domingo, 31 de maio de 2020
sábado, 30 de maio de 2020
O quanto custa um Arroz de lingueirão
Quem me devolve o que se perdeu?
Ainda não sei o que será melhor, se apagar ou lembrar.
Não foi só o Vírus, o papão que nos comeu e levou tudo.
Hoje o meu arroz de lingueirão nada tinha do último que me tinha ficado em memória.
E repetindo sítio. SEI que nada se repete, que nada fica igual, mas será que comeu também a cozinheira?
Um restaurante pode mudar tudo, a ementa, a decoração, os empregados, até a gerência. Nunca pode mexer na sua galinha dos ovos de oro. Assim não ganha repetentes que é o que se pretende.
Nesse caminho de retorno fui hoje ao engano. Na lembrança do meu último arroz lá comido. Tinha perdurado. E ISSO É TERRÍVEL. Tem um preço, que nem se contabiliza em moeda corrente. Mas na fasquia que se eleva na difícil arte de manter.
Já nem falo sequer de querer os que comi na Fábrica, em Cacela, que mesmo com má memória recordo.
Mas os possíveis nesta Lisboa descampada.
Terminei a perguntar com o mau feitio que me assiste,
- O vírus papou também os coentros? A cebola? A pimenta? o alho? O louro? Os pimentos?
Dos companheiros de sempre que me lembro assim de repente. Aqui só vejo arroz de tomate com lingueirão atirado lá para dentro sem mais.
- A Sra. quer a conta?
quinta-feira, 28 de maio de 2020
quarta-feira, 27 de maio de 2020
terça-feira, 26 de maio de 2020
segunda-feira, 25 de maio de 2020
domingo, 24 de maio de 2020
um longo caminho até mim
Sabemos de que matéria somos feitos, mas demora uns longos caminhos de pedra e outros atapetados.
É investir em bons sapatos e mesmo assim muitas vezes tropeçamos.
Um dia sem querer afinamos, a lucidez vem à cabeceira, somos tempo maduro, depurado, pronto para ser colhido e saboreado. Não engolido à pressa em ambientes descartáveis. A essência pode não ser recomendável e higiénica. Imprópria para digestões. A verdade é crua.
Os escombros sempre me despertaram curiosidade.
O perfeito não existe, além de ser monótono é outra deformação da realidade.
Gosto de sentir as subcamadas. Esquizofrénicas. Ver o que está dentro, debaixo. Polidos os cumes, aceitamos as deformidades. Vão-se encaixando em ajuste certeiro, completo na nossa estrutura final.
Lembro-me sempre da Clarice que dizia:
"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta o nosso edifício inteiro."
E o nosso edifício inteiro fala por nós.
Quem gosta, ama, sem precisar de nos ver no nosso melhor. Gosta porque somos imperfeitos e únicos.
É esta leveza da liberdade do Ser que se adquire, que compensa e contrabalança a rigidez física e mental obtida. E não a desconstrução de quem somos afinal. Nunca completos, mas plenos. Cada ruga leva tempo e a cicatriz tem raiz. Isto dá algum espaço. A patine dos desastres nos caminhos. Batidas de frente. Não são precisas tatuagens extra. Gosto de envelhecer, porque cada dia da minha vida foi intensamente saboreado.
Para quando nos olharmos nos muitos espelhos temporais que atravessamos, não vermos a versão em série cinzentinha.
Muitas histórias até aqui. Nunca sabemos onde começa uma e a volta que enreda na seguinte. Talvez no fim se entenda o labirinto se descobrirmos o caminho de saída ou quem sabe nunca pegue com a porta da entrada.
Apesar de esforçada, o meu relógio como o de Dalí derreteu, só serve para a hora mágica.
- Não Alice, nem sempre, nem nunca!
sexta-feira, 22 de maio de 2020
Ele há dias
Hoje dia de Santa Rita,
a advogada das causas impossíveis,
(deixo a oração in case)
https://oracoespoderosas.info/oracoes-a-santa-rita-de-cassia/
com patronas destas temos por garantido pelo menos algumas horas de sorte,
tive direito a carro na porta da praia,
na sombra de uma palmeira,
parquímetro avariado,
café com vista,
banho imperdível no mar, só para mim.
Praia deserta,
veleiro na mira,
o silêncio, só atropelado por gaivotas e o som das ondas,
fiz o meu exercício favorito, ler velhos jornais na cadeira da praia.
apareceu o aranhiço da tarde que é sinal de saudade,
consegui a delicia de uma cabeça de Palmeta pescada a uns klm/s da Ilha da Madeira, mas que caiu no meu prato a tempo devido a um lobo do mar que vende a ementa completa para dois a 20€ (com tudo incluído até batata com pele como se deve).
Na verdade não se precisa de muito quando se descobre a praia perfeita, o peixe que melhor é impossível e a família que nos sabe bem por perto.
- A mãe fica horas a beber café! diz a Carminho
e eu sorri, porque a arte de saber apreciar só vem com a idade.
quinta-feira, 21 de maio de 2020
Desconfinada por natureza
Somos animais de hábitos.
Depois de se entranhar, permanecemos. Sem questionar.
Regresso à volta dos sítios do costume.
Hoje foi dia de visita ao grelhador do mar mais concorrido da minha rua, aproveito que agora ainda sem filas. Antes que comecem todos a sair eu já.
Mesas mais desinfetadas do que nunca,
Agradáveis porque mais vazias. Finalmente espaço.
Sem sentir o cotovelo do vizinho em cima, a ouvir o que digo porque este meu tom, e à vontade cabe-me a barriga entre a cadeira e mesa.
Os empregados mais atenciosos e simpáticos do que nunca vieram todos verificar se está tudo bem para garantir nova visita.
Atesto que já voltaram as sardinhas, salada de pimentos e afins.
Os saberes e os sabores ainda são os mesmos.
O que era mau, continua mau.
As batatas devolvidas sem apetecer. Nunca entenderei porque chegam sem pele, que dá trabalho, as enfarinha e tira o gosto. Nunca eu digo como gosto nem eles perguntam. Quando olho para elas brancas, farinhentas e aguadas é que me lembro. Mas fico de consciência leve, vão para trás repudiadas sem explicação e o corpo agradece. Será por isso que não as peço a rigor.
Valeu o vinho.
Quanto às sardinhas que teimo em inaugurar em Maio, digo sempre o mesmo:
- Deveria ter esperado por Junho, ainda precisam de crescer.
( Eu ou as Sardinhas?) O que vale é que em Junho tenho mais um ano!
quarta-feira, 20 de maio de 2020
Limpos dias claros
quanto mais caminhamos para fora, mais entramos para dentro,
o espaço interior que nos mantém.
falo de uma certa luz, que me acompanha ao longo da vida, que descobri na infância, por isso infinita, de contrastes, aberta, fresca da cal das paredes, quente em descampado.
Um sabor de possibilidades em descoberta na mente e na boca.
Ruído de andorinhas.
Escadas de xisto enceradas.
Labirinto de Mouros.
Travessas empedradas de esquinas pouco direitas, permitindo recantos de infinitos amores.
As vestes negras, sem adornos, das senhoras de meia idade como convém ao luto permanente dizem as saias consentidas.
O desgosto não se tapa com nada, mas é engolido como se pode em goles de grandes tragos.
Os receios que sobram, são restos enrolados em lenços de imaculado fino pano branco.
As dores caladas, partidas aos pedacinhos, para que não digam.
Vejo rugas na cara, caminhos por onde a água, o suor e as lágrimas escorrem.
o olhar de histórias, de quem as viveu.
Mas onde nem tudo é possível outra vez.
Dispersa em pensamento sou chamada à realidade, no tempo do fique em casa pela sua saúde.
Mas a minha saúde precisa é de Sol e Ar, de outra forma morro de vez.
Venha é figos doces e melão maduro que pode ser!
o espaço interior que nos mantém.
falo de uma certa luz, que me acompanha ao longo da vida, que descobri na infância, por isso infinita, de contrastes, aberta, fresca da cal das paredes, quente em descampado.
Um sabor de possibilidades em descoberta na mente e na boca.
Ruído de andorinhas.
Escadas de xisto enceradas.
Labirinto de Mouros.
Travessas empedradas de esquinas pouco direitas, permitindo recantos de infinitos amores.
As vestes negras, sem adornos, das senhoras de meia idade como convém ao luto permanente dizem as saias consentidas.
Ao escurecer os colares, ao amanhecer os calores.
Os lenços na cabeça encobrindo os brancos e a proteção pedida.
O que tapa o frio tapa o calor já me dizia o meu avô de samarra ao ombro inverno e verão.O desgosto não se tapa com nada, mas é engolido como se pode em goles de grandes tragos.
Os receios que sobram, são restos enrolados em lenços de imaculado fino pano branco.
As dores caladas, partidas aos pedacinhos, para que não digam.
Vejo rugas na cara, caminhos por onde a água, o suor e as lágrimas escorrem.
o olhar de histórias, de quem as viveu.
Mas onde nem tudo é possível outra vez.
Dispersa em pensamento sou chamada à realidade, no tempo do fique em casa pela sua saúde.
Mas a minha saúde precisa é de Sol e Ar, de outra forma morro de vez.
Venha é figos doces e melão maduro que pode ser!
segunda-feira, 18 de maio de 2020
A caminho
Movida pela abertura dos restaurantes, e a esperança dos exageros de degustação comidos e bebidos que chegarão a passos largos daqui a dias, só havia algo a fazer e a ter que começar hoje, caminhar.
Lá me enchi de atitude, equipada com a minha T-shirt para rir, recordar, digerir, e introduzir - Corpinho Danone Power, um bom par de ténis que o meu calcanhar é mesmo como o de Aquiles, e o podómetro para contabilizar passos e não haver batotas.
Longe dos ideais 10 000 passos aconselhados fiquei hoje nos 3000 para primeiro dia, mais escadas. Amanhã é a dobrar, e o mais difícil como em tudo na vida, manter.
Acabou o elevador.
A subir as escadas vi que o meu caso era mesmo grave, não tanto por custar a subida mas por constatar a notória diferença entre o meu patamar de entrada e o dos outros. Vi que nuns deixam sapatos à porta, outros bancos para ajudar a despir roupa e casacos, outros flores, outros os despojos dos dias de quarentena. A minha entrada tem garrafas de vinho a aguardar vidrão, patins que não vão a uso faz muito e a bicicleta dos pneus vazios. Os cheios estão na minha barriga a caminho da taça michelin.
Sem mais desculpas, mesmo com o horizonte de fazer praia hipotecado, agendas ainda vazias e os vestidos de noite fechados num armário sem chave.
Toca a mexer. Pilha na balança. Falar ao espelho que as medidas digam por si.
E muita água, não, o vinho não pode ser a melhor bebida do mundo Rita!
domingo, 17 de maio de 2020
Os sabores perdidos
Praia das Maçãs, 17 de um Maio em Covid
Finalmente o mar.
Sempre tive alguma sorte em ocupar as coisas únicas.
Encontrei assim vazia, à minha espera, a única mesa de madeira e banco corrido junto ao alpendre sobre o mar.
Cheira a maresia, aqui o mar é de verdade por isso escolho este.
Apetece percebes, mexilhões e espuma de branco fresco.
Não se ouvem as ondas de forma nítida. O mar também silenciou.
- Já não se ouve o mar? O que é que se passa? Pergunta um Sr. passeante em chegada ruidosa como todos. Larga no entretanto bafos de cigarro admirado, e eu que aguente.
Passa que nos sobra ruído. Os motoqueiros de passeio domingueiro são uma peste sem remédio.
Mas enquanto o inferno forem os outros ainda será um mal menor.
Foram meses de espera. A sentir o mar em goles secos. Enlatado.
Falta-nos a brisa, o sabor, o cheiro e o tacto.
A maioria não morrerá de Covid, mas do confinamento.
A precaução também mata.
Hoje foi poder olhar. Tomar Sol.
Anseio mergulhar. Sem metros loteados. Sem prazeres limitados. Quando largamos os prazeres, adoecemos.
Ligar as sensações ao coração.
O que nos une, sempre será mais forte que o medo que nos separa.
A pele branca e balofa precisa arejar.
O mar sem barcos, mas muitos pássaros sem nome.
Alguns selfistas, de mastro em punho a escolher o melhor ângulo.
Um pescador de cana em linha.
O motor de um jipe descapotável, cheio de meninos de kit como convém, calções padronizados, polo desbotado, sapato de vela, aliança no dedo e fio da cruz ao pescoço. Falam alto que a auto -estima nestas bandas nunca faltou, escolhem o sitio da pesca submarina.
Eu de olhar longe, a absorver, as emoções, o que nos liga ao primordial, o centro primitivo do nosso Ser, que existe em nós muito antes do dever racional do fazer e do ter.
Regresso a Lisboa com as cores do mar nos olhos.
Consigo um peixe de verdade para o almoço na tasca da esquina. Tudo é um luxo em tempo de clausura.
Voltarão os sabores perdidos. Guardarei todos. São os melhores condimentos dos meus vazios.
sábado, 16 de maio de 2020
As mulheres de Maio
Paciente, mas Santa nem tanto.
Não se consegue fazer nada agora sem perder um tempo infinito. Ir às compras, banco, correio, farmácia, atenta contra mim.
Falta espaço nas cidades para tanta régua.
Tudo a sair das gaiolas bafientas. Mas a medo.
Caminho de suspiro em riste. Irritada, com as luvas descartáveis que se rasgam nos fechos da carteira, do casaco, da mochila. Que implicam também com guarda-chuvas e os metros entre eles, que agora para ajudar chove o Abril.
- Menina, olhe a distância de segurança!
- De menina nada, deve estar a ver pior que eu! Segurança?...Também queria.
Já larguei os óculos, pitosga mas menos embaciada. Ver se consigo apanhar Sol quando destapa, que fique algum espaço de cara a descoberto. Que a praia, vamos ver Maria. Olho incrédula, afinando o foco da objetiva ocular,...os passeios cobertos de montinhos brancos. De neve nada, só pode ser Sal.
Mas se isto é uma rua,...não as salinas do Samouco.
A natureza, que nos mantém mesmo assim resiste, e insiste em rebentar em muros de forma espontânea que nós de seguida encharcamos de sal para secar. Sal que tempera vidas, e que em demasia a mata. Por isso a importância do q.b. (quanto baste).
Quanto baste para saber que sempre houve tanta morte no mundo, diária e sem tabelas. Fome num mundo que não saciará, mundo que nunca parou como agora. Fome de alimento para o corpo e para a Alma. De quantos Kg/s de Sal precisaremos ainda para o desperdiçar sem medida.
Morreremos da cornada de um grilo.
Nunca estivemos tão limpos.
- Segurança? disse eu.
Como se a palavra, primeira e última fosse nossa.
Maria, concebida sem pecado,...não nos deixei cair em tentação, rogai por nós.
quinta-feira, 14 de maio de 2020
Faz uns anos, saindo do metro a caminho do trabalho, de bolso e coração vazio,
tive um pensamento:
Vou olhar para o chão,
Sempre se encontra
o que necessitamos
se estivermos atentos!
Vou olhar para o chão,
Sempre se encontra
o que necessitamos
se estivermos atentos!
depois de andar uns metros, na porta do trabalho vejo uma Nossa Senhora tombada. Cor-de-rosa e transparente. A Nossa Senhora do Amor pensei. Fiquei sem saber o fazer, pois já não era na época assim tão católica...mas uma Nossa Senhora é sempre uma Nossa Senhora e não a podia deixar ali no chão estendida.
Agarrei nela e levei comigo com cuidado e respeito.
Está até hoje no meu quarto.
Sempre pensei que um dia com a sua graça um milagre.
Ontem, 13 de Maio, dia de Nossa Senhora.
Um encontro fez-me acreditar.
terça-feira, 12 de maio de 2020
Sabor a mim
Habito neste corpo faz 47 anos, quase meia centena.
Sei que serei mais os dias da primeira metade, com o sabor da Saudade.
A infância de dias bonitos em horizontes longínquos de céu aberto.
Mudar as vacas nos campos de esteva e rosmaninho, na cabeça uma gorra, na mão a vara, nos pés as botas caneleiras, preparada para tudo.
Ir buscar água na fonte fresca da Pipa.
Os cabelos despenteados de quem vive.
O Ar na cara.
Os passeios de bicicleta em verão sempre azul.
O calor que era brasa nas tardes de filmes de cowboys americanos, corridas de touros, o mundial, ou os jogos sem fronteira.
Os primeiros copos de muitos tintos de verano com pata negra.
Os tachos cheios, com tudo o que era selvagem e bom, cogumelos, espargos, perdizes e alcachofras como nunca mais.
As braseiras no inverno, a jogar ao Loto com feijões.
O olhar encantado nos botões coloridos. Entender o que está dentro de um berlinde.
O cheiro do pão de verdade nos talêgos de pano. Os bolos de páscoa, com sabor a erva doce, o café de saco.
O Amor único dos meus avós.
O reboliço nas ruas de sobe e desce de Barrancos.
O jantar de todos, peixe frito com gaspacho.
As casas abertas onde se grita EH!! e se entra sem bater.
Os mercados de Sábado a encher alcofas e encontros calorosos e risonhos, aqui permito e sou a Ritinha.
A frieza escura das paredes longas do colégio, que me fizeram entender cedo na pele a diferença entre Luz e Sombra.
Depois consegui e dei grito de ar fresco e tenro da liberdade.
A juventude como se não houvesse amanhã.
Os amores quando ainda eram eternos.
As calçadas de Évora, que se as pedras falassem.
As músicas em cada concerto, os passos de dança em colunas de discotecas cheias ou vazias mas eu nelas e elas ainda em mim.
A amizade sem barreiras, o toque na pele, os abraços sentidos, os beijos molhados, o encanto no Belo.
Sei que serei mais os dias da primeira metade, com o sabor da Saudade.
A infância de dias bonitos em horizontes longínquos de céu aberto.
Mudar as vacas nos campos de esteva e rosmaninho, na cabeça uma gorra, na mão a vara, nos pés as botas caneleiras, preparada para tudo.
Ir buscar água na fonte fresca da Pipa.
Os cabelos despenteados de quem vive.
O Ar na cara.
Os passeios de bicicleta em verão sempre azul.
O calor que era brasa nas tardes de filmes de cowboys americanos, corridas de touros, o mundial, ou os jogos sem fronteira.
Os primeiros copos de muitos tintos de verano com pata negra.
Os tachos cheios, com tudo o que era selvagem e bom, cogumelos, espargos, perdizes e alcachofras como nunca mais.
As braseiras no inverno, a jogar ao Loto com feijões.
O olhar encantado nos botões coloridos. Entender o que está dentro de um berlinde.
O cheiro do pão de verdade nos talêgos de pano. Os bolos de páscoa, com sabor a erva doce, o café de saco.
O Amor único dos meus avós.
O reboliço nas ruas de sobe e desce de Barrancos.
O jantar de todos, peixe frito com gaspacho.
As casas abertas onde se grita EH!! e se entra sem bater.
Os mercados de Sábado a encher alcofas e encontros calorosos e risonhos, aqui permito e sou a Ritinha.
A frieza escura das paredes longas do colégio, que me fizeram entender cedo na pele a diferença entre Luz e Sombra.
Depois consegui e dei grito de ar fresco e tenro da liberdade.
A juventude como se não houvesse amanhã.
Os amores quando ainda eram eternos.
As calçadas de Évora, que se as pedras falassem.
As músicas em cada concerto, os passos de dança em colunas de discotecas cheias ou vazias mas eu nelas e elas ainda em mim.
A amizade sem barreiras, o toque na pele, os abraços sentidos, os beijos molhados, o encanto no Belo.
A leveza dos momentos na praia a ler até que apeteça, boiar no mar, o sono na água.
As horas entretida num passado e presente sem medo, esse papão gigante que comeu todos, chegou sem alvoroço e se instalou sem pedir licença.
Não mais o Coliseu, as enchentes no balcão do Gambrinus, as ruas cheias de Lisboa, as travessas de beleza decrépita em Tertúlias de Poesia, as inaugurações acotoveladas nos museus. A rua mais cor de rosa desbotou de vez.
- Não mãe, já morreu, não volta a nascer! - diz a Carminho na sua sabedoria madura com a minha insistência a olhar o vaso cheio de Hera seca. A Hera, a resiliente trepa caminhos, mas também com direito a fragilidades e à morte. Processo natural. O que falha aqui é apenas a minha teima da aceitação.
Tudo muda. Será a nossa única certeza.
As horas entretida num passado e presente sem medo, esse papão gigante que comeu todos, chegou sem alvoroço e se instalou sem pedir licença.
Não mais o Coliseu, as enchentes no balcão do Gambrinus, as ruas cheias de Lisboa, as travessas de beleza decrépita em Tertúlias de Poesia, as inaugurações acotoveladas nos museus. A rua mais cor de rosa desbotou de vez.
- Não mãe, já morreu, não volta a nascer! - diz a Carminho na sua sabedoria madura com a minha insistência a olhar o vaso cheio de Hera seca. A Hera, a resiliente trepa caminhos, mas também com direito a fragilidades e à morte. Processo natural. O que falha aqui é apenas a minha teima da aceitação.
Tudo muda. Será a nossa única certeza.
Não se regressa, mas ficou em mim.
Felizes os convidados, mas para que Ceia Senhor?
quarta-feira, 6 de maio de 2020
domingo, 3 de maio de 2020
sábado, 2 de maio de 2020
Condenados
tenho uma certa dificuldade em aderir ao uso da máscara,...retira-me o último elo de ligação, o sorriso.
Sem toque, abraços, beijos, sorrisos,
Sem toque, abraços, beijos, sorrisos,
o olhar de medo semi escondido,
acho difícil o termómetro subir de afectos
vamos gelar,
adoecer por excesso de zelo,
ninguém é um ilha.
De pontes fechadas nunca nos salvaremos,
lastimo o mundo mecânico que se instalou.
vamos gelar,
adoecer por excesso de zelo,
ninguém é um ilha.
De pontes fechadas nunca nos salvaremos,
lastimo o mundo mecânico que se instalou.
A defender burcas.
Prisões domiciliárias de escassos metros em espaço finito, bafientos, porque os T2 abundam com marquises sem graça, respiro, sem jardins nos pés e varandas soalheiras ou piscinas de olhares infinitos.
Falta ar, sol, contacto, as coisas essências para sobre -viver.
Morreremos, antes ou depois de desobedecer.
Morreremos, antes ou depois de desobedecer.
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