Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


sábado, 6 de novembro de 2021

A vida toda desfocada

Sábado,

o meu dia preferido e mal dei por ele.

Apesar das poucas horas de sono acordei cedo.

Partida nas costas, nem se percebe como nos chegam certas dores.

Crescimento espontâneo como tudo a que temos direito depois dos 40.

Era uma massagem por dia, mas fico pelo banho quente à la Madeleine.

Reparo que ganhei também mais uma dioptria durante a noite. 

Faz anos em Évora amanheci desfocadíssima e acompanhada por uma tarântula no tecto.

Sim, uma tarântula. 

Aqui na grande cidade nem tarântulas.

Ao mercadinho do bairro nem fui.

Na mira, tinha o café dos brasileiros.

Saio de casa com a ideia-desejo de um bolo de Fubá anunciado na porta.

Nem bolo, nem bola, nem açai, nem mandioca, nem doce de leite, nem coco.

COMO é possível???

Começa.

Uma montra igual a tantas outras. Bolos mais enrugados que eu. Nem valem o crime.

Bebo um café e um sumo de acerola, sem me calar, furiosa com a publicidade enganosa.

Resolvo ir ao Oculista, ver se já chegaram as minhas lentes quase bifocais mas nem tanto.

Não sendo o dia ideal para afinações óticas, com a vista num fanico, achei melhor nem dizer nada, fora lentes velhas e aceno que estou a ver muito melhor. 

O oculista diz que tudo na vida se experimenta em três dias. Ao fim de três dias temos o resultado, se serve ou não serve. Segunda saberei.

O anel de ouro é que me deve ter deixado de servir, caiu do dedo para o estendal do vizinho. 

Baixo ao vizinho, de sorriso amarelo digo que emagreci, caíram meias e anéis.

Subo com tudo recuperado, no meio dos azares há horas de sorte.

Requento as migas, bebo o vinho, 

Preparo os olhos para a sesta e as amigas começam a ligar, pergunto mal humorada como ainda não sabem que não são horas para conversetas.

Anulo o Teatro. 

Perco o cinema, e a paciência na troca de chamadas com a Carminho.

Senti hoje os primeiros frios até aos Ossos.  

Procuro Sol, sento-me num banco esfarelado a fazer tempo, ver se me aqueço e esqueço,

a dance party Rita. 

Sono,

mas melhor nem me deitar.

Chega de metamorfoses, até Domingo lamento. 

Fico em casa e quieta.

Sem comentários:

Enviar um comentário