Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


domingo, 7 de abril de 2024

Minha mãe a dobrar

 Avó,

afinal como vês, mesmo através do retrato, consigo passar a ferro sem me queimar.

Até tenho mãos para isso, dizias que não tinha mãos para trabalhar...com a pele tão fina de bicho da seda. Ainda são suaves, mesmo sem creme, e com os sinais da idade.

Hoje farias anos,

já não beberemos o teu café, nem há velas com bolo,

mas beberei um vinho a pensar em ti.

Poderia imitar a omolete, mas não,

os ovos do campo estão escassos, morreram as galinhas e as donas.

As costelinhas de borrego também nunca mais as vi. E eu não entro num talho.

Mesmo assim, o dia está bonito.

Abril a abrir.

A tua filha agora tem a tua cara, não tão fofinha é certo, nem cheira a sabonete.


As ruas estão desertas, com as portas e os postigos fechados.

Eu te preguntava porque suspiravas tanto,

já sei a resposta.

Será a vida uma ilusão como dizias?



Sem comentários:

Enviar um comentário