaixo vou dar às Portas de Santo Antão. Vazias.
Entediados na porta dos restaurantes empregados de olho no telemóvel. Já não me chamam para as mesas, julgarão que Jesus replicou o pão e o vinho na minha barriga.
Coliseu às escuras.
O Politeama trancado e promete que espera por mim.
Dez da noite duma quente noite de Setembro.
A barra do balcão mais concorrido quase vazia.
Aqui jaz muito croquete de chorar por mais.
Tão felizes que nós éramos.
Tanto silêncio que até faz ruído.
Espera...ouvi palmas!...Só podia, da Casa do Alentejo. Reparo que ainda tem luzes no último andar.
Onde há um alentejano há caminho!
Ginjinha fechada.
Passo pelo Rossio, mas já ninguém passa por mim.
Bem mas mesmo que não fique tudo bem, como se alguma vez tivesse estado...
As coisas começam e acabam com a história do Era uma vez, e ainda dizem que Jesus é Goês.



terça-feira, 8 de setembro de 2020

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

sábado, 5 de setembro de 2020

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

eu sim e tu não?

merda de margens, fronteiras, limites, 

falta-me o ar, 

e as possibilidades,

sou ilimitada, 

iberno.

The Strokes - I'll Try Anything Once

Franz Ferdinand - Take Me Out (Official Video)

terça-feira, 25 de agosto de 2020

"Nós fomos os Leopardos, os Leões; quem nos substituirá serão os pequenos chacais, as hienas; e todos - Leopardos, chacais e ovelhas - continuaremos a acreditar que somos o sal da terra."

Somos todos crianças sobre um só Deus.
Dalai Lama

'Uma pessoa não é grande porque faz isto ou aquilo, nem por a sua acção ser determinada por este ou por aquele motivo. Só é grande na medida em que cria para si mesma o espaço necessário para todo o tipo de acções ou sentimentos. (...) O ser humano maior seria aquele no qual houvesse espaço para tudo, por possuir o estômago espiritual, a força assimiladora de tudo (...). É errado, é artificial, distinguir ainda uma beleza moral, pois a beleza da chamada alma, tal como a do corpo, não é mais do que a sua harmonia imanente.'
Lou Andreas-Salomé, in "Na Rússia com Rilke"

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

 

 

houve tempos em que a saída
de um corpo para o mar
era o único lugar possível

até ao dia em que os olhos
– azuis, de um azul impossível
foram salvos do sequestro da exposição
por uma criança genuína

e ainda trago uma mão no teu rosto
e outra na vida
que corre para fora de mim

é uma questão de parto
crescemos por onde a água
ganha o seu caminho
por isso a minha vida foi sempre a escavar
por isso abri os melhores sulcos na terra e no rosto
e esperei o tempo de um corpo inteiro, esperei
como a criança recebe a vida toda por um segundo
no teu joelho
e como ela abri os braços e a claridade da minha sede

foi a água que escasseou
nas minhas mãos

Sammuel C. Dayton
- diários de um corpo menor

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Chico Buarque define solidão...

Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente... Isto é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto e circunstância!
Solidão é muito mais do que isto...
SOLIDÃO é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.

Francisco Buarque de Holanda (Poeta, compositor e cantor)

CHICO BUARQUE FUTUROS AMANTES

Num copo de vinho que nem é bem branco,
numas ostras que não são as de Cacela, numa rua que não é de Roma, numa quarta que parece domingo, num Agosto sem gosto. O problema dos entas é que já provamos muito, mas sempre temos a manteiga no pão como garantido, e o chocolate ó menina!

A imagem pode conter: desenho

Quando juntos...éramos.

Há contudo um lugar onde a paixão se esconde para explodir: o olhar.

Eugénio de Andrade

terça-feira, 4 de agosto de 2020

"A vida diluí-nos o corpo e a memória, afoga-nos os sonhos, encaixa-nos na rotina, embrulha-nos as mãos, segura-nos os pés, finge que nos ama, finge que não é preciso lutar. Aprendi com o meu avô que ser feliz não é um direito, é uma obrigação. É preciso fazer tudo para ser feliz. Mas fazer o quê? Respirar. Marcar a hora de acordar no despertador. Deixar o coração bater. Pôr peixe a descongelar para o jantar. Regar as flores dos vasos. Levar o cão à rua. Passar uma camisa. Queimar um pau de incenso. Abrir uma janela. Espanar um tapete. Cortar o cabelo. Comer uma romã. Fazer o quê?"

In A Solidão dos Inconstantes - Raquel Serejo Martins

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segunda-feira, 3 de agosto de 2020

"Cada uno de nosotros sigue perdiendo algo muy preciado. Oportunidades importantes, posibilidades, sentimientos que no podrán recuperarse jamás. Esto es parte de lo que significa estar vivo".
Haruki Murakami
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Uma segunda feira primeira de Agosto, na pele que nem Blue Monday. Uma Lisboa sem saborosa. Com falta de gás. As bolhas já não respiram nos copos. Agora raros, e os que se encontram não se tocam. Desconfiados não se erguem a festejar semelhante atrevimento nem na socapa. Os mortos pesam sempre mais que os números de verdade. O ábaco interno não falha. Lis, entre travessas, que boa ficou pela primeira vez tanto para os resistentes como para os medrosos. As ruas vazias de carros e de gente, mas o olho aberto no choque em cadeia aleatório do que resta fora nada. Os relógios descompassados, entre encontros, desencontros, rapidinhas e prolongamentos. A vida, que é uma caixa fora da caixa sempre surpreendente. E mesmo sem gás, vai com pilha ou bateria sobresselente. Vai com tudo, que a energia é renovável e se transforma. E o gerador interno um contra-corrente.

Wolf Alice - Don't Delete the Kisses (Official Video)

"La realidad era yo en mi pequeñez, sin más arma que mi inteligencia, sin más capital que mi voluntad y mi perspicacia, mi capacidad de juicio para buscar mi propio destino”. Rosa Chacel
Nenhuma descrição de foto disponível.
A imagem pode conter: ‎texto que diz "‎A SUA ESTRADA É SOMENTE SUA. OUTROS PODEM ACOMPANHÁ-LO, MAS NINGUÉM PODE ANDAR POR VOCÊ. RUMI ג‎"‎

domingo, 26 de julho de 2020

Nós sabemos sempre quando não cabe nas palavras.

domingo, 19 de julho de 2020

Sim, é preciso coragem



Hoje resolvi abrir uma cápsula do tempo.
Faz 20 anos que a tinha fechado.
É é incrível como éramos com vinte anos menos.
As fotografias é que são um murro no estomago.
Os Slides como prova para complemento da história.
Voltar a ver-me, de cabelo à rapaz, leve e feliz.
Os guias de viagens,
o mundo era aberto e a vida pela frente.
Restos de frascos de perfume, que não me perturbaram.
Postais, ainda se escreviam tantas cartas,
isqueiros, fósforos,
os convites do baile de gala.
Bilhetes cheios de lágrimas e risos.
Livros brancos escritos de poesia,
conchas do mar e búzios,
restos de rosas...
quebradas, como se quebrou a inocência,
que é o que mais me custa ter perdido.
Tudo era intenso e infinito como só se pode ser nessa idade.
Suspirei fundo,
recordo que em criança perguntava à minha avó porque suspirava ela tanto,
- a vida é uma ilusão dizia-me.
Já percebi.
Voltei a selar a caixa,
mas desta vez libertei dois livros que lá tinha encerrado,
o Amor - Marguerite Duras e Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada, Pablo Neruda.
pode ser que daqui a outros vinte anos eu os saiba de cor e tenha aprendido alguma lição.



Dois amantes ditosos fazem um único pão,
uma única gota de luar sobre a erva,
ao andar deixam duas sombras que se reúnem,
deixam um único sol vazio numa cama.
De toda as verdades escolheram o dia:
não se ataram com fios mas com um aroma,
e não despedaçam a paz nem as palavras.
A ventura é uma torre transparente.
O ar, o vinho vão com os dois amantes,
a noite oferece-lhes suas pétalas ditosas,
a todos os cravos têm eles direito.
Dois amantes ditosos não têm fim nem morte,
enquanto vivem, nascem e morrem muitas vezes,
têm a eternidade que é da natureza.
Pablo Neruda
The Taste Of Índia
Já passam das dez da noite, num julho covidico e eu e os meus apetites de última hora.
Sabores indianos.
Saio sem demoras e esperanças.
Vale que tenho um restaurante indiano em frente de casa.
Vale que ainda não fechou.
Vale que tem uma mesa cá fora à minha espera.
Vale que tem comida indiana caseira,
Vale que tenho o estômago rijo para o que der e vier.
Vale que aguento o picante, do indiano que me serve e do que tenho no prato.

sábado, 18 de julho de 2020

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, oceano, ar livre e água

O carrocel desbotado

Não! começo pelo não, esta palavra poderosa, tal como o Sim! 
Mas mais, se for sentida como nenhum sim.
Poupa tempo e gastos desnecessários de energia.
O "Não" é o novo Black para todas as horas.
Dito por nós e ouvido por nós em todas as esquinas.
Ficamos à porta.
Já não se entra em parte alguma ou em ninguém.
Mesmo a custo para quem cresceu livre no Verão Azul.
Somos crianças feitas para grandes férias, como dizia o Ruy Belo.
E de repente, num dia normal como noutro qualquer da nossa vidinha, ouvimos a noticia remota de que mais um virús. E vem mais outro e outros mais virão a caminho.
Não fosse isto um penico, o problema seria só deles.
Mas além disto ser um penico, é um penico que anda à roda.
Ainda acredito que,
CADA FIM É UM INÍCIO.
Apenas andávamos distraidos, e quando andamos distraidos é que elas acontecem.
Salto coletivo para o desconhecido, mas o que é que é conhecido?
Se o que era já não é.
De repente tudo adquire um significado diferente. As crises pessoais ou gerais servirão para nos nivelar.
O valor de uma coisa apenas é proporcional à nossa energia gasta nesse despêndio de concretização.
Instável. Por isso tudo será sobrevalorizado.
Mas o que se pode construir em baralhos de cartas?
EU QUE NEM SEI JOGAR!
Tenho as mãos pequenas e vazias.
Aprendo de letra a "Construção" do Chico Buarque. 
Quero mergulhar em silêncio, e vir ao de cima desfocada e miúpe como sempre e não encontrar a toalha. Que deveria estar cheia de areia e rodeada de gente.
Mas regresso do mar e vejo o vazio nos olhos alheios. Tateio nestes passeios desconhecidos.
O absurdo. As enchentes que restam da onda de adolescentes a quebrar as proibições.
AS OBRIGAÇÕES da máscara a cada segundo.
Não fico em casa pela minha saúde.
Ainda preciso muito de ar fresco.
De solidão também se morre. 
Não quero metros a medir carinhos.
A minha régua nunca foi a uso.
Os nossos T2 na cidade não possuem jardins à beira mar plantados.
E não há para onde fugir. Não se trata de fronteiras.
Mas as BARREIRAS.
Como e quando é possivel um sim?
E a coragem de O viver, que ainda que não me falte, terei de O sentir por inteiro.
E estamos todos aos cacos partidos.
4h da tarde de um fim de semana irrespirável, nem os carros circulam.
Apenas os cavalos e os Cow-boys no deserto do Oeste Americano continuam, que numa América ainda há muitas, e os terrenos e os dias por lá são grandes se estivermos sem sede e com sorte fora da mira dos olhos abutres ávidos de restos e de sangue.
Nenhuma descrição disponível.
Fazer de um dia um acto de coragem,
Ir ao café do bairro,
Ao mercadinho,
Falar com os vizinhos,
Comprar pão e vinho,
O cinema que não pode mais esperar,
Voltar à solidão de carregar o congelador,
O Verão em estilo closet,
Sunset pelo canudo, mas que se lixe!
eu preciso de esplanadar!
São as novas rotinas,
Num sábado, como outro qualquer de 2020! Nunca tão 2 e 2 foram 4!
E eu, que até sou mais de letras que de números!
"como é possivel falar de uma coisa que é para se ver?"
Vieira da Silva~

Don't Mention The War

The Swing Shouters - When I Get Low I Get High


Notas de rodapé, numa sexta de um Julho quente, mas não tão quente como deveria.
A propósito deste novo estado de actualidade,
a dor de cotovelo deixou de ser indicativa da “dor” a que era referente. Nesta realidade pode indicar exactamente o oposto. Até chegar ao absurdo de pensar que “ainda nos resta o cotovelo!”
Desejo chegar ao fim do dia com os ditos doridos.
Os que eram de abraços e toques como eu pensarão o mesmo.
Os distantes, que se inibiam de fazer pontes físicas estarão nas nuvens.
Mas as histórias que caminham não se fazem de distantes, mas de calorosos presentes. Nenhum homem é uma Ilha.
Que não nos faltem e falhem então os cotovelos, que pouco contacto físico nos resta, entre sorrisos escondidos e olhos embaciados e desfocados à espreita.
Que o medo esteja apenas de visita, que não faça disto ninho ou bandeira.
Deixaremos?
Eu não❣️