"A veces se te oprime el corazón cuando piensas en las cosas que habrían podido ser y que no fueron."
"En el café de la juventud perdida",
Patrick Modiano
Dizes que a voz se transforma e cria imagens. Eu penso na pintura e em grandes telas a óleo. No cubículo fazem-se milagres. A voz expande-se. O universo expande-se. Há um relojoeiro cego, um ladrão de arte e um guarda de museu. Bebem uísque frio, puro com nuvens.
Toda a grandeza num grão de mostarda, todo o tamanho numa partícula, todas as escrituras numa anedota de bar. Dizes que um sorriso muda o mundo. E um pássaro sagaz morre nesse instante contra o vidro.
No quarto em rectângulo agudo o amor levita. Circum-navegações. O mar prolonga-se, as gaivotas roubam joias em condomínios fechados. As mulheres cumprem a sua sina vegetal, a lua inventa-as todas as noites.
Quatrocentos reclusos furaram o cerco e são felizes, o céu confina-se em arame farpado e subsistem conchas com vozes dentro.
Dizes que a voz aquece. A atmosfera aquece. O mundo esquece-se. Toda a pequenez no oceano roubado por navios calados, luzentes.
No pátio em quadrado macio fazem-se maravilhas. A perfeição avizinhou-se do sonho com grandes asas de cristal e olhos de ferro. Há um tenente da Marinha, um adicto do sol poente e um palhaço trémulo.
Bebem cicuta pura, e limões agrestes laminados; homens bomba com cinturas estreitas ameaçam a manhã, fumam-se cigarras.
Dizes que me amas e não o dizes senão quando é segredo. A minha voz lateja, convoca mundos.
Na linha da praia, contínua, fazem-se noites e relentos. Místicos adiposos morrem de medo junto às paredes.
Eu penso na luz e nos mistérios luminosos, telas vazias, biombos cheios de luz. Há ondas sonoras cheias de sal e de tainhas e de surfistas. Toda a areia num grão de universo.
Bernardino Guimarães
“Si eres una mujer fuerte
prepárate para la batalla:
aprende a estar sola,
a dormir en la más absoluta oscuridad sin miedo,
a que nadie te tire sogas cuando ruja la tormenta,
a nadar contra corriente.
Entrénate en los oficios de la reflexión y el intelecto.
Lee, hazte el amor a ti misma, construye tu castillo,
rodéalo de fosos profundos,
pero hazle anchas puertas y ventanas.
Es menester que cultives enormes amistades,
que quienes te rodean y quieran sepan lo que eres,
que te hagas un círculo de hogueras y enciendas en el centro de tu habitación
una estufa siempre ardiente donde se mantenga el hervor de tus sueños.
Si eres una mujer fuerte
protégete con palabras y árboles
e invoca la memoria de mujeres antiguas.
Haz de saber que eres un campo magnético
hacia el que viajarán aullando los clavos herrumbrados
y el óxido mortal de todos los naufragios.
Ampara, pero ampárate primero.
Guarda las distancias.
Constrúyete. Cuídate.
Atesora tu poder.
Defiéndelo.
Hazlo por ti.
Te lo pido en nombre de todas nosotras".
Gioconda Belli
Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.
José Saramago, in "Provavelmente Alegria"
Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos. Um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo. Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demonios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu acaso, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia.
Martha Medeiros
As Causas
Todas as gerações e os poentes.
Os dias e nenhum foi o primeiro.
A frescura da água na garganta
De Adão. O ordenado Paraíso.
O olho decifrando a maior treva.
O amor dos lobos ao raiar da alba.
A palavra. O hexâmetro. Os espelhos.
A Torre de Babel e a soberba.
A lua que os Caldeus observaram.
As areias inúmeras do Ganges.
Chuang Tzu e a borboleta que o sonhou.
As maçãs feitas de ouro que há nas ilhas.
Os passos do errante labirinto.
O infinito linho de Penélope.
O tempo circular, o dos estóicos.
A moeda na boca de quem morre.
O peso de uma espada na balança.
Cada vã gota de água na clepsidra.
As águias e os fastos, as legiões.
Na manhã de Farsália Júlio César.
A penumbra das cruzes sobre a terra.
O xadrez e a álgebra dos Persas.
Os vestígios das longas migrações.
A conquista de reinos pela espada.
A bússola incessante. O mar aberto.
O eco do relógio na memória.
O rei que pelo gume é justiçado.
O incalculável pó que foi exércitos.
A voz do rouxinol da Dinamarca.
A escrupulosa linha do calígrafo.
O rosto do suicida visto ao espelho.
O ás do batoteiro. O ávido ouro.
As formas de uma nuvem no deserto.
Cada arabesco do caleidoscópio.
Cada remorso e também cada lágrima.
Foram precisas todas essas coisas
Para que um dia as nossas mãos se unissem.
Jorge Luis Borges, in "História da Noite"
“Todas las experiencias que he vivido me han enseñado que hay que valorar al individuo, a la persona que desarrolla y preserva su propia manera de pensar, que planta cara a la mentalidad de grupo, a las presiones grupales. O que se aviene hasta donde juzga necesario a tales presiones, pero en su fuero interno conserva un pensamiento y un desarrollo individuales [...] Mantener una opinión individual disidente, siendo miembro del grupo, es la cosa más difícil del mundo.”
Doris Lessing
“Si supiera que esta fuera la última vez que te vea salir por la puerta, te daría un abrazo, un beso y te llamaría de nuevo para darte más.
Si supiera que ésta fuera la última vez que voy a oír tu voz, grabaría cada una de tus palabras para poder oírlas una y otra vez indefinidamente.
Si supiera que estos son los últimos momentos que te veo, diría TE QUIERO y no asumiría tontamente que ya lo sabes.
Siempre hay un mañana y la vida nos da otra oportunidad para hacer las cosas bien, pero por si me equivoco y hoy es todo lo que nos queda, me gustaría decirte cuanto te quiero, que nunca te olvidaré”
GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ
"Me acostumbré
a ocupar toda la cama al dormir,
a no cocinar los domingos
y a volver a la hora que me da la gana.
Me acostumbré
a no dar explicaciones
y hacer lo que me gusta
sin que nadie me critique.
Me acostumbré
a comer a media noche
y ver mis programas favoritos,
a cantar en voz alta
y bailar por toda la casa.
Me acostumbré
a recibir llamadas a cada rato
y contestar mensajes muy tarde,
a salir con amigos
y a viajar algún que otro fin de semana.
Me acostumbré
al olor del café por las mañanas
y a caminar descalza por el jardín,
a tardar cuando me toca arreglarme
y a cancelar citas en el último momento
sólo porque sí.
Me acostumbré a mí,
a mis cosas,
a mi vida,
a estar sola..."