Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


sexta-feira, 26 de abril de 2024

 ... e na minha cabeça hoje tive novamente 17 anos.

Rita ouvi chamar, nem quis acreditar,

mas já não me chamou Mari Rita como me chamava faz décadas atrás.

Um fantasma do passado,

e estava igual, 

sem sinal de deterioração ou desgaste,

como se só eu tivesse envelhecido.

Ele que na altura não me tocou por eu ser tão novinha,

agora era eu a maior de idade, e ele na mesma,

foi o que mais me impressionou.

Mais até do que me ter descoberto na ficha técnica da empresa e me ter procurado,

e eu sentada sozinha num banco da garagem,

num angulo morto para a rua,

naqueles momentos em que estamos longe.

Dizem que quando pensamos ou falamos nas pessoas elas andam rondando por perto,

~~~mesmo sem nos vermos faz anos. 

E tinha falado nele com uma amiga comum fazia dois dias.


Olhei para aquele mau feitio,

recordei, 

as horas gastas, 

as muitas tardes que ia de visita ao atelier, e ficava a olhar para aquelas mãos a desenhar sobre o estirador.

Já nem as achei bonitas.

As muitas caminhadas em que gastámos a calçada de Évora, 

a descobrir o que se olha pela primeira vez.

Agora somos apenas dois estranhos, 

e um passado de oportunidade perdida.

A cigana com quem me cruzei perto do mercado na outra semana foi largando umas,

que agora vinham tempos de sorte, no amor, e no resto.

>Irei ver no resto,

hoje passei no mesmo sitio, tentei nem ver a cigana, mas vi que estava no chão uma lotaria dobrada.

Até agora, 

tudo como dantes no quartel de Abrantes,

é noite de sexta-feira,

estou em casa sozinha,

e as mensagens que apitam são só as promoções do Pingo Doce.


Bem na verdade nem tudo está igual,

nos 17 ele dizia que eu era como as andorinhas, que aparecem a cada Primavera.

nos 50 fui eu quem recebeu a sua visita.


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