Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Ainda hoje continua à espera da sua Mercedes, para dormir a sesta. Quando a encontrar vai dar-lhe um beijo a refilar, e perguntar porque é que o deixou à espera naquele dia, pois tem a certeza que, se estivesse no sítio onde deveria estar, a morte não o tinha encontrado. Aquela era a hora da sesta, de estar nos seus braços, e não de estar na loja.
A morte passou por acaso, entrou na loja como um ...sopro de vento, não como uma freguesa habitual, o sino pendurado na porta ainda tocou a avisar, mas ele não ouviu, a velhice tem destas coisas, estava cada vez mais surdo, encontrou-o atrás do balcão, e decidiu que aquela era uma hora tão boa como qualquer outra para o levar.
Estive todo este tempo à tua espera. Porque não te despachaste naquele dia?
Morri a esperar por ti. E ainda para mais este sítio é um bocado húmido, e não tenho ninguém com quem dormir, anda, que te vou mostrar a nossa cama, não é pior do que a outra. Ao que Mercedes responderá com um desculpa-me, e um sorriso, que de facto tudo faz desculpar, é que quando estava a estender a roupa a corda partiu-se, e eu tive de passar tudo por água outra vez, ainda pensei em te chamar, mas tinha lavado um cobertor grosso, sabes, aquele castanho que fica pesadíssimo por lhe entrar tanta água, e que tanto custa a secar, e estava um sol tão bonito, que de certeza que tudo ficaria seco antes de anoitecer.
E lá iriam os dois de mão dada, para a eternidade a conversar sobre coisas da vida, pois nada mais interessava, desde que estivessem juntos.

In A Sollidão dos Inconstantes

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