Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Moléstias de um carácter enfermo


"Os tiranos, os ditadores, os manipuladores, os abusadores de direitos e de outrem, são os eternos medrosos, escudando-se noutros em protecção e companhia, fugindo da solidão e abandono, que tão bem conhecem.
Não precisam desse escudo, quando assumem louros, mesmo que não sejam os devidos contemplados.
Têm, contudo, o problema de não saberem Ser.
Temem a liberdade e dão-se muito mal com a equidade e a justiça, sobretudo quando ela é justa e os contemplados com o prémio não são eles.
Em simultâneo, são incapazes de sobreviver sem se esmurrarem (negando os filhos, se necessário!) na tão desejada ascensão ao palco.
Desconhecem que nunca brilharam, brilham ou brilharão.
Não sabem que são baços, opacos, que estão manchados pelo desamparo e ameaça das trevas.
Ávidos de protagonismo, ainda que jamais merecedores, ou mesmo que nada tenham contribuído para tal, roubam feitos e inventam outros tantos, tão só para que a sua exibição seja louvada e glorificada em público e, caso este não exista, paga-se, ameaça-se, impõe-se e mendiga-se para que exista o tão precioso reconhecimento.
Eles (e elas) são os perpétuos abandonados, deitando-se diariamente com os próprios medos e com os de novos abandonos.
Tremem de cima a baixo perante a honra e a sanidade de um carácter.
Tremem e temem porque nunca sentiram o amor.
São os desamados, os descurados da felicidade, os escorraçados do direito dos prazeres.
Deitam-se e levantam-se no seio do espinhoso desprazer, do pérfido desconsolo.
Nem mais conseguem desejar ou fantasiar, senão mal, vingança, ódio, massa de que são feitos.
Sorriem como vomitam.
Debitam doença por todos os poros, como manda a mansidão do medo.
A denúncia é sempre implacável e eles próprios se amordaçam no único sentimento que vivem – o MEDO, o infinito e estrangulador medo.
Jamais conseguem olhar, tranquilamente, de frente.
Jazem ancorados nas paranóias.
Jamais se afastam da sua segurança e confiança na cobardia.
São os mais puros exemplares do disfarce e dos efeitos da rejeição.
Liberdade, igualdade e justiça desconhecem o medo.
Os enfermos de carácter estão impregnados dele.
Assustam-se, até, com a própria sombra, sempre alerta.
Se o navio ameaça afundar, são os primeiros a rasparem-se. Antes dos filhos.
Contudo, travestem-se de grandiosidades, honras e orgulhos, intentando salvaguardar uma integridade cheia de moléstias, que não pára de sangrar medo e desesperança, sem vislumbre de forma de purga.
Temem a igualdade por temerem a verdade.
Abaixo deles só estão restos deles, cacos, fragmentos e a morte em material psicológico decomposto.
São os filhos da mentira, do impulso, do primário, da ambivalência e incongruência.
São os filhos do sítio onde nada tem sentido lógico, abstracto, continuado e universal.
São filhos do sítio onde as premissas e valores são o egoísmo, o capricho, o egocentrismo e o primarismo do princípio do prazer próprio e imediato.
Vivem na idealização e glorificação da própria supérflua e falsa grandiosidade, que quando se desmorona, despeja-se dolorosamente nas rugas do desamparo, já tão familiarizado.
São uns pujantes e poderosos candidatos ao Nobel do disparate, se este existisse.
São fugidios, reptícios e viventes de pérfidos esconderijos.
Os subterfúgios a que recorrem nunca são os transparentes e fiéis comparsas da honestidade.
Nunca estão de igual.
A menoridade e a rastejante subalternidade, impregnada em cada fragmento desses sofridos sobreviventes seres, não dá tréguas.
Como náufrago em si, exige que essa inferioridade seja compensada e enfeitada com manifestos de exaltação de ego, auto-injectando as caracterizações e competências que apenas eles próprios conseguem identificar, no ridículo das circunstâncias.
Alheios a qualquer tipo de auto-crítica estão sujeitos aos mais miseráveis e patéticos conceitos por eles próprios construídos.
Usam e gostam da mentira e da ameaça, para se sentirem protegidos, enquanto sobreviventes incompletos, oriundos da incerteza, da falência, da insegurança, da susceptível corrupção e do suborno.
Gostam do poder, para alimentar a própria mentira e para camuflarem as próprias dores e agonias da inserenidade.
Alerta constante dos delírios, perigos sentidos e percepcionados, que de qualquer lugar se podem evidenciar. Da sua interioridade, em primeiro lugar e, depois, da extrapolação defensiva dessa doente interioridade, para a exterioridade.
Está, nesses enfermos, ainda, a limitação de perceberem como constroem o que os circunda.
Vêm as suas tatuadas dores e os próprios persecutórios fantasmas ao seu redor e conspurcam todos os ambientes em que se infiltram.
Infiltram-se, desonrosamente, quais ratazanas infestadas de males, em quaisquer meandros que lhes promovam sentirem algum valor dentro do seu eterno desvalor e desvalia.
Gostam da sua imposição e do desrespeito, porque o conhecem desde o nascimento.
São verdadeiros cúmplices da massacrante angústia de separação, da inaceitação, da negligência e da desintegração.
São vítimas do desconforto invariável.
São uns Não-São.
Cresceram e desenvolveram-se na interioridade do abandono, na interioridade de um útero psicológico punitivo, castrador, vadio, frio, alheado e ferrado em dor.
Estão incompletos, inacabados, enfermos que acartam a própria moléstia do nascimento ao caixão.
São os eternos incompetentes, inoperantes, mascarados, contudo sempre ávidos e aspiradores de presença e poder.
Intoleram qualquer frustração, quais criancinhas caprichosas e mal vividas.
Vivem na sombra do medo, escudados por uma importância que só eles a identificam.
A companhia da viagem onírica, dos sujeitos enfermos de carácter, é o terror, o susto, o pesadelo, o suor untoso e gélido.
Sempre em alerta, com moletas (cães de capanga) e sem tréguas.
Fedem a medo por todos os poros, demonstrado pelos sorrisos tensos de incerteza e insegurança, bem como pelo ferro da rejeição.
Vivem a repetição do abandono, da invinculação, ou vivem pelas tóxicas certezas que engendram, obediente e rigidamente, para sobreviver à panóplia de mansidão a que estão sujeitos, pelos seus acumulados rancores, já transformados em amargas certezas que conferem a corrosiva “ordem natural das suas coisas”.
São sociopatias, psicopatias, tiranias e manipulações … são enfermos do carácter, escudados na doença social, na doença, no medo que não desgruda e na vingança traiçoeira.
Usufruem do poder da circunstância e do poder do logro.
Sempre ávidos e disponíveis para um qualquer comando, para remediar e remendar os fundos lanhos que exibem nos seus não elegíveis esqueletos psicológicos.
Têm fim curto.
Só que se clonam, quais ninhadas de fungos.
Sai um entra outro.
A digníssima vontade, que de todo desconhecem, está para além das pulsões básicas do mal e da sociopatia, esta movida pela inferioridade enraizada no âmago da sua atroz sobrevivência.
Morrem pelos próprios meios, em cega e imponderada obediência com que debitam os seus sintomas em formato de rancores e incompetência.
Nunca está, ao alcance destes enfermos, o poder comunitário, de grupo, centrado no fundamento dos postulados da igualdade e honestidade do sufrágio.
Serem os eternos ilegíveis, está na base do entendimento da análise do substrato formal e de conteúdo dos registos intrapsíquicos dos infectados no carácter.
É a falsidade, a mentira e o jeitinho circunstancial que lhes corre e corrói.
Os pré-conceitos e os conceitos duram, para estes manhosos enfermos, o tempo das suas próprias conveniências.
São mutantes, consoante os ares … vivem na deriva, sem porto, sem razão.
Ostentam serem e parecerem um muro blindado de rigor e razão, mas que foi construído pelo medo, por maus ventos, maus vínculos, maus pais, más mães, descoloridas matrizes de aleitamento … em todos os seus fragmentos … persecutório, intoxicado, abandónico e abandonado.
Foram escarrados, não foram paridos.
Mas são epidemia."

sábado, 24 de setembro de 2016

After you've Gone Dinah Washington


"A doença é um conflito entre a personalidade e a alma.
A constipação acontece quando o corpo não chora.
A dor de garganta entope quando não é possível comunicar as aflições.
O estômago arde quando as raivas não conseguem sair.
O diabetes invade quando a solidão dói. ...
O corpo engorda quando a insatisfação aperta.
A dor de cabeça deprime quando as duvidas aumentam.
O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar.
A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável.
As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas.
O peito aperta quando o orgulho escraviza.
A pressão sobe quando o medo aprisiona.
As neuroses paralisam quando a "criança interna" tiraniza.
A febre aumenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade.
Os joelhos doem quando o orgulho não se dobra.
O cancro mata quando não se perdoa e/ou cansa de viver.
E as dores caladas? Como falam no nosso corpo? A doença não é má, ela avisa quando erramos na direcção.
O caminho para a felicidade não é recto, existem curvas chamadas EQUÍVOCOS, existem semáforos chamados AMIGOS, luzes de precaução chamadas FAMÍLIA, e ajudará muito ter no caminho uma peça de reposição chamada DECISÃO, um potente motor chamado AMOR, um bom seguro chamado DETERMINAÇÃO, abundante combustível chamado PACIÊNCIA.
Mas principalmente um maravilhoso CONDUTOR chamado INTELIGÊNCIA , Consciência e Sensibilidade."

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O corpo tem degraus, todos eles inclinados
tem milhares de lembranças do que lhe aconteceu
filiação, geometria
umdesabamentoquecomeça do avesso
e formas que ninguém ouve ...
O corpo nunca é o mesmo
ainda quando se repete:
deondevemestebraçoquetoca no outro,
deondevêmestaspernasentrelaçadas
como alcanço este pé que coloco adiante?
não aprendo com o corpo a levantar-me,
aprendo a cair e a perguntar.
José Tolentino Mendonça
in Estação Central, 2012

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

O HOMEM MAGNETICO NÃO É COMMUNICATIVO.
COMMUNICA-VOS ELLE ALGUMA NOVIDADE?

Nada que possa parecer-se com exaltação.
A esphera das suas ideias eleva-se acima
do desejo de excitar admiração. Diz que o Mundo attribue força áquelles que não entende. Nunca perdeis a força de um segredo. Fixae que os rios tranquillos são mais profundos.


- Mola Dudle

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

No necesites a nadie que no te necesite a ti.
- M. Monroe

Seascape (1875)  John Singer Sargent

sábado, 17 de setembro de 2016

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

  1. Desculpe o transtorno, preciso falar da Clarice.
    Conheci ela no jazz. Essa frase pode parecer romântica se você imaginar alguém tocando Cole Porter num subsolo esfumaçado de Nova York. Mas o jazz em questão era aquela aula de dança que todas as garotas faziam nos anos 1990 –onde ouvia-se tudo menos jazz. Ela fazia jazz. Minha irmã fazia jazz. Eu não fazia jazz mas ia buscar minha irmã no jazz. Ela estava lá. Dançando. Nunca vou me esquecer: a música era "You Oughta Know", da... Alanis.
    Quando as meninas se jogavam no chão, ela ficava no alto. Quando iam pra ponta dos pés, ela caía de joelhos. Quando se atiravam pro lado, trombavam com ela que se lançava pro lado oposto. Os olhos, sempre imensos e verdes, deixavam claro que ela não fazia ideia do que estava fazendo. Foi paixão à primeira vista. Só pra mim, acho.
    Passamos algumas madrugadas conversando no ICQ ao som de Blink 182 e Goo Goo Dolls. De lá, migramos pro MSN. Do MSN pro Orkut, do Orkut pro inbox, do inbox pro SMS.
    Começamos a namorar quando ela tinha 20 e eu 23, mas parecia que a vida começava ali. Vimos todas as séries. Algumas várias vezes. Fizemos todas as receitas existentes de risoto. Queimamos algumas panelas de comida porque a conversa tava boa. Escolhemos móveis sem pesquisar se eles passavam pela porta. Escrevemos juntos séries, peças de teatro, filmes. Fizemos uma dúzia de amigos novos e junto com eles o Porta dos Fundos. Fizemos mais de 50 curtas só nós dois —acabei de contar. Sofremos com os haters, rimos com os shippers. Viajamos o mundo dividindo o fone de ouvido. Das dez músicas que mais gosto, sete foi ela que me mostrou. As outras três foi ela que compôs. Aprendi o que era feminismo e também o que era cisgênero, gas lighting, heteronormatividade, mansplaining e outras palavras que o Word tá sublinhando de vermelho porque o Word não teve a sorte de ser casado com ela.
    Um dia, terminamos. E não foi fácil. Choramos mais que no final de "How I Met Your Mother". Mais que no começo de "Up". Até hoje, não tem um lugar que eu vá em que alguém não diga, em algum momento: cadê ela? Parece que, pra sempre, ela vai fazer falta. Se ao menos a gente tivesse tido um filho, eu penso. Levaria pra sempre ela comigo.
    Essa semana, pela primeira vez, vi o filme que a gente fez juntos —não por acaso uma história de amor. Achei que fosse chorar tudo de novo. E o que me deu foi uma felicidade muito profunda de ter vivido um grande amor na vida. E de ter esse amor documentado num filme —e em tantos vídeos, músicas e crônicas. Não falta nada.
    Gregório Duvivier - 12/09/2016

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Be a lamp, or a lifeboat, or a ladder.
Help someone’s soul heal.
Walk out of your house like a shepherd.
~ Rumi

sábado, 3 de setembro de 2016


“As pessoas só ficam realmente interessantes quando começam a sacudir as grades de suas gaiolas”.