Avó,
afinal como vês, mesmo através do retrato, consigo passar a ferro sem me queimar.
Até tenho mãos para isso, dizias que não tinha mãos para trabalhar...com a pele tão fina de bicho da seda. Ainda são suaves, mesmo sem creme, e com os sinais da idade.
Hoje farias anos,
já não beberemos o teu café, nem há velas com bolo,
mas beberei um vinho a pensar em ti.
Poderia imitar a omolete, mas não,
os ovos do campo estão escassos, morreram as galinhas e as donas.
As costelinhas de borrego também nunca mais as vi. E eu não entro num talho.
Mesmo assim, o dia está bonito.
Abril a abrir.
A tua filha agora tem a tua cara, não tão fofinha é certo, nem cheira a sabonete.
As ruas estão desertas, com as portas e os postigos fechados.
Eu te preguntava porque suspiravas tanto,
já sei a resposta.
Será a vida uma ilusão como dizias?
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