"A vida diluí-nos o corpo e a memória, afoga-nos os sonhos, encaixa-nos na rotina, embrulha-nos as mãos, segura-nos os pés, finge que nos ama, finge que não é preciso lutar. Aprendi com o meu avô que ser feliz não é um direito, é uma obrigação. É preciso fazer tudo para ser feliz. Mas fazer o quê? Respirar. Marcar a hora de acordar no despertador. Deixar o coração bater. Pôr peixe a descongelar para o jantar. Regar as flores dos vasos. Levar o cão à rua. Passar uma camisa. Queimar um pau de incenso. Abrir uma janela. Espanar um tapete. Cortar o cabelo. Comer uma romã. Fazer o quê?"
In A Solidão dos Inconstantes - Raquel Serejo Martins
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