Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


sábado, 3 de outubro de 2015

VAZIO


abrir os jornais e chegar a um vazio
à impossibilidade de designar as horas
desprovidas de sentido chegar...
sem que ninguém disso se aperceba

tal como aos refugiados ninguém pergunta
como correu a viagem? "yes we had quite
a good trip"... dadas as circunstâncias
sobreviver é sempre cumprir a viagem
agora há que reinventar a juventude
ousar de novo os contornos do riso
como quem presente o verão a chegar
fazendo-se anunciar nuns ombros destapados
uma saia mais curta depois partir
como se a luz sobre eles indiciasse um crime
no fundo viver a vida em desespero
habitar o tempo junto às suas falésias
percorrer o mundo pelo lado das vertigens
um pé na noite outro no abismo
mantendo porém os olhos no mar e nos rios
ensaiando assim esquecer a linguagem do medo
e o corpo mutilado da esperança
partir e deixar para trás os jornais
o banco vazio no meio da praça.




Pedro Teixeira Neves







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