quinta-feira, 24 de novembro de 2016
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
(...) em frente ao computador a gerir a insónia, o tempo que sobrou
do dia
é mais do que suficiente para fazer o registo das perdas,
encenar a descida da cruz, o corpo cansado retira-se
dos olhares públicos, enrola-se sobre si próprio por algumas horas....
não é preciso ir muito longe para encontrar os culpados
pelo actual estado de letargia. neste tribunal diário, o que fui
julga quem sou. as provas são retiradas do
fundo dos bolsos para o cimo das mesas ao final de cada tarde com
a memória de muitos naufrágios e destroços
moedas, chaves, pedacinhos de nada.
Tiago Araújo, Respirar debaixo de água
do dia
é mais do que suficiente para fazer o registo das perdas,
encenar a descida da cruz, o corpo cansado retira-se
dos olhares públicos, enrola-se sobre si próprio por algumas horas....
não é preciso ir muito longe para encontrar os culpados
pelo actual estado de letargia. neste tribunal diário, o que fui
julga quem sou. as provas são retiradas do
fundo dos bolsos para o cimo das mesas ao final de cada tarde com
a memória de muitos naufrágios e destroços
moedas, chaves, pedacinhos de nada.
Tiago Araújo, Respirar debaixo de água
terça-feira, 22 de novembro de 2016
Buscando a Luz, a cada dia ganhamos um presente.
Encontrando o Ser, a cada dia abrimos mão de algo.
Aceitando-nos como somos, aliviamos as carências.
A suavidade vence a rigidez. A compaixão vence a raiva.
O amor vence o medo. A confiança vence a tristeza....
Se a nada nos apegarmos, nunca nada perderemos.
Em harmonia, compreendemos o Pleno que somos.
Pedro Kupfer
Encontrando o Ser, a cada dia abrimos mão de algo.
Aceitando-nos como somos, aliviamos as carências.
A suavidade vence a rigidez. A compaixão vence a raiva.
O amor vence o medo. A confiança vence a tristeza....
Se a nada nos apegarmos, nunca nada perderemos.
Em harmonia, compreendemos o Pleno que somos.
Pedro Kupfer
Croniquinha
VISÃO 22.09.2011
- Ali é a casa
António Lobo Antunes
VISÃO 22.09.2011
Moro num apartamento que escolhi, comprei, está em meu nome, o único bem no mundo, não contando o automóvel, que está em meu nome, porque nunca quis ter coisas que me pertencessem e, no entanto, não me abandona a impressão de morar num hotel, numa espécie de suite com alguns quartos. Faço cerimónia, não ligo aos móveis, não ligo aos objectos, escrevo aqui como fui escrevendo em tantos outros sítios, em Portugal e no estrangeiro, e não me sinto em casa, dá-me ideia de habitar, por empréstimo, o lugar de um outro que não conheço e que, a qualquer momento, vai entrar e mandar-me embora, falta-me o sentido de propriedade do que quer que seja, onde eu gostava mesmo de viver era num comboio, prestes a viajar, que não partisse nunca. Os comboios sempre me fizeram sonhar. Os comboios? Quase tudo me faz sonhar, que esquisito. Às vezes parece-me que sou uma nuvem com raízes, sempre a partir e a ficar. Não abandono os sítios de que me fui embora, coloquei a alma, escondida, sob cada objecto. Continuo em Veneza com sete anos, em Berlim com quarenta, não saí do lago do Jardim Zoológico, onde passeava, com o meu avô, num barco com pedais. Lembro-me dos patos, dos cisnes, de ser tão feliz, lembro-me de tudo. Não esqueci nada, não vou esquecer nada. Sofrimentos de amor aos doze anos, os primeiros versos, um pardal de pata quebrada que o sapateiro consertou com uma tala de cana. Certos perfumes nos elevadores vazios, as conversas, cheias de palavras desconhecidas, dos adultos, ajudar à missa na igreja gelada, a dor dos outros, que invariavelmente me aflige, o sacristão coxo, de Nelas, a pedalar uma trotineta que não existia. O sorriso raro do meu pai, as duas empregadas da minha avó a beijarem-se. Vidas pequeninas que eu não compreendia. A profunda solidão das pessoas. O meu espanto diante das criaturas amargas. Entendo a tristeza, entendo o desejo de suicídio, não entendo a amargura, o azedume, a avidez. Nem a antipatia, nem a inveja, nem a vaidade. Hoje passei pela igreja de Santo António onde, em criança, entrei tanta vez. Acho que ele me salvou das três doenças difíceis que tive. Com seis anos a minha palma no seu túmulo, em Pádua. Há-de estar lá, bem impressa, a marca destes dedos. Intermináveis discursos diante de quadros e estátuas, que me aborreciam de morte. Entre parênteses também não entendo a morte e, quanto à vida, será que a entendo de facto? Ou à minha adolescência, veemente e confusa? O desejo informulado, a descoberta atónita do sexo. Que mistério, à luz da madrugada, o corpo que se transforma e cresce e, depois, a minha cara no lençol como num sudário. Agora veio-me à cabeça um amigo meu, Frei Bento Domingues. Um dia disse-lhe
- Estás sempre tão alegre
ele respondeu
- O que eu podia eu ser senão alegre?
e não conheço mais nenhuma pessoa em que até os óculos riem, não conheço ninguém com tanta esperança, tanta curiosidade infantil, tanta fé de olhos abertos, tanta tolerância. Raios o partam. Comecei pela casa mas aquela que sinto minha fica longe e já não nos pertence. Não me atrevo a entrar, olho-a de longe, quase a medo, e é tudo. Passo na estrada, penso
- Ali era a casa
corrijo- Ali é a casa
e fujo. Quase tudo mudou nas redondezas, aliás, quase toda a gente faleceu. O casaco do meu outro avô, cheio de palitos. As duas lareiras da sala. Não era uma casa de ricos, recordo-me de imensas chávenas com a asa quebrada, recordo-me da mesa de pingue-pongue no andar de baixo e dos sons repetidos, cada vez mais rápidos, cada vez mais ténues, da bola ao cair no chão de pedra. Da vinha. Das vindimas. Olha, lá estão as empregadas a beijarem-se de novo e eu, parvo, sem entender. Beijos como no cinema, cochichos ternos. Fugi também, ocultando a minha perplexidade na trepadeira, cheia de insectos e lagartixas.
Afastava-me, com receio dos bichos, até ao muro ao lado da cancela. A estrada deserta, nem uma velha num burro, nem uma pessoa com um atado de lenha à cabeça. Comecei a escutar um barulho de guizos ao longe, um barulho de rodas de carroça, um barulho de vozes. A estrada tornava-se negra, vibrante, cheia de ecos que cresciam, eixos mal oleados, pranchas desconjuntadas, o que se me afigurava um canto. E, então, passaram os ciganos.
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
domingo, 20 de novembro de 2016
A memória dos meus mortos é mais viva do que quando lhes telefonava. Podia fazê-lo mas muitas vezes não o fazia, ficava para depois, ficou tantas vezes para depois. Quase todos os que existiam antes de eu existir foram-se ausentando. Pais, avós, tia que me amparou, alguns amigos, mais gente do que a conta. Estão agora aqui. Mais vivos do que antes. Em cada recanto do que sou, em cada divisão de uma casa interior cada vez mais composta. Ainda hoje lhes levei flores.
Harry, o lobo solitário de Hermann Hesse, sofridamente abre mão da crença em sua magnitude em função da aposta na vida e na relação com os outros. Sofre uma queda vertiginosa de sua posição defensiva onipotente ao entender o quanto precisava das pessoas. Neste momento, tornou-se fundamental reinventar-se. Era questão de sobrevivência. E, ao conformar-se com o fato de que sua singularidade era tão especial quanto a dos demais seres humanos, passou a escolher os momentos da vida em que, sim, poderia sentir-se único e os outros em que deveria entender que era mais um na multidão. Discriminar de forma objetiva os territórios que mais lhe importavam conquistar o ajudariam a escolher que lado do seu psiquismo iria privilegiar. E, assim, não mais iria se deixar ser dominado pela luta eterna entre dois EUs que não conversam.
sexta-feira, 18 de novembro de 2016
terça-feira, 15 de novembro de 2016
domingo, 13 de novembro de 2016
sábado, 12 de novembro de 2016
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
Odio las conversaciones cortas. Quiero hablar de átomos, de la muerte, del sexo, de magia, de extraterrestres, del intelecto, del sentido de la vida, de las mentiras que contaste, de tus defectos, de la música que te hace sentir diferente, de tu infancia, de tus aromas favoritos, de lo que te quita el sueño, de tus inseguridades y miedos. Me gusta la gente con profundidad, que habla con emoción. Yo no quiero saber un siempre "qué tal?".
- Anónimo
terça-feira, 8 de novembro de 2016
não podemos depender dos olhos quando a imaginação está desfocada. no entanto, as possíveis relações interiores entre objectos e o meio que os alberga têm algo a ver com a ancestralidade do silêncio. é esse o plano da matéria que busco e registo na permanente surrealidade do quotidiano.
(miguel de carvalho)
(miguel de carvalho)
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
domingo, 6 de novembro de 2016
sábado, 5 de novembro de 2016
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
quinta-feira, 3 de novembro de 2016
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