E fecho a porta,
baixo as persianas,
corro as cortinas,
retiro as flores da jarra,
fecho o saco do lixo,
lavo a jarra e as mãos,
lavo as mãos e a cara,
lavo os dentes sem me olhar o espelho
evito como posso chorar.
Foram dias de abundância,
como se a frugalidade fosse um defeito.
Agora tenho a certeza,
é na abundância que melhor revela a pobreza.
Recolho-me ao quarto.
O Bolaño acende um cigarro,
acendo também um cigarro,
há vários dias que não fumo, comento,
que enquanto se fuma não se pode rezar
e que Vergílio, supostamente,
morreu com um cancro nos pulmões,
barata tonta falo sem parar, é o Bolaño!,
que termina sem pressa o cigarro
e enquanto limpa os óculos à camisa diz
Te visitan en la hora más oscura todos tus amores perdidos.,
respondo-lhe na sua língua que
La imaginación es la loca de la casa.,
respondo-lhe com Santa Teresa D'Ávila,
devia ter respondido que nunca li um livro seu
e que isso não interessa nada.
Eu sei que tenho telhados de vidro,
talvez por isso a cabeça sempre nas nuvens.
Mas hoje os amantes não são bem-vindos.
Hoje não quero um anjo com asas de pavão.
Hoje não quero um homem nem uma maçã.
Ontem foi noite de paz e paz nenhuma,
o Inverno apenas a começar,
não é fácil manter o equilíbrio,
entre a esperança e o desespero
acabamos a falar com estranhos,
não quero acabar o dia a falar de Deus,
a falar do homem,
tenho vergonha de figuras tristes,
os elefantes também se cansam,
não foram feitos para fugir de caçadores,
preciso de descansar. Raquel Serejo Martins
baixo as persianas,
corro as cortinas,
retiro as flores da jarra,
fecho o saco do lixo,
lavo a jarra e as mãos,
lavo as mãos e a cara,
lavo os dentes sem me olhar o espelho
evito como posso chorar.
Foram dias de abundância,
como se a frugalidade fosse um defeito.
Agora tenho a certeza,
é na abundância que melhor revela a pobreza.
Recolho-me ao quarto.
O Bolaño acende um cigarro,
acendo também um cigarro,
há vários dias que não fumo, comento,
que enquanto se fuma não se pode rezar
e que Vergílio, supostamente,
morreu com um cancro nos pulmões,
barata tonta falo sem parar, é o Bolaño!,
que termina sem pressa o cigarro
e enquanto limpa os óculos à camisa diz
Te visitan en la hora más oscura todos tus amores perdidos.,
respondo-lhe na sua língua que
La imaginación es la loca de la casa.,
respondo-lhe com Santa Teresa D'Ávila,
devia ter respondido que nunca li um livro seu
e que isso não interessa nada.
Eu sei que tenho telhados de vidro,
talvez por isso a cabeça sempre nas nuvens.
Mas hoje os amantes não são bem-vindos.
Hoje não quero um anjo com asas de pavão.
Hoje não quero um homem nem uma maçã.
Ontem foi noite de paz e paz nenhuma,
o Inverno apenas a começar,
não é fácil manter o equilíbrio,
entre a esperança e o desespero
acabamos a falar com estranhos,
não quero acabar o dia a falar de Deus,
a falar do homem,
tenho vergonha de figuras tristes,
os elefantes também se cansam,
não foram feitos para fugir de caçadores,
preciso de descansar. Raquel Serejo Martins
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