Hoje Primavera,
fria e parada.Os dias com cara de Domingo.
Eu que queria,
tento as horas, mas o relógio já não mede as de ponta.
As ruas desertas,
mais ruas do que Almas,
restam algumas na fila do pão,
mas a fome é velha,
até para os amantes que já não vagueiam de noite nem de dia de cama em cama.
Regresso apenas com um jornal de ontem. O pão de plástico não me convence. E o do relógio da torre das gaivotas fica longe.
Podemos atravessar em todas as cores do semáforo,
respeitar apenas os 2 metros entre cada um se for o caso,
mas nem os vizinhos
se aproximam.
Cumprimento que se perde, comprimento que se ganha.
Para enganar a solidão tenho livros, a percentagem certa de cacau, álcool de beber e os filmes em gaveta,
nesse entretanto esqueço.
Já fez sol e chuva,
em janela fechada conta o mesmo.
O amor doseado,
em teclas desinfetadas,
não vá a urgência
ser uma agravante.
Já ninguém me chama menina,
crescemos quando os filhos e os pais nos perguntam
- o que fazer?
21 de março de 2020 em repeat
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