Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


quinta-feira, 2 de abril de 2015

POEMA-CONTO SOBRE SAUDADE

Naquele dia, o dia nasceu noite.
E não houve, no chão do quarto, junto da janela,
os quadrados de Sol, com a forma dos vidros, ...
que sempre caminham para a cama e te acordam.
Não houve chilreantes despertares dos pássaros,
nem uma mão procurando a minha,
nem lábios na pele do meu rosto,
nem voz dizendo bom dia no meu ouvido,
nem ouvido onde responder.
Naquele dia, faltaste-me. E os pássaros sabiam,
porque lhes disse o Sol, que cuidou que, se me deixassem dormir,
eu não sofreria de uma saudade
que enche os dias dos homens que, um dia, acordam sozinhos.
Pensaram que, se fosse noite e houvesse silêncio,
eu dormiria até ao dia do teu regresso – e era só mais um dia.
Mas a minha mão agarrou o lençol,
o meu rosto aproximou-se da tua ausência,
o meu ouvido estranhou o silêncio que àquela hora não devia ter
e a minha boca ensaiou respostas a um beijo que não aconteceu
e a um bom dia que eu precisava de ter escutado. Acordei.
E o Sol, de imediato, rompeu.
E os pássaros, de pronto, chilrearam.
E tudo pareceu normal.
Mas fechei tudo. Era cedo, tu não estavas,
e eu tentei dormir mais uns minutos que durassem um dia mais.
O Sol e os pássaros compreenderam:
o Sol evitou as frestas da janela e os pássaros voaram dali.

Sérgio Lizardo

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