Sabemos de que matéria somos feitos, mas demora uns longos caminhos de pedra e outros atapetados.
É investir em bons sapatos e mesmo assim muitas vezes tropeçamos.
Um dia sem querer afinamos, a lucidez vem à cabeceira, somos tempo maduro, depurado, pronto para ser colhido e saboreado. Não engolido à pressa em ambientes descartáveis. A essência pode não ser recomendável e higiénica. Imprópria para digestões. A verdade é crua.
Os escombros sempre me despertaram curiosidade.
O perfeito não existe, além de ser monótono é outra deformação da realidade.
Gosto de sentir as subcamadas. Esquizofrénicas. Ver o que está dentro, debaixo. Polidos os cumes, aceitamos as deformidades. Vão-se encaixando em ajuste certeiro, completo na nossa estrutura final.
Lembro-me sempre da Clarice que dizia:
"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta o nosso edifício inteiro."
E o nosso edifício inteiro fala por nós.
Quem gosta, ama, sem precisar de nos ver no nosso melhor. Gosta porque somos imperfeitos e únicos.
É esta leveza da liberdade do Ser que se adquire, que compensa e contrabalança a rigidez física e mental obtida. E não a desconstrução de quem somos afinal. Nunca completos, mas plenos. Cada ruga leva tempo e a cicatriz tem raiz. Isto dá algum espaço. A patine dos desastres nos caminhos. Batidas de frente. Não são precisas tatuagens extra. Gosto de envelhecer, porque cada dia da minha vida foi intensamente saboreado.
Para quando nos olharmos nos muitos espelhos temporais que atravessamos, não vermos a versão em série cinzentinha.
Muitas histórias até aqui. Nunca sabemos onde começa uma e a volta que enreda na seguinte. Talvez no fim se entenda o labirinto se descobrirmos o caminho de saída ou quem sabe nunca pegue com a porta da entrada.
Apesar de esforçada, o meu relógio como o de Dalí derreteu, só serve para a hora mágica.
- Não Alice, nem sempre, nem nunca!
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