Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


domingo, 21 de fevereiro de 2021

Não se viu o Sábado

Quando um Domingo é melhor do que um Sábado, mal vai a coisa.

Ficou a cesta de verga com vontade de sair junto à porta. 

Os ténis fora do corpo, inquietos.

Deixei os verdes no mercadinho à espera, as aromáticas por cheirar e os tomates sem torrada.

As maçãs com o bicho que há de crescer. 

A janela, não teve ordem para abrir mais de meio tal a chuva, tal o vento.

O pão de ontem foi para a mesa.

Serviram se os restos.

Dia para nada.

Ah, mas sem desculpas para uma coisa está dia....passar a ferro. 

O monte Evereste em crescente de roupa a olhar para mim.

Que entre umas e outras a minha Maria não volta. 

Agora tenho um Manitas programável, não assim tão silencioso como deveria, mas que aspira tudo até a minha paciência.

Lá fiz os deveres com empenho e convicção para ganhar o direito ao descanso.

E merecer o pão de ontem, o vinho por abrir e o queijo a amadurecer.

A vida de hoje mudou a métrica e as balanças que tínhamos.

Voltamos ao valor das coisas simples.

Escolhemos cores,

das pinturas para crescidos, dos fios para bordar em panos à muito em espera.

retocamos as raízes do cabelo, e as lascas no parapeito da janela.

Valorizamos o sentir, e os sentidos que muitos o perderam.

Poder cheirar o amaciador a respirar nos lençóis lavados, ou o gosto do café de saco.

Ter tempo de ler. 

Acreditar na espera do nascimento de uma agenda em liberdade, 

que as fronteiras se abram, e os abraços dos amigos.

Que os cafés deixem de ser clandestinos.

Vou voltar a cortar as fitas dos bancos no jardim.

E os dias,

os dias que venham com cara do que são. 

Hoje um Sol aberto, Domingo com cara do Sábado que não tive.

Olha afinal não, agora chove. E é isto. A impermanência das coisas.

Amar os momentos, todos, como se fossem uma sexta-feira a abrir, a promessa do novo. 

Deixar o céu entrar,

a janela aberta e olhar, mesmo que em sonho, 

o verde das árvores pela porta e o desejo de uma rua que vá dar ao mar.

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