sábado, 31 de dezembro de 2016
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
domingo, 25 de dezembro de 2016
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
uma vez caça, outra caçador
Para entender uma mulher
é preciso mais que deitar-se com ela…
Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa
que se possa prever nossa vã pretensão…
Para possuir uma mulher
é preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase
numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade… Há de se conseguir
fazê-la sorrir antes do próximo encontro
Para conhecer uma mulher, mais que em seu orgasmo, tem de ser mais que
amante perfeito…
Há de se ter o jeito certo ao sair, e
fazer da saudade e das lembranças, todo sorriso…
- O potente, o amante, o homem viril, são homens bons… bons homens de
abraços e passos firmes…
bons homens pra se contar histórias… Há, porém, o homem certo, de todo
instante: O de depois!
Para conquistar uma mulher,
mais que ser este amante, há de se querer o amanhã,
e depois do amor um silêncio de cumplicidade…
e mostrar que o que se quis é menor do que o que não se deve perder
Para amar uma mulher, mais que entendê-la,
mais que conhecê-la, mais que possuí-la,
é preciso honrar a obra de Deus, e merecer um sorriso escondido, e também
ser possuído e, ainda assim, também ser viril…
Para amar uma mulher, mais que tentar conquistá-la,
há de ser conquistado… todo tomado e, com um pouco de sorte, também ser
amado!
Carlos Drumond de Andrade
é preciso mais que deitar-se com ela…
Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa
que se possa prever nossa vã pretensão…
Para possuir uma mulher
é preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase
numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade… Há de se conseguir
fazê-la sorrir antes do próximo encontro
Para conhecer uma mulher, mais que em seu orgasmo, tem de ser mais que
amante perfeito…
Há de se ter o jeito certo ao sair, e
fazer da saudade e das lembranças, todo sorriso…
- O potente, o amante, o homem viril, são homens bons… bons homens de
abraços e passos firmes…
bons homens pra se contar histórias… Há, porém, o homem certo, de todo
instante: O de depois!
Para conquistar uma mulher,
mais que ser este amante, há de se querer o amanhã,
e depois do amor um silêncio de cumplicidade…
e mostrar que o que se quis é menor do que o que não se deve perder
Para amar uma mulher, mais que entendê-la,
mais que conhecê-la, mais que possuí-la,
é preciso honrar a obra de Deus, e merecer um sorriso escondido, e também
ser possuído e, ainda assim, também ser viril…
Para amar uma mulher, mais que tentar conquistá-la,
há de ser conquistado… todo tomado e, com um pouco de sorte, também ser
amado!
Carlos Drumond de Andrade
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
Não olhaste para trás quando te despediste. Disse-te: Não és tu, sou eu. Eu sou o problema por resolver. Acho que também te disse: Conheci uma pessoa e mais dois animais. E podia ter dito outra coisa qualquer que te fizesse não querer voltar atrás. Preciso da solidão e a solidão procura-me. É só minha, só a mim pertence, mais do que tudo o resto que vem e vai, sempre de passagem. É a minha fortaleza que me vai defendendo com os seus altos muros dos afiados golpes do destino.
Acendo um cigarro que me sabe mal. Disse-te: Não és tu, sou eu. Sou sempre eu e não tenho escolha para além de mim. Nem os pés contra o chão de madeira disso me demovem. Contudo no meu caos interior vivem pessoas que poderiam vir a ser amigas, compatíveis e reconciliáveis. Por outro lado existem produtos defeituosos e almas frágeis com excesso de coração e pensamentos delirantes. Sim, tive-te demasiado em mim para ter horas para mais alguém. Sinto mais conforto numa vida imaginada – infectada de ilusões, sonhos recorrentes, antecipações do que poderia vir a acontecer e acaba por não acontecer – do que nesta vida real por convenção, cheia de coisas reais de arestas cortantes e peso específico variável. Mas não existem, as vidas reais.
Ninguém consegue viver neste mundo se não espreitar para fora dele. Basta ser semanalmente e apenas por minutos. Um vulto de mulher que não alcanças com os dedos, o terceiro andamento da primeira sinfonia de Mahler, a elegância de uma demonstração de álgebra, são o bastante para aliviar da asfixia. Eu já salvei a minha vida a revisitar todos os dias ao anoitecer a singela beleza de um quadro de autor desconhecido exposto na vitrine de uma modesta galeria de uma rua deserta, numa cidade deserta, com um futuro que não chegava pois nada havia que pudesse acontecer. A beleza salva vidas e eu tenho a prova.
Acendo um cigarro que me sabe mal. Disse-te: Não és tu, sou eu. Sou sempre eu e não tenho escolha para além de mim. Nem os pés contra o chão de madeira disso me demovem. Contudo no meu caos interior vivem pessoas que poderiam vir a ser amigas, compatíveis e reconciliáveis. Por outro lado existem produtos defeituosos e almas frágeis com excesso de coração e pensamentos delirantes. Sim, tive-te demasiado em mim para ter horas para mais alguém. Sinto mais conforto numa vida imaginada – infectada de ilusões, sonhos recorrentes, antecipações do que poderia vir a acontecer e acaba por não acontecer – do que nesta vida real por convenção, cheia de coisas reais de arestas cortantes e peso específico variável. Mas não existem, as vidas reais.
Ninguém consegue viver neste mundo se não espreitar para fora dele. Basta ser semanalmente e apenas por minutos. Um vulto de mulher que não alcanças com os dedos, o terceiro andamento da primeira sinfonia de Mahler, a elegância de uma demonstração de álgebra, são o bastante para aliviar da asfixia. Eu já salvei a minha vida a revisitar todos os dias ao anoitecer a singela beleza de um quadro de autor desconhecido exposto na vitrine de uma modesta galeria de uma rua deserta, numa cidade deserta, com um futuro que não chegava pois nada havia que pudesse acontecer. A beleza salva vidas e eu tenho a prova.
Pedro Paixão
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
domingo, 4 de dezembro de 2016
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
(...) em frente ao computador a gerir a insónia, o tempo que sobrou
do dia
é mais do que suficiente para fazer o registo das perdas,
encenar a descida da cruz, o corpo cansado retira-se
dos olhares públicos, enrola-se sobre si próprio por algumas horas....
não é preciso ir muito longe para encontrar os culpados
pelo actual estado de letargia. neste tribunal diário, o que fui
julga quem sou. as provas são retiradas do
fundo dos bolsos para o cimo das mesas ao final de cada tarde com
a memória de muitos naufrágios e destroços
moedas, chaves, pedacinhos de nada.
Tiago Araújo, Respirar debaixo de água
do dia
é mais do que suficiente para fazer o registo das perdas,
encenar a descida da cruz, o corpo cansado retira-se
dos olhares públicos, enrola-se sobre si próprio por algumas horas....
não é preciso ir muito longe para encontrar os culpados
pelo actual estado de letargia. neste tribunal diário, o que fui
julga quem sou. as provas são retiradas do
fundo dos bolsos para o cimo das mesas ao final de cada tarde com
a memória de muitos naufrágios e destroços
moedas, chaves, pedacinhos de nada.
Tiago Araújo, Respirar debaixo de água
terça-feira, 22 de novembro de 2016
Buscando a Luz, a cada dia ganhamos um presente.
Encontrando o Ser, a cada dia abrimos mão de algo.
Aceitando-nos como somos, aliviamos as carências.
A suavidade vence a rigidez. A compaixão vence a raiva.
O amor vence o medo. A confiança vence a tristeza....
Se a nada nos apegarmos, nunca nada perderemos.
Em harmonia, compreendemos o Pleno que somos.
Pedro Kupfer
Encontrando o Ser, a cada dia abrimos mão de algo.
Aceitando-nos como somos, aliviamos as carências.
A suavidade vence a rigidez. A compaixão vence a raiva.
O amor vence o medo. A confiança vence a tristeza....
Se a nada nos apegarmos, nunca nada perderemos.
Em harmonia, compreendemos o Pleno que somos.
Pedro Kupfer
Croniquinha
VISÃO 22.09.2011
- Ali é a casa
António Lobo Antunes
VISÃO 22.09.2011
Moro num apartamento que escolhi, comprei, está em meu nome, o único bem no mundo, não contando o automóvel, que está em meu nome, porque nunca quis ter coisas que me pertencessem e, no entanto, não me abandona a impressão de morar num hotel, numa espécie de suite com alguns quartos. Faço cerimónia, não ligo aos móveis, não ligo aos objectos, escrevo aqui como fui escrevendo em tantos outros sítios, em Portugal e no estrangeiro, e não me sinto em casa, dá-me ideia de habitar, por empréstimo, o lugar de um outro que não conheço e que, a qualquer momento, vai entrar e mandar-me embora, falta-me o sentido de propriedade do que quer que seja, onde eu gostava mesmo de viver era num comboio, prestes a viajar, que não partisse nunca. Os comboios sempre me fizeram sonhar. Os comboios? Quase tudo me faz sonhar, que esquisito. Às vezes parece-me que sou uma nuvem com raízes, sempre a partir e a ficar. Não abandono os sítios de que me fui embora, coloquei a alma, escondida, sob cada objecto. Continuo em Veneza com sete anos, em Berlim com quarenta, não saí do lago do Jardim Zoológico, onde passeava, com o meu avô, num barco com pedais. Lembro-me dos patos, dos cisnes, de ser tão feliz, lembro-me de tudo. Não esqueci nada, não vou esquecer nada. Sofrimentos de amor aos doze anos, os primeiros versos, um pardal de pata quebrada que o sapateiro consertou com uma tala de cana. Certos perfumes nos elevadores vazios, as conversas, cheias de palavras desconhecidas, dos adultos, ajudar à missa na igreja gelada, a dor dos outros, que invariavelmente me aflige, o sacristão coxo, de Nelas, a pedalar uma trotineta que não existia. O sorriso raro do meu pai, as duas empregadas da minha avó a beijarem-se. Vidas pequeninas que eu não compreendia. A profunda solidão das pessoas. O meu espanto diante das criaturas amargas. Entendo a tristeza, entendo o desejo de suicídio, não entendo a amargura, o azedume, a avidez. Nem a antipatia, nem a inveja, nem a vaidade. Hoje passei pela igreja de Santo António onde, em criança, entrei tanta vez. Acho que ele me salvou das três doenças difíceis que tive. Com seis anos a minha palma no seu túmulo, em Pádua. Há-de estar lá, bem impressa, a marca destes dedos. Intermináveis discursos diante de quadros e estátuas, que me aborreciam de morte. Entre parênteses também não entendo a morte e, quanto à vida, será que a entendo de facto? Ou à minha adolescência, veemente e confusa? O desejo informulado, a descoberta atónita do sexo. Que mistério, à luz da madrugada, o corpo que se transforma e cresce e, depois, a minha cara no lençol como num sudário. Agora veio-me à cabeça um amigo meu, Frei Bento Domingues. Um dia disse-lhe
- Estás sempre tão alegre
ele respondeu
- O que eu podia eu ser senão alegre?
e não conheço mais nenhuma pessoa em que até os óculos riem, não conheço ninguém com tanta esperança, tanta curiosidade infantil, tanta fé de olhos abertos, tanta tolerância. Raios o partam. Comecei pela casa mas aquela que sinto minha fica longe e já não nos pertence. Não me atrevo a entrar, olho-a de longe, quase a medo, e é tudo. Passo na estrada, penso
- Ali era a casa
corrijo- Ali é a casa
e fujo. Quase tudo mudou nas redondezas, aliás, quase toda a gente faleceu. O casaco do meu outro avô, cheio de palitos. As duas lareiras da sala. Não era uma casa de ricos, recordo-me de imensas chávenas com a asa quebrada, recordo-me da mesa de pingue-pongue no andar de baixo e dos sons repetidos, cada vez mais rápidos, cada vez mais ténues, da bola ao cair no chão de pedra. Da vinha. Das vindimas. Olha, lá estão as empregadas a beijarem-se de novo e eu, parvo, sem entender. Beijos como no cinema, cochichos ternos. Fugi também, ocultando a minha perplexidade na trepadeira, cheia de insectos e lagartixas.
Afastava-me, com receio dos bichos, até ao muro ao lado da cancela. A estrada deserta, nem uma velha num burro, nem uma pessoa com um atado de lenha à cabeça. Comecei a escutar um barulho de guizos ao longe, um barulho de rodas de carroça, um barulho de vozes. A estrada tornava-se negra, vibrante, cheia de ecos que cresciam, eixos mal oleados, pranchas desconjuntadas, o que se me afigurava um canto. E, então, passaram os ciganos.
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
domingo, 20 de novembro de 2016
A memória dos meus mortos é mais viva do que quando lhes telefonava. Podia fazê-lo mas muitas vezes não o fazia, ficava para depois, ficou tantas vezes para depois. Quase todos os que existiam antes de eu existir foram-se ausentando. Pais, avós, tia que me amparou, alguns amigos, mais gente do que a conta. Estão agora aqui. Mais vivos do que antes. Em cada recanto do que sou, em cada divisão de uma casa interior cada vez mais composta. Ainda hoje lhes levei flores.
Harry, o lobo solitário de Hermann Hesse, sofridamente abre mão da crença em sua magnitude em função da aposta na vida e na relação com os outros. Sofre uma queda vertiginosa de sua posição defensiva onipotente ao entender o quanto precisava das pessoas. Neste momento, tornou-se fundamental reinventar-se. Era questão de sobrevivência. E, ao conformar-se com o fato de que sua singularidade era tão especial quanto a dos demais seres humanos, passou a escolher os momentos da vida em que, sim, poderia sentir-se único e os outros em que deveria entender que era mais um na multidão. Discriminar de forma objetiva os territórios que mais lhe importavam conquistar o ajudariam a escolher que lado do seu psiquismo iria privilegiar. E, assim, não mais iria se deixar ser dominado pela luta eterna entre dois EUs que não conversam.
sexta-feira, 18 de novembro de 2016
terça-feira, 15 de novembro de 2016
domingo, 13 de novembro de 2016
sábado, 12 de novembro de 2016
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
Odio las conversaciones cortas. Quiero hablar de átomos, de la muerte, del sexo, de magia, de extraterrestres, del intelecto, del sentido de la vida, de las mentiras que contaste, de tus defectos, de la música que te hace sentir diferente, de tu infancia, de tus aromas favoritos, de lo que te quita el sueño, de tus inseguridades y miedos. Me gusta la gente con profundidad, que habla con emoción. Yo no quiero saber un siempre "qué tal?".
- Anónimo
terça-feira, 8 de novembro de 2016
não podemos depender dos olhos quando a imaginação está desfocada. no entanto, as possíveis relações interiores entre objectos e o meio que os alberga têm algo a ver com a ancestralidade do silêncio. é esse o plano da matéria que busco e registo na permanente surrealidade do quotidiano.
(miguel de carvalho)
(miguel de carvalho)
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
domingo, 6 de novembro de 2016
sábado, 5 de novembro de 2016
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
quinta-feira, 3 de novembro de 2016
domingo, 30 de outubro de 2016
sábado, 29 de outubro de 2016
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
terça-feira, 25 de outubro de 2016
- « Cada segundo de vida es un momento nuevo y único en el universo, un momento que nunca se repetirá. ¿Y qué les enseñamos a nuestros hijos? Les enseñamos que dos y dos son cuatro, y que París es la capital de Francia. ¿Cuándo les vamos a enseñar también lo que son? Deberíamos decirles a cada uno de ellos: ¿Sabes quién eres? Eres una maravilla. Eres único. En todos los años que han pasado, nunca ha habido otro niño como tú. Tus piernas, tus brazos, tus dedos, la forma en que t...e mueves. Quizá te conviertas en un Shakespeare, un Miguel Ángel, o un Beethoven. Tienes la capacidad para hacer cualquier cosa. Si, eres una maravilla. Debes trabajar, todos debemos trabajar, para hacer al mundo digno de sus niños. »
Pablo Picasso.( 25 de Octubre de 1881-8 de Abril de 1973)
domingo, 23 de outubro de 2016
sábado, 22 de outubro de 2016
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
quarta-feira, 19 de outubro de 2016
sexta-feira, 14 de outubro de 2016
quinta-feira, 13 de outubro de 2016
sexta-feira, 7 de outubro de 2016
quinta-feira, 6 de outubro de 2016
domingo, 2 de outubro de 2016
sexta-feira, 30 de setembro de 2016
Moléstias de um carácter enfermo
"Os tiranos, os ditadores, os manipuladores, os abusadores de direitos e de outrem, são os eternos medrosos, escudando-se noutros em protecção e companhia, fugindo da solidão e abandono, que tão bem conhecem.
Não precisam desse escudo, quando assumem louros, mesmo que não sejam os devidos contemplados.
Têm, contudo, o problema de não saberem Ser.
Temem a liberdade e dão-se muito mal com a equidade e a justiça, sobretudo quando ela é justa e os contemplados com o prémio não são eles.
Em simultâneo, são incapazes de sobreviver sem se esmurrarem (negando os filhos, se necessário!) na tão desejada ascensão ao palco.
Desconhecem que nunca brilharam, brilham ou brilharão.
Não sabem que são baços, opacos, que estão manchados pelo desamparo e ameaça das trevas.
Ávidos de protagonismo, ainda que jamais merecedores, ou mesmo que nada tenham contribuído para tal, roubam feitos e inventam outros tantos, tão só para que a sua exibição seja louvada e glorificada em público e, caso este não exista, paga-se, ameaça-se, impõe-se e mendiga-se para que exista o tão precioso reconhecimento.
Eles (e elas) são os perpétuos abandonados, deitando-se diariamente com os próprios medos e com os de novos abandonos.
Tremem de cima a baixo perante a honra e a sanidade de um carácter.
Tremem e temem porque nunca sentiram o amor.
São os desamados, os descurados da felicidade, os escorraçados do direito dos prazeres.
Deitam-se e levantam-se no seio do espinhoso desprazer, do pérfido desconsolo.
Nem mais conseguem desejar ou fantasiar, senão mal, vingança, ódio, massa de que são feitos.
Sorriem como vomitam.
Debitam doença por todos os poros, como manda a mansidão do medo.
A denúncia é sempre implacável e eles próprios se amordaçam no único sentimento que vivem – o MEDO, o infinito e estrangulador medo.
Jamais conseguem olhar, tranquilamente, de frente.
Jazem ancorados nas paranóias.
Jamais se afastam da sua segurança e confiança na cobardia.
São os mais puros exemplares do disfarce e dos efeitos da rejeição.
Liberdade, igualdade e justiça desconhecem o medo.
Os enfermos de carácter estão impregnados dele.
Assustam-se, até, com a própria sombra, sempre alerta.
Se o navio ameaça afundar, são os primeiros a rasparem-se. Antes dos filhos.
Contudo, travestem-se de grandiosidades, honras e orgulhos, intentando salvaguardar uma integridade cheia de moléstias, que não pára de sangrar medo e desesperança, sem vislumbre de forma de purga.
Temem a igualdade por temerem a verdade.
Abaixo deles só estão restos deles, cacos, fragmentos e a morte em material psicológico decomposto.
São os filhos da mentira, do impulso, do primário, da ambivalência e incongruência.
São os filhos do sítio onde nada tem sentido lógico, abstracto, continuado e universal.
São filhos do sítio onde as premissas e valores são o egoísmo, o capricho, o egocentrismo e o primarismo do princípio do prazer próprio e imediato.
Vivem na idealização e glorificação da própria supérflua e falsa grandiosidade, que quando se desmorona, despeja-se dolorosamente nas rugas do desamparo, já tão familiarizado.
São uns pujantes e poderosos candidatos ao Nobel do disparate, se este existisse.
São fugidios, reptícios e viventes de pérfidos esconderijos.
Os subterfúgios a que recorrem nunca são os transparentes e fiéis comparsas da honestidade.
Nunca estão de igual.
A menoridade e a rastejante subalternidade, impregnada em cada fragmento desses sofridos sobreviventes seres, não dá tréguas.
Como náufrago em si, exige que essa inferioridade seja compensada e enfeitada com manifestos de exaltação de ego, auto-injectando as caracterizações e competências que apenas eles próprios conseguem identificar, no ridículo das circunstâncias.
Alheios a qualquer tipo de auto-crítica estão sujeitos aos mais miseráveis e patéticos conceitos por eles próprios construídos.
Usam e gostam da mentira e da ameaça, para se sentirem protegidos, enquanto sobreviventes incompletos, oriundos da incerteza, da falência, da insegurança, da susceptível corrupção e do suborno.
Gostam do poder, para alimentar a própria mentira e para camuflarem as próprias dores e agonias da inserenidade.
Alerta constante dos delírios, perigos sentidos e percepcionados, que de qualquer lugar se podem evidenciar. Da sua interioridade, em primeiro lugar e, depois, da extrapolação defensiva dessa doente interioridade, para a exterioridade.
Está, nesses enfermos, ainda, a limitação de perceberem como constroem o que os circunda.
Vêm as suas tatuadas dores e os próprios persecutórios fantasmas ao seu redor e conspurcam todos os ambientes em que se infiltram.
Infiltram-se, desonrosamente, quais ratazanas infestadas de males, em quaisquer meandros que lhes promovam sentirem algum valor dentro do seu eterno desvalor e desvalia.
Gostam da sua imposição e do desrespeito, porque o conhecem desde o nascimento.
São verdadeiros cúmplices da massacrante angústia de separação, da inaceitação, da negligência e da desintegração.
São vítimas do desconforto invariável.
São uns Não-São.
Cresceram e desenvolveram-se na interioridade do abandono, na interioridade de um útero psicológico punitivo, castrador, vadio, frio, alheado e ferrado em dor.
Estão incompletos, inacabados, enfermos que acartam a própria moléstia do nascimento ao caixão.
São os eternos incompetentes, inoperantes, mascarados, contudo sempre ávidos e aspiradores de presença e poder.
Intoleram qualquer frustração, quais criancinhas caprichosas e mal vividas.
Vivem na sombra do medo, escudados por uma importância que só eles a identificam.
A companhia da viagem onírica, dos sujeitos enfermos de carácter, é o terror, o susto, o pesadelo, o suor untoso e gélido.
Sempre em alerta, com moletas (cães de capanga) e sem tréguas.
Fedem a medo por todos os poros, demonstrado pelos sorrisos tensos de incerteza e insegurança, bem como pelo ferro da rejeição.
Vivem a repetição do abandono, da invinculação, ou vivem pelas tóxicas certezas que engendram, obediente e rigidamente, para sobreviver à panóplia de mansidão a que estão sujeitos, pelos seus acumulados rancores, já transformados em amargas certezas que conferem a corrosiva “ordem natural das suas coisas”.
São sociopatias, psicopatias, tiranias e manipulações … são enfermos do carácter, escudados na doença social, na doença, no medo que não desgruda e na vingança traiçoeira.
Usufruem do poder da circunstância e do poder do logro.
Sempre ávidos e disponíveis para um qualquer comando, para remediar e remendar os fundos lanhos que exibem nos seus não elegíveis esqueletos psicológicos.
Têm fim curto.
Só que se clonam, quais ninhadas de fungos.
Sai um entra outro.
A digníssima vontade, que de todo desconhecem, está para além das pulsões básicas do mal e da sociopatia, esta movida pela inferioridade enraizada no âmago da sua atroz sobrevivência.
Morrem pelos próprios meios, em cega e imponderada obediência com que debitam os seus sintomas em formato de rancores e incompetência.
Nunca está, ao alcance destes enfermos, o poder comunitário, de grupo, centrado no fundamento dos postulados da igualdade e honestidade do sufrágio.
Serem os eternos ilegíveis, está na base do entendimento da análise do substrato formal e de conteúdo dos registos intrapsíquicos dos infectados no carácter.
É a falsidade, a mentira e o jeitinho circunstancial que lhes corre e corrói.
Os pré-conceitos e os conceitos duram, para estes manhosos enfermos, o tempo das suas próprias conveniências.
São mutantes, consoante os ares … vivem na deriva, sem porto, sem razão.
Ostentam serem e parecerem um muro blindado de rigor e razão, mas que foi construído pelo medo, por maus ventos, maus vínculos, maus pais, más mães, descoloridas matrizes de aleitamento … em todos os seus fragmentos … persecutório, intoxicado, abandónico e abandonado.
Foram escarrados, não foram paridos.
Mas são epidemia."
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
sábado, 24 de setembro de 2016
"A doença é um conflito entre a personalidade e a alma.
A constipação acontece quando o corpo não chora.
A dor de garganta entope quando não é possível comunicar as aflições.
O estômago arde quando as raivas não conseguem sair.
O diabetes invade quando a solidão dói. ...
O corpo engorda quando a insatisfação aperta.
A dor de cabeça deprime quando as duvidas aumentam.
O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar.
A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável.
As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas.
O peito aperta quando o orgulho escraviza.
A pressão sobe quando o medo aprisiona.
As neuroses paralisam quando a "criança interna" tiraniza.
A febre aumenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade.
Os joelhos doem quando o orgulho não se dobra.
O cancro mata quando não se perdoa e/ou cansa de viver.
E as dores caladas? Como falam no nosso corpo? A doença não é má, ela avisa quando erramos na direcção.
O caminho para a felicidade não é recto, existem curvas chamadas EQUÍVOCOS, existem semáforos chamados AMIGOS, luzes de precaução chamadas FAMÍLIA, e ajudará muito ter no caminho uma peça de reposição chamada DECISÃO, um potente motor chamado AMOR, um bom seguro chamado DETERMINAÇÃO, abundante combustível chamado PACIÊNCIA.
Mas principalmente um maravilhoso CONDUTOR chamado INTELIGÊNCIA , Consciência e Sensibilidade."
A constipação acontece quando o corpo não chora.
A dor de garganta entope quando não é possível comunicar as aflições.
O estômago arde quando as raivas não conseguem sair.
O diabetes invade quando a solidão dói. ...
O corpo engorda quando a insatisfação aperta.
A dor de cabeça deprime quando as duvidas aumentam.
O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar.
A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável.
As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas.
O peito aperta quando o orgulho escraviza.
A pressão sobe quando o medo aprisiona.
As neuroses paralisam quando a "criança interna" tiraniza.
A febre aumenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade.
Os joelhos doem quando o orgulho não se dobra.
O cancro mata quando não se perdoa e/ou cansa de viver.
E as dores caladas? Como falam no nosso corpo? A doença não é má, ela avisa quando erramos na direcção.
O caminho para a felicidade não é recto, existem curvas chamadas EQUÍVOCOS, existem semáforos chamados AMIGOS, luzes de precaução chamadas FAMÍLIA, e ajudará muito ter no caminho uma peça de reposição chamada DECISÃO, um potente motor chamado AMOR, um bom seguro chamado DETERMINAÇÃO, abundante combustível chamado PACIÊNCIA.
Mas principalmente um maravilhoso CONDUTOR chamado INTELIGÊNCIA , Consciência e Sensibilidade."
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
O corpo tem degraus, todos eles inclinados
tem milhares de lembranças do que lhe aconteceu
filiação, geometria
umdesabamentoquecomeça do avesso
e formas que ninguém ouve ...
tem milhares de lembranças do que lhe aconteceu
filiação, geometria
umdesabamentoquecomeça do avesso
e formas que ninguém ouve ...
O corpo nunca é o mesmo
ainda quando se repete:
deondevemestebraçoquetoca no outro,
deondevêmestaspernasentrelaçadas
como alcanço este pé que coloco adiante?
não aprendo com o corpo a levantar-me,
aprendo a cair e a perguntar.
José Tolentino Mendonça
in Estação Central, 2012
ainda quando se repete:
deondevemestebraçoquetoca no outro,
deondevêmestaspernasentrelaçadas
como alcanço este pé que coloco adiante?
não aprendo com o corpo a levantar-me,
aprendo a cair e a perguntar.
José Tolentino Mendonça
in Estação Central, 2012
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
O HOMEM MAGNETICO NÃO É COMMUNICATIVO.
COMMUNICA-VOS ELLE ALGUMA NOVIDADE?
Nada que possa parecer-se com exaltação.
A esphera das suas ideias eleva-se acima
do desejo de excitar admiração. Diz que o Mundo attribue força áquelles que não entende. Nunca perdeis a força de um segredo. Fixae que os rios tranquillos são mais profundos.
COMMUNICA-VOS ELLE ALGUMA NOVIDADE?
Nada que possa parecer-se com exaltação.
A esphera das suas ideias eleva-se acima
do desejo de excitar admiração. Diz que o Mundo attribue força áquelles que não entende. Nunca perdeis a força de um segredo. Fixae que os rios tranquillos são mais profundos.
- Mola Dudle
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
sábado, 17 de setembro de 2016
sexta-feira, 16 de setembro de 2016
- Desculpe o transtorno, preciso falar da Clarice.
Conheci ela no jazz. Essa frase pode parecer romântica se você imaginar alguém tocando Cole Porter num subsolo esfumaçado de Nova York. Mas o jazz em questão era aquela aula de dança que todas as garotas faziam nos anos 1990 –onde ouvia-se tudo menos jazz. Ela fazia jazz. Minha irmã fazia jazz. Eu não fazia jazz mas ia buscar minha irmã no jazz. Ela estava lá. Dançando. Nunca vou me esquecer: a música era "You Oughta Know", da... Alanis.
Quando as meninas se jogavam no chão, ela ficava no alto. Quando iam pra ponta dos pés, ela caía de joelhos. Quando se atiravam pro lado, trombavam com ela que se lançava pro lado oposto. Os olhos, sempre imensos e verdes, deixavam claro que ela não fazia ideia do que estava fazendo. Foi paixão à primeira vista. Só pra mim, acho.
Passamos algumas madrugadas conversando no ICQ ao som de Blink 182 e Goo Goo Dolls. De lá, migramos pro MSN. Do MSN pro Orkut, do Orkut pro inbox, do inbox pro SMS.
Começamos a namorar quando ela tinha 20 e eu 23, mas parecia que a vida começava ali. Vimos todas as séries. Algumas várias vezes. Fizemos todas as receitas existentes de risoto. Queimamos algumas panelas de comida porque a conversa tava boa. Escolhemos móveis sem pesquisar se eles passavam pela porta. Escrevemos juntos séries, peças de teatro, filmes. Fizemos uma dúzia de amigos novos e junto com eles o Porta dos Fundos. Fizemos mais de 50 curtas só nós dois —acabei de contar. Sofremos com os haters, rimos com os shippers. Viajamos o mundo dividindo o fone de ouvido. Das dez músicas que mais gosto, sete foi ela que me mostrou. As outras três foi ela que compôs. Aprendi o que era feminismo e também o que era cisgênero, gas lighting, heteronormatividade, mansplaining e outras palavras que o Word tá sublinhando de vermelho porque o Word não teve a sorte de ser casado com ela.
Um dia, terminamos. E não foi fácil. Choramos mais que no final de "How I Met Your Mother". Mais que no começo de "Up". Até hoje, não tem um lugar que eu vá em que alguém não diga, em algum momento: cadê ela? Parece que, pra sempre, ela vai fazer falta. Se ao menos a gente tivesse tido um filho, eu penso. Levaria pra sempre ela comigo.
Essa semana, pela primeira vez, vi o filme que a gente fez juntos —não por acaso uma história de amor. Achei que fosse chorar tudo de novo. E o que me deu foi uma felicidade muito profunda de ter vivido um grande amor na vida. E de ter esse amor documentado num filme —e em tantos vídeos, músicas e crônicas. Não falta nada.
Gregório Duvivier - 12/09/2016
quinta-feira, 15 de setembro de 2016
quarta-feira, 7 de setembro de 2016
terça-feira, 30 de agosto de 2016
terça-feira, 23 de agosto de 2016
domingo, 21 de agosto de 2016
sábado, 20 de agosto de 2016
sexta-feira, 29 de julho de 2016
"Enamórate de alguien que te quiere, que te espera, que te entiende incluso en la locura; alguien que te ayude, y que te guíe. Alguien que sea tu apoyo, tu esperanza. Enamórate de alguien que te habla después de una pelea. Enamórate de alguien que te echa de menos y quiere estar físicamente contigo. Pero no te enamores de un cuerpo, de una cara, o de la idea de estar enamorado."
quinta-feira, 28 de julho de 2016
segunda-feira, 25 de julho de 2016
domingo, 24 de julho de 2016
reflexão num bonito dia de verão
Fotog - Luis Pedro Morais
O erro das palavras e dos livros e das cartas, é que pensavam erradamente que poderiam substituir os actos e os beijos e as noites juntos. Nem 3 romeus e julietas substituem um beijo, nenhum filme, nenhum poema, nenhuma dança ou peça de teatro, poderão algum dia substituir dois corpos que se unem como se dançassem, como se filmassem, como se escrevessem, como se fossem no fundo, um poema. E esse é o grande e eterno trauma da arte: a perda constante da prosa em relação à prática.
Fernando Alvim
Fotog - Luis Pedro Morais
sábado, 23 de julho de 2016
terça-feira, 19 de julho de 2016
domingo, 17 de julho de 2016
sexta-feira, 8 de julho de 2016
quarta-feira, 6 de julho de 2016
terça-feira, 5 de julho de 2016
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