Nas alturas mais complicadas da minha vida escrevo os melhores capítulos.

Não há passos perdidos.


domingo, 15 de março de 2020

Diário de uma quarentona em dia de quarentena

Faz um ano, de viagem marcada no dia seguinte, fui obrigada a ficar em casa.
Parti o tornozelo em 3 sítios num acidente de trabalho do qual ainda recupero.
DEZ parafusos depois conto que:
Senti-me furiosa, de castigo em casa sem saber porquê, mas as coisas não acontecem só aos outros.
A minha vida iria ficar parada durante meses, eu que sou uma irrequieta hiperativa desde que nasci. Tive que aprender a parar e a dar valor aos pequenos prazeres. Fiquei dependente de ajuda para comida, banho ou deslocações. Tive que fazer um horário com estrutura e tarefas para não desanimar mesmo sem me poder mexer pois a perna ficou de gesso esticada no sofá e dores mais que muitas, mas a forma como gerimos o que nos acontece é que nos torna mais fortes. O desanimo é berço para as doenças ficarem. 
Já sofri e venci também uma septicemia e na hora h fiz um manguito à morte.
Aprendi por isso a dar valor a tudo quando estamos bem e com saúde, respirar, poder andar, conduzir sem destino com a música que gostamos, apanhar ar com a mão de fora no vidro do carro, ouvir os sons da natureza ou da música, tomar um banho no mar, boiar, ou mesmo a água no duche a correr sobre a pele com os cheiros de um bom sabonete, poder estar na minha casa, cama, sofá ou a caminhar, a tomar o sol na pele, poder cozinhar e deliciar-me depois na companhia de um vinho, poder escrever, fazer um diário da quarentena, um dia mais tarde vamos achar graça, ler ou desenhar, meditar,...ou ver um filme com o kit sofá manta e chocolates, … ou dormir uma sesta tranquila, ou tirar cursos on line, quem está longe dos grandes centros sempre o fez, ou arrumar as gavetas e esvaziar. Libertar o que não faz falta. Fazer essa chamada a um velho amigo que nunca temos tempo, eu hoje já recebi uma :)
Daremos mais valor a estar nesse próximo jantar de grupo ou no concerto ou esplanada ou nessa molha, encharcados mas vivos. 
Estes tempos deveriam ser de entender o que é importante e não encher despensas. As crises são momentos criativos, deverão ser aproveitados para nos focarmos nas coisas essenciais e no que podemos apreender com a lição e quando não temos saúde nada disto apetece. Perceber que é uma fase, como muitas e que tudo irá um dia passar. As fases são para serem vividas em pleno. Esta é a de apreender a ficar por casa. Muitos gostariam… ;) Aceitar, é a palavra. 

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