sábado, 24 de novembro de 2018
quinta-feira, 15 de novembro de 2018
terça-feira, 13 de novembro de 2018
"… acho esse relógio cansado como já o foi, em tempos muito distantes, o meu coração de mecânica experimental; o que tu não chegas, espanta-me!… as flores devem estar já demasiado abertas, demasiado amarelo o chá para o marfim das minhas raízes dentais … a espera é um matrimónio muito rigoroso, muito silencioso e às vezes um pouco violento: nessas alturas embrulho-me numa manta e não presto atenção à tua ausência; vou pôr mais chá a fazer… também faço biscoitos de limão em forma de corações miudinhos, embora eu não goste de coisas que os olhos não vêm sem grandeza… mas o que é o gostar quando se tem as veias endurecidas pelos pós fabricados no laboratório velho das farmácias viciosas …?; às vezes penso em como será estar aborrecida contigo e nesse instante acho-me vulgar, como vulgar seria abrir uma manta e agasalhar-te em mim e chamar-te meia: minha-meia e beijar-te…; andas por aí fora, sem a guarda dos meus dedos resistentes às chuvas e aos relâmpagos; quando chegares, num pires coloco os biscoitos em forma de corações minúsculos e num outro, uns sons que colhi por estas manhãs para que te recordes do mundo de onde viemos, talvez antes do fim de pompeia…; quando eu morrer e doar o meu corpo em pedaços para que os poetas o comam à mão, tudo lhes há-de saber a antes: sem os vestígios dos sanatórios: lavei-os todos com baba e soda à saída das salas esverdeadas dos escarratórios que tu nunca hás-de cheirar…quanta música queres de verdade no pires raso da minha morte…?... mas eu espero…e só agora é que a chaleira começou a cantar algo que me parece ser em grego…"
Luisa Monteiro
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