"Os tiranos, os ditadores, os manipuladores, os abusadores de direitos e de outrem, são os eternos medrosos, escudando-se noutros em protecção e companhia, fugindo da solidão e abandono, que tão bem conhecem.
Não precisam desse escudo, quando assumem louros, mesmo que não sejam os devidos contemplados.
Têm, contudo, o problema de não saberem Ser.
Temem a liberdade e dão-se muito mal com a equidade e a justiça, sobretudo quando ela é justa e os contemplados com o prémio não são eles.
Em simultâneo, são incapazes de sobreviver sem se esmurrarem (negando os filhos, se necessário!) na tão desejada ascensão ao palco.
Desconhecem que nunca brilharam, brilham ou brilharão.
Não sabem que são baços, opacos, que estão manchados pelo desamparo e ameaça das trevas.
Ávidos de protagonismo, ainda que jamais merecedores, ou mesmo que nada tenham contribuído para tal, roubam feitos e inventam outros tantos, tão só para que a sua exibição seja louvada e glorificada em público e, caso este não exista, paga-se, ameaça-se, impõe-se e mendiga-se para que exista o tão precioso reconhecimento.
Eles (e elas) são os perpétuos abandonados, deitando-se diariamente com os próprios medos e com os de novos abandonos.
Tremem de cima a baixo perante a honra e a sanidade de um carácter.
Tremem e temem porque nunca sentiram o amor.
São os desamados, os descurados da felicidade, os escorraçados do direito dos prazeres.
Deitam-se e levantam-se no seio do espinhoso desprazer, do pérfido desconsolo.
Nem mais conseguem desejar ou fantasiar, senão mal, vingança, ódio, massa de que são feitos.
Sorriem como vomitam.
Debitam doença por todos os poros, como manda a mansidão do medo.
A denúncia é sempre implacável e eles próprios se amordaçam no único sentimento que vivem – o MEDO, o infinito e estrangulador medo.
Jamais conseguem olhar, tranquilamente, de frente.
Jazem ancorados nas paranóias.
Jamais se afastam da sua segurança e confiança na cobardia.
São os mais puros exemplares do disfarce e dos efeitos da rejeição.
Liberdade, igualdade e justiça desconhecem o medo.
Os enfermos de carácter estão impregnados dele.
Assustam-se, até, com a própria sombra, sempre alerta.
Se o navio ameaça afundar, são os primeiros a rasparem-se. Antes dos filhos.
Contudo, travestem-se de grandiosidades, honras e orgulhos, intentando salvaguardar uma integridade cheia de moléstias, que não pára de sangrar medo e desesperança, sem vislumbre de forma de purga.
Temem a igualdade por temerem a verdade.
Abaixo deles só estão restos deles, cacos, fragmentos e a morte em material psicológico decomposto.
São os filhos da mentira, do impulso, do primário, da ambivalência e incongruência.
São os filhos do sítio onde nada tem sentido lógico, abstracto, continuado e universal.
São filhos do sítio onde as premissas e valores são o egoísmo, o capricho, o egocentrismo e o primarismo do princípio do prazer próprio e imediato.
Vivem na idealização e glorificação da própria supérflua e falsa grandiosidade, que quando se desmorona, despeja-se dolorosamente nas rugas do desamparo, já tão familiarizado.
São uns pujantes e poderosos candidatos ao Nobel do disparate, se este existisse.
São fugidios, reptícios e viventes de pérfidos esconderijos.
Os subterfúgios a que recorrem nunca são os transparentes e fiéis comparsas da honestidade.
Nunca estão de igual.
A menoridade e a rastejante subalternidade, impregnada em cada fragmento desses sofridos sobreviventes seres, não dá tréguas.
Como náufrago em si, exige que essa inferioridade seja compensada e enfeitada com manifestos de exaltação de ego, auto-injectando as caracterizações e competências que apenas eles próprios conseguem identificar, no ridículo das circunstâncias.
Alheios a qualquer tipo de auto-crítica estão sujeitos aos mais miseráveis e patéticos conceitos por eles próprios construídos.
Usam e gostam da mentira e da ameaça, para se sentirem protegidos, enquanto sobreviventes incompletos, oriundos da incerteza, da falência, da insegurança, da susceptível corrupção e do suborno.
Gostam do poder, para alimentar a própria mentira e para camuflarem as próprias dores e agonias da inserenidade.
Alerta constante dos delírios, perigos sentidos e percepcionados, que de qualquer lugar se podem evidenciar. Da sua interioridade, em primeiro lugar e, depois, da extrapolação defensiva dessa doente interioridade, para a exterioridade.
Está, nesses enfermos, ainda, a limitação de perceberem como constroem o que os circunda.
Vêm as suas tatuadas dores e os próprios persecutórios fantasmas ao seu redor e conspurcam todos os ambientes em que se infiltram.
Infiltram-se, desonrosamente, quais ratazanas infestadas de males, em quaisquer meandros que lhes promovam sentirem algum valor dentro do seu eterno desvalor e desvalia.
Gostam da sua imposição e do desrespeito, porque o conhecem desde o nascimento.
São verdadeiros cúmplices da massacrante angústia de separação, da inaceitação, da negligência e da desintegração.
São vítimas do desconforto invariável.
São uns Não-São.
Cresceram e desenvolveram-se na interioridade do abandono, na interioridade de um útero psicológico punitivo, castrador, vadio, frio, alheado e ferrado em dor.
Estão incompletos, inacabados, enfermos que acartam a própria moléstia do nascimento ao caixão.
São os eternos incompetentes, inoperantes, mascarados, contudo sempre ávidos e aspiradores de presença e poder.
Intoleram qualquer frustração, quais criancinhas caprichosas e mal vividas.
Vivem na sombra do medo, escudados por uma importância que só eles a identificam.
A companhia da viagem onírica, dos sujeitos enfermos de carácter, é o terror, o susto, o pesadelo, o suor untoso e gélido.
Sempre em alerta, com moletas (cães de capanga) e sem tréguas.
Fedem a medo por todos os poros, demonstrado pelos sorrisos tensos de incerteza e insegurança, bem como pelo ferro da rejeição.
Vivem a repetição do abandono, da invinculação, ou vivem pelas tóxicas certezas que engendram, obediente e rigidamente, para sobreviver à panóplia de mansidão a que estão sujeitos, pelos seus acumulados rancores, já transformados em amargas certezas que conferem a corrosiva “ordem natural das suas coisas”.
São sociopatias, psicopatias, tiranias e manipulações … são enfermos do carácter, escudados na doença social, na doença, no medo que não desgruda e na vingança traiçoeira.
Usufruem do poder da circunstância e do poder do logro.
Sempre ávidos e disponíveis para um qualquer comando, para remediar e remendar os fundos lanhos que exibem nos seus não elegíveis esqueletos psicológicos.
Têm fim curto.
Só que se clonam, quais ninhadas de fungos.
Sai um entra outro.
A digníssima vontade, que de todo desconhecem, está para além das pulsões básicas do mal e da sociopatia, esta movida pela inferioridade enraizada no âmago da sua atroz sobrevivência.
Morrem pelos próprios meios, em cega e imponderada obediência com que debitam os seus sintomas em formato de rancores e incompetência.
Nunca está, ao alcance destes enfermos, o poder comunitário, de grupo, centrado no fundamento dos postulados da igualdade e honestidade do sufrágio.
Serem os eternos ilegíveis, está na base do entendimento da análise do substrato formal e de conteúdo dos registos intrapsíquicos dos infectados no carácter.
É a falsidade, a mentira e o jeitinho circunstancial que lhes corre e corrói.
Os pré-conceitos e os conceitos duram, para estes manhosos enfermos, o tempo das suas próprias conveniências.
São mutantes, consoante os ares … vivem na deriva, sem porto, sem razão.
Ostentam serem e parecerem um muro blindado de rigor e razão, mas que foi construído pelo medo, por maus ventos, maus vínculos, maus pais, más mães, descoloridas matrizes de aleitamento … em todos os seus fragmentos … persecutório, intoxicado, abandónico e abandonado.
Foram escarrados, não foram paridos.
Mas são epidemia."