Quando um Domingo é melhor do que um Sábado, mal vai a coisa.
Ficou a cesta de verga com vontade de sair junto à porta.
Os ténis fora do corpo, inquietos.
Deixei os verdes no mercadinho à espera, as aromáticas por cheirar e os tomates sem torrada.
As maçãs com o bicho que há de crescer.
A janela, não teve ordem para abrir mais de meio tal a chuva, tal o vento.
O pão de ontem foi para a mesa.
Serviram se os restos.
Dia para nada.
Ah, mas sem desculpas para uma coisa está dia....passar a ferro.
O monte Evereste em crescente de roupa a olhar para mim.
Que entre umas e outras a minha Maria não volta.
Agora tenho um Manitas programável, não assim tão silencioso como deveria, mas que aspira tudo até a minha paciência.
Lá fiz os deveres com empenho e convicção para ganhar o direito ao descanso.
E merecer o pão de ontem, o vinho por abrir e o queijo a amadurecer.
A vida de hoje mudou a métrica e as balanças que tínhamos.
Voltamos ao valor das coisas simples.
Escolhemos cores,
das pinturas para crescidos, dos fios para bordar em panos à muito em espera.
retocamos as raízes do cabelo, e as lascas no parapeito da janela.
Valorizamos o sentir, e os sentidos que muitos o perderam.
Poder cheirar o amaciador a respirar nos lençóis lavados, ou o gosto do café de saco.
Ter tempo de ler.
Acreditar na espera do nascimento de uma agenda em liberdade,
que as fronteiras se abram, e os abraços dos amigos.
Que os cafés deixem de ser clandestinos.
Vou voltar a cortar as fitas dos bancos no jardim.
E os dias,
os dias que venham com cara do que são.
Hoje um Sol aberto, Domingo com cara do Sábado que não tive.
Olha afinal não, agora chove. E é isto. A impermanência das coisas.
Amar os momentos, todos, como se fossem uma sexta-feira a abrir, a promessa do novo.
Deixar o céu entrar,
a janela aberta e olhar, mesmo que em sonho,
o verde das árvores pela porta e o desejo de uma rua que vá dar ao mar.
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