Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Federico Garcia Lorca/Salvador Dali


TARDES ESTIVAIS




Tardes estivais. Sol nas funduras.

Os povoados como faróis de neve sobre um mar.

...Nuvens de cinzento e vermelho como peitos de aves.

Vibrações ardentes sobre céus suaves.

Águas paradas... Imenso dormitar...



Tardes estivais. Solidão dourada.

Caminhos silenciosos, cintas de claridade.

Alamedas verdes em fundos passionais.

Acordes de ouro vivo parecem os trigais.

Inquietante quietude. Raro tom de fa.



Tarde estivais. Triunfo da carne.

O amor ardente cruza o campo veloz.

Num fundo sangrento e de ouros deslumbrantes

abraçam-se Pan e Vénus cercados de bacantes.

Choros e cantares. Som de foices.



Tardes estivais. Carne, carne e carne.

As estrelas fortes dos grandes desejos

iluminam gloriosas, cheias de sonolência,

os doces mancebos, arautos de impotência

que riem eternos, formosos e feios.



Tardes estivais. Tardes estivais.

A luxúria esconde-se sobre a vossa calma.

A ânfora grandiosa das vossas inquietudes

ao derramar-se mata as azuis virtudes.

Chorosas tardes. Naufrágios da alma.

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