.. uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. "
Clarice Lispector, Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres (1969)domingo, 31 de janeiro de 2021
sábado, 30 de janeiro de 2021
A caminhada ainda se pode. Caminhemos. Que aguente o esqueleto, temos que por é o corpo a mexer.
Hoje acordei com esse propósito e como é raro, é aproveitar.
Escada com ela, e toca a andar pelas 9h da matina. Limitada ao quarteirão. É a oportunidade para descobrir cada metro quadrado de vizinhança.
Os infernos e os paraísos pessoais de cada um.
Resolvo fazer a via das bicicletas que anda deserta e sempre o piso é mais confortável.
Dou de frente com um de ténis iguais aos meus, que até primam por incomuns...afianço um olhar pela graça do match no calçado. Nada. Claro que a estas sincronias só uma mulher dá conta.
Resolvo sair do traçado, ir por onde nunca fui, ver até onde, sigo um cão e o seu dono. Só naquela de os pôr a pensar, esta está-me a seguir. Sintonias zero. Simpatias só para o cão.
Os bancos do jardim vestidos de fitas. Nem para uma pausa em ginástica passiva. Nem para uma água.
É seguir o trilho. Eu que sempre gostei de andar fora dele. Recordo um ano nas Berlengas uma mensagem nos caminhos
" não saia do trilho!" Adequada a esta sinalética da actualidade em silêncio gritante.
Mensagens em espelho. Agendas em branco. É carregar a bateria. Dormir o que se perdeu desde os 18.
Vitaminar em D que ainda se pode. Mesmo sem o café das dez com as vizinhas no bairro. Os hábitos passam fatura.
Voltei renovada. Ainda mercadinho com a pequena e aguarelar de manhã para colorir o dia.
Tarde de filmes e o chá das cinco. Entre as ides e lides às máquinas caseiras um break com o gin das sete e após o jantar que se quer leve aguarda-me o porto das nove. O relógio interno não falha.
Este ano, certo é o banho de álcool por dentro e por fora.
Como se não, sim como se não houvesse amanhã.
O agora, é o que tenho.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2021
quinta-feira, 28 de janeiro de 2021
quarta-feira, 27 de janeiro de 2021
terça-feira, 26 de janeiro de 2021
domingo, 24 de janeiro de 2021
sábado, 23 de janeiro de 2021
"Los amorosos callan.
El amor es el silencio más fino, el más tembloroso, el más insoportable. Los amorosos buscan, los amorosos son los que abandonan, son los que cambian, los que olvidan. Su corazón les dice que nunca han de encontrar, no encuentran, buscan. Los amorosos andan como locos porque están solos, solos, solos, entregándose, dándose a cada rato, llorando porque no salvan al amor. Les preocupa el amor. Los amorosos viven al día, no pueden hacer más, no saben. Siempre se están yendo, siempre, hacia alguna parte. Esperan, no esperan nada, pero esperan. Saben que nunca han de encontrar. El amor es la prórroga perpetua, siempre el paso siguiente, el otro, el otro. Los amorosos son los insaciables, los que siempre -¡que bueno!- han de estar solos. Los amorosos son la hidra del cuento. Tienen serpientes en lugar de brazos. Las venas del cuello se les hinchan también como serpientes para asfixiarlos. Los amorosos no pueden dormir porque si se duermen se los comen los gusanos. En la oscuridad abren los ojos y les cae en ellos el espanto. Encuentran alacranes bajo la sábana y su cama flota como sobre un lago. Los amorosos son locos, sólo locos, sin Dios y sin diablo. Los amorosos salen de sus cuevas temblorosos, hambrientos, a cazar fantasmas. Se ríen de las gentes que lo saben todo, de las que aman a perpetuidad, verídicamente, de las que creen en el amor como una lámpara de inagotable aceite. Los amorosos juegan a coger el agua, a tatuar el humo, a no irse. Juegan el largo, el triste juego del amor. Nadie ha de resignarse. Dicen que nadie ha de resignarse. Los amorosos se avergüenzan de toda conformación. Vacíos, pero vacíos de una a otra costilla, la muerte les fermenta detrás de los ojos, y ellos caminan, lloran hasta la madrugada en que trenes y gallos se despiden dolorosamente. Les llega a veces un olor a tierra recién nacida, a mujeres que duermen con la mano en el sexo, complacidas, a arroyos de agua tierna y a cocinas. Los amorosos se ponen a cantar entre labios una canción no aprendida, y se van llorando, llorando, la hermosa vida". "Los amorosos", Jaime Sabinesquinta-feira, 21 de janeiro de 2021
domingo, 17 de janeiro de 2021
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
domingo, 10 de janeiro de 2021
sábado, 9 de janeiro de 2021
sexta-feira, 8 de janeiro de 2021
terça-feira, 5 de janeiro de 2021
O Mestre
Tinha dias soalheiros em que eu descia a calçada de pedra e ia ter a um quintal mágico, onde os momentos falavam por si, petrificaram e as árvores eram mulheres.
Entre os veios do mármore, no meio do pó da pedra vivia um homem, todo esbranquiçado.
Acenava-lhe com gestos ver se me via, sempre temendo em interromper o nascimento das coisas belas que lhe saíam das mãos.
Mostrava satisfeito o seu museu ao ar livre. As peças inacabadas, as encomendas.
Era a miúda aprendiz a tentar reter tudo.
O Mestre também desenhava lindamente. Tudo começa no traço.
De olhar vivo, sorriso aberto em piada mordaz.
Um dia chamou-me Barruel, devido à minha fisionomia dizia.
Numa dessas tardes, o convite para posar e teria sido uma das meninas. Mas não.
Tem certas loucuras que só na maturidade se fazem.
E certos convites que não se devem recusar.