Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


domingo, 12 de fevereiro de 2012

Poema

Agora, que regresso, são novos os retratos sobre o tampo da mesa;
e outros também os livros e os enredos e as histórias concebidas sobre a cama onde antes se demorava o meu perfume se eu partia.
É como se voltasse apenas de perfil; e do romance outrora longamente entalado entre os dedos já só sobrasse uma lombada estreita, acanhada na estante. Havia um sonho exausto sobre as minhas pálpebras antes de ter chegado, e agora que regresso, não tenho voz que o diga - sou de lugar nenhum, ninguém me tem. Chama-me, se quiseres. Talvez a porta se abra se disseres o meu nome devagar. Di-lo mais uma vez dentro da minha boca, a trocar o corpo com o meu. Assim, antes que eu parta outra vez, de vez, para um lugar qualquer onde não se espere o que não volta.

Maria do Rosário Pedreira - A casa e o cheiro dos livros

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