sexta-feira, 30 de outubro de 2020
quarta-feira, 28 de outubro de 2020
segunda-feira, 26 de outubro de 2020
domingo, 25 de outubro de 2020
A Quinta de S. João
Hoje, enquanto descascava maçãs para fazer puré não pude deixar de recordar...os meus tempos na Quinta de S. João, em Viseu, no Outono mais frio da minha vida.
Acabada de chegar do Sul, de Évora, de Biofísica e da longa folga e leve vida de estudante.
Tudo foi um estranhar e entranhar. A paisagem, o clima, as casas, as comidas, o sotaque, as gentes do Norte. As mulheres trabalhadoras com a força de homens.
O meu primeiro emprego, foi ir trabalhar nas estufas. Nas plantas aromáticas e medicinais. Que entretanto ficaram sem muito para tratar ou fazer. Era a apanha das maçãs na quinta por essa época. Ofereci-me prontamente para ajudar sem saber o quanto custa apanhar uma maçã, ao frio, à chuva, às 6h da manhã, nas beiras.
Mas valia o esforço de uma época, o almoço era na cozinha antiga de pedra e azulejos verdes escuros com o Tio Maia Loureiro, que me tinha de pupila. As panelas fumegavam. Cozinhava lindamente. Ali comi as melhores maçãs assadas da minha vida com a sua geleia e nozes por cima. E canela talvez. Ainda sinto o cheiro. Nunca consegui replicar.
Descobri tantas coisas,
o que é a Bucha, pequena refeição ligeira que tomávamos a meio da manhã no campo, matava a fome e o frio. Mesmo de galochas, oleado e luvas, tudo pingava.
O sabor do café quentinho que o meu recente marido me fazia chegar num termo. Que ainda fumegava e se misturava com o nevoeiro onde estávamos.
A técnica da apanha, desde retirar da árvore, a calibrar, pesar, e despachar para a cooperativa.
Tudo com cuidado e preceito. Não deixar cair porque é frágil, para não danificar, amolgar, desaproveitar. Como a vida.
Conheci a amizade genuína da Celeste.
As gargalhadas soltas e sonoras da Tia Lena.
Entendi a força física e mental precisa para encarar qualquer trabalho.
Percebi o quanto vale uma maçã no prato.
O custo de tudo que a maioria não quantifica ou valoriza.
Apreendi a olhar.
sábado, 24 de outubro de 2020
“Às perguntas mais importantes sempre terminamos respondendo com a nossa vida. O que dizemos nesse meio tempo não tem importância, nem os termos e e argumentos com que nos defendemos. No final de tudo, é com os factos de nossa vida que respondemos às indagações que o mundo nos faz com tanta insistência.”
"Whatever you're meant to do, do it now.
The conditions are always impossible.”
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
terça-feira, 20 de outubro de 2020
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
domingo, 11 de outubro de 2020
sexta-feira, 9 de outubro de 2020
Há! Mas são verdes!
Até que sou rapariga de gostar de comer verdes e afins... antes disto ser moda já eu andava no pólen, mesmo sendo alentejana pata negra.
Mas já não se pode com tanta comida saudável a saber ao mesmo.
Degustar sim mas que surpreenda.
Manias de tudo querer brunch e sushi.
Suspiro por algo de verdade, que me faça salivar. Que aqueça.
Chega de cafés à la país do norte, restaurantes em tons pastel e espaços a soar a leve e light.
É bowls, salmão e tostas de abacate em cada prato. Menú previsível. Porta sim porta sim... vira o disco e toca o mesmo em todas as ruas. Em loop.
Pura vida mas nem tanto.
Regressem os taberneiros,
que falta que me fazem os azulejos feios nas paredes, as cadeiras incómodas lascadas, o verdadeiro velho mosaico hidráulico, o cheiro à tasca de sempre, a conta menos que dez na toalha de papel.
Comer a gordura a escorrer a rodos, venha o pernil e a batatinha frita.
Saudades de me sentar em frente a um copo a ouvir conversas das caras de quem vive nos lugares de sempre que foram substituídos por mais do mesmo, onde não somos um nome mas um número.
Digo que:
Tenho apetite do tacho simples. Que a barriga é velha e a fome ainda mais.
E que antes ser do colesterol que da falta dele.
domingo, 4 de outubro de 2020
Ave madrugadora
De visita à Aldeia,
lembro - me sempre daquele poema do Manuel da Fonseca,
ALDEIA
Nove casas,
duas ruas,
ao meio das ruas
um largo,
ao meio do largo
um poço de água fria.
Tudo isto tão parado
e o céu tão baixo
que quando alguém grita para longe
um nome familiar
se assustam pombos bravos
e acordam ecos no descampado.
Manuel da Fonseca
Ainda assim não despertou a professora que o Sr. Domingos conta que para aqui veio descansar, e disse:
- Esqueci-me de acordar.
Será porque aqui o tempo parou.
Casas de pedra, em torno de uma única rua.
O som das galinhas e do vento a roçar nas azinheiras.
Ensino a Carminho que viver também é quebrar regras e a usar o baloiço só para hospedes.
Aproveito o balanço e vou também no Baloiço e no Balancé.
Outra vez criança.
O ar na cara, arejo,
que gaiolas citadinas apodrecem o corpo e tolhem o espirito.
O azul do céu no verde da eira,
Curada.