... e na minha cabeça hoje tive novamente 17 anos.
Rita ouvi chamar, nem quis acreditar,
mas já não me chamou Mari Rita como me chamava faz décadas atrás.
Um fantasma do passado,
e estava igual,
sem sinal de deterioração ou desgaste,
como se só eu tivesse envelhecido.
Ele que na altura não me tocou por eu ser tão novinha,
agora era eu a maior de idade, e ele na mesma,
foi o que mais me impressionou.
Mais até do que me ter descoberto na ficha técnica da empresa e me ter procurado,
e eu sentada sozinha num banco da garagem,
num angulo morto para a rua,
naqueles momentos em que estamos longe.
Dizem que quando pensamos ou falamos nas pessoas elas andam rondando por perto,
~~~mesmo sem nos vermos faz anos.
E tinha falado nele com uma amiga comum fazia dois dias.
Olhei para aquele mau feitio,
recordei,
as horas gastas,
as muitas tardes que ia de visita ao atelier, e ficava a olhar para aquelas mãos a desenhar sobre o estirador.
Já nem as achei bonitas.
As muitas caminhadas em que gastámos a calçada de Évora,
a descobrir o que se olha pela primeira vez.
Agora somos apenas dois estranhos,
e um passado de oportunidade perdida.
A cigana com quem me cruzei perto do mercado na outra semana foi largando umas,
que agora vinham tempos de sorte, no amor, e no resto.
>Irei ver no resto,
hoje passei no mesmo sitio, tentei nem ver a cigana, mas vi que estava no chão uma lotaria dobrada.
Até agora,
tudo como dantes no quartel de Abrantes,
é noite de sexta-feira,
estou em casa sozinha,
e as mensagens que apitam são só as promoções do Pingo Doce.
Bem na verdade nem tudo está igual,
nos 17 ele dizia que eu era como as andorinhas, que aparecem a cada Primavera.
nos 50 fui eu quem recebeu a sua visita.
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