E TANTA SOLIDÃO NUM MUNDO CONECTADO!
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Porém, seria um erro romantizar um passado em que as relações humanas eram mais próximas, como se a solidão fosse um produto exclusivo da modernidade. Basta conhecer as grandes reflexões dos antigos filósofos sobre a solidão, em que esta se apresentava como um espaço de crescimento e reflexão. Tenho uma vaga ideia de ter traduzido para português, no meu tempo da faculdade, um texto latino do estoico Séneca, julgo nas “Cartas a Lucílio”, em que refletia sobre o valor da solidão, argumentando que ela não deve ser vista como um isolamento forçado, mas como um espaço privilegiado de encontro consigo mesmo.
Assim sendo, o problema da solidão no mundo conectado não é, portanto, a sua mera existência, mas a sua qualidade. A solidão reflexiva, que nos permite confrontar a nossa interioridade e buscar significado, foi superada pela solidão ansiosa, marcada pela sensação de desconexão num meio de hiperconexão. Não estamos sozinhos porque estamos isolados, mas estamos sozinhos porque as relações que cultivamos carecem de profundidade e importância.
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Em criação, "O Absurdo Sentido de Tudo" - ensaios de Luís Ochoa
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