Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


terça-feira, 5 de janeiro de 2021

O Mestre

Tinha dias soalheiros em que eu descia a calçada de pedra e ia ter a um quintal mágico, onde os momentos falavam por si, petrificaram e as árvores eram mulheres.

Entre os veios do mármore, no meio do pó da pedra vivia um homem, todo esbranquiçado. 

Acenava-lhe com gestos ver se me via, sempre temendo em interromper o nascimento das coisas belas que lhe saíam das mãos.

Mostrava satisfeito o seu museu ao ar livre. As peças inacabadas, as encomendas.

Era a miúda aprendiz a tentar reter tudo.

O Mestre também desenhava lindamente. Tudo começa no traço.

De olhar vivo, sorriso aberto em piada mordaz.

Um dia chamou-me Barruel, devido à minha fisionomia dizia.

Numa dessas tardes, o convite para posar e teria sido uma das meninas. Mas não.

Tem certas loucuras que só na maturidade se fazem.

E certos convites que não se devem recusar.

 



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